21.10.12

Conheces?

Gustav Klimt "Couple in Bed"




Quem é a pessoa com quem te deitas?
Conheces?

Não, não te lembres da pessoa que conheceste quando ambos eram jovens.
Aquela pessoa divertida, adorada por todos os vossos amigos e que enganava todos com a sua simpatia. Que fazia todos acreditarem no quão perfeita era a vossa união.

Não penses na pessoa com quem casaste, porque tu o quiseste, num dia de alegria e de esperanças imaculadas. A mesma pessoa que te saciava na cama sem te prometer amor mas que preferias iludir num cenário de romance.

Não, não penses muito nessa pessoa porque, essa pessoa, pode já não existir. Porventura, poderá nunca ter existido para além das fronteiras do teu pensamento. Construíste uma imagem do que querias, legitimamente, ter e vestiste-a na pessoa que encontraste num momento oportuno da vida.
Sim, podes também ter responsabilidades nisto. A pessoa com quem te deitas era outra e tu, por cegueira de paixão, revestiste-a de todas as coisas boas que almejavas mas que, essa pessoa, nunca havia de ter.

Não te questionas sobre quem é agora a pessoa com quem te deitas?
Não tens curiosidade de saber onde está a pessoa por quem te apaixonaste?

A pessoa com quem dormes hoje é a mesma desses tempos mas, já nesses tempo, ela tinha coisas que não querias ver. Escondeste coisas para não sofreres.
Pela época da vossa felicidade essa pessoa já nem queria casar mas nunca o soube dizer. Nunca quis ter descendentes porque nunca sequer o tinha equacionado. Provavelmente amaldiçoou os dias em que nasceram os filhos de ambos.
Essa pessoa, de quem guardas a ideia de que amas, já era a mesma que nunca te iria elogiar a beleza, os feitos e as virtudes. Que nunca pararia para cumprir o seu papel numa família, na sociedade, no emprego ou entre amigos. Já era a mesma pessoa que gostava da mentira, da traição e da violência.

Ainda te lembras da pessoa com quem casaste, aquela com quem dormes?
Não encontras, lá atrás, sinais da pessoa que é hoje?
Não te lembras daquelas sombras e daquelas dúvidas que te assaltavam mas fazias por esquecer?
“Amanhã vai ser diferente” – Pensavas sempre o mesmo.
Mas não mudou nada, pois não?
Pior: Já não tens forças nem encantamento para lhe cobrir os defeitos com o manto das virtudes, pois não?
Nunca, em todo este tempo, te passou pela cabeça que essa pessoa nunca mudaria?
Tinhas fé em quem? Em quê?
Que essa pessoa se transformasse ou que tu te acostumasses?

Hoje, quando te deitares na cama, olha para o teu lado e vê bem a pessoa com quem dormes e pergunta-te: “Será que posso voltar atrás e começar tudo outra vez?”.



10 comentários:

  1. Este quadro faz-me lembrar outro que tenho na sala.

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    1. Não precisei de dois segundos para saber do que falas :)
      Bjs

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    2. Também facilitei. Ainda pensei escrever só "Este quadro faz-me lembrar outro que tenho". Será que chegavas lá?
      Bjs

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    3. A genética meu caro... a genética.
      Podias nem ter dito nada.
      Beijos

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  2. Procuro palavras, mas não as encontro. Não sei que escrever.

    R.

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  3. Este quadro é comum a muita gente. A mim, assenta-me como uma luva...

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    1. Curiosamente, a mim não.
      Mas retratei uma situação que conheço de perto e me aflige.
      E do que vejo, pode viver-se assim por muitos e largos anos... mantendo um sorriso no rosto.
      Existem mesmo muitos caminhos para a "felicidade".

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  4. Brutal. Felizmente não me assenta. A pessoa com quem durmo tem-se revelado melhor do que era quando o conheci :) (e não, não foi ontem. já passaram 20 anos...)

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    1. Isso é aquilo que todos desejaríamos ter.
      Eu ainda tenho esperança que aconteça :)

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