No mesmo dia em que tive a breve constatação de que "os meus 25 de Abril" não dão em nada, ainda aprendi umas quantas lições sobre o que pode ser isso de cada um fazer o seu 25 de Abril.
Logo depois de me ter lamuriado, saí do trabalho cedo - empenada pela falta de motivação - e peguei no carro convicta de que iria imediatamente para casa. Mas, pelo caminho, lá me lembrei daquele exame que ando para marcar há meses e que, por mera preguiça andava a adiar. E por isso lá me arrastei até à clinica para o marcar. Quando entrei vi a senhora do costume, com a sobranceria do costume, com a simpatia do costume, com os óculos na ponta do nariz como de costume. E esperei pela minha vez, como de costume, porque se há coisa que existe naquela casa são regras para os pacientes cumprirem. Mas nisto, sem tempo sequer de ver que lugar havia disponível, ouço uma voz detrás do balcão a chamar-me. E nem sequer estava na minha vez. Pensei, como mulher extremamente optimista na humanidade que sou, que já ia levar uma ripada. Mas não. Um jovem funcionário chamou-me de sorriso no rosto, perguntou-me em que podia ser útil, eu expliquei ao que ia, e o rapaz teve a amabilidade de me chamar a atenção para um erro na credencial que me faria pagar 1100% mais pelo exame. A colega, aquela que tem a atitude do costume, fitava-o pelo canto do olho. E a mim também. Certamente recordará o dia em que lhe pedi o livro de reclamações.
Eu agradeci a atenção, e prometi voltar com a credencial corrigida.
Já que estava numa de tratar do assunto, dirigi-me de imediato ao centro de saúde para auferir a possibilidade de alterar a dita credencial. Quando entrei, ao contrário da clinica privada, a sala de espera estava vazia e num silêncio absoluto. Talvez o facto de no privado se pagar 3,90€ por uma consulta em vez dos 5€ do público tenha influência, digo eu...
Atrás do balcão, estava apenas uma senhora gorda, entalada entre os dois braços de uma cadeira, e com o olhar fixo mas perdido no ecrã do computador. O meu "boa tarde" não a fez pestanejar. Insisti: "boa tarde!".
Atrás do balcão, estava apenas uma senhora gorda, entalada entre os dois braços de uma cadeira, e com o olhar fixo mas perdido no ecrã do computador. O meu "boa tarde" não a fez pestanejar. Insisti: "boa tarde!".
- "Oh, boa tarde, desculpe, estava distraída".
- "boa tarde".
- "Em que posso ajudá-la?"
E a partir daqui não foi outra coisa que não extremamente simpática, atenciosa, disponível e útil. O problema foi resolvido em cinco minutos e eu vim, efetivamente, satisfeita.
Imbuída de tanta boa-disposição, de tanta alegria, perdi a vontade de ir logo para casa amargurar a cabeça na almofada e enfardar um pacote de aperitivos salgados. Decidi ainda parar no supermercado do bairro para comprar um queijinho fresco "que bem que me vai saber comer antes um queijinho fresco!". E lá fui, de andar leve e solto, em busca do dito queijo. E quando eu estava de mão esticada para resgatar um dos queijos da estante, passou-me nada mais, nada menos, que uma osga pelos pés. E eu pensei "fod*-s*...".
E não comprei o queijo.
Ao sair pela caixa do supermercado de mãos a abanar e de constrangimento na cara, a funcionária, que nunca me viu nem eu a ela, exclamou entusiasmada: "obrigada na mesma e até à próxima!". E eu pensei para comigo, que aquela miúda simpática já me tinha feito valer a ida àquele sítio.
Como se isto não me fizesse já pensar na vida e na atitude que decidimos ter perante ela, e nas lutas que decidimos travar, por vezes apenas contra nós, não resultando daí nenhum efeito positivo para o colectivo, eis que na manhã seguinte ainda me são abertos os olhos, só mais um bocadinho.
Uma cliente pergunta-me:
- "Em vez do livro de reclamações à vista posso ter antes o livro de elogios?"
Ao que eu ainda perguntei:
- "Mas existe livro de elogios?"
(E ouvi na minha cabeça: "Pumba, vai buscar! sua atrasada mental que nem sabias que existe livro de elogios e pensas que são todos uns deprimidos como tu. Always LOok on the bright side of life...")
O que há a reter disto? Que eu me foco nas coisas erradas mas há quem se foque nas coisas certas. Que há quem faça os 25 de Abril todos os dias, de forma consciente ou não, apenas para si ou envolvendo os outros mas usando sempre os cravos como arma. Esta pessoa, sem saber, fez uma revolução dentro de mim sem tiros (que era o que eu instintivamente faria): deu-me paz interior.
Como se isto não me fizesse já pensar na vida e na atitude que decidimos ter perante ela, e nas lutas que decidimos travar, por vezes apenas contra nós, não resultando daí nenhum efeito positivo para o colectivo, eis que na manhã seguinte ainda me são abertos os olhos, só mais um bocadinho.
Uma cliente pergunta-me:
- "Em vez do livro de reclamações à vista posso ter antes o livro de elogios?"
Ao que eu ainda perguntei:
- "Mas existe livro de elogios?"
(E ouvi na minha cabeça: "Pumba, vai buscar! sua atrasada mental que nem sabias que existe livro de elogios e pensas que são todos uns deprimidos como tu. Always LOok on the bright side of life...")
O que há a reter disto? Que eu me foco nas coisas erradas mas há quem se foque nas coisas certas. Que há quem faça os 25 de Abril todos os dias, de forma consciente ou não, apenas para si ou envolvendo os outros mas usando sempre os cravos como arma. Esta pessoa, sem saber, fez uma revolução dentro de mim sem tiros (que era o que eu instintivamente faria): deu-me paz interior.
Não sei se já perceberam onde quero chegar com isto.
Cada uma destas pessoas teve a capacidade de revolucionar, à sua maneira, o meu dia. Não interessa se era o meu dia, poderia ter sido de outra pessoa qualquer. Conseguiram fazer a diferença na vida, ou num pequeno momento do dia, vá, de alguém. Quando eu estava convencidíssma que isto de andar a travar lutas sem balas já não estava a dar nada, cruzo-me com estas quatro pessoas, que me provam que as lutas se travam com bons estados de alma. É a tal teoria do copo meio-cheio ou meio-vazio.
Levei ali uma lição de todo o tamanho, foi o que foi.
E ainda bem que estava desperta, aceitei os sinais, compreendi o que se estava a passar e, em vez de me convencer de que sou sempre eu que estou certa, abri o peito e a mente e deixei que Deus brincasse comigo e mostrasse que há outros meninos no parque com brincadeiras mais giras que a minha.
E talvez sim, talvez, o 25 de Abril se faça todos os dias nas pequenas coisas, coletivamente ou pela vontade individual de cada um. Mas tenho a certeza que se faz.
A minha grande questão é: Que tenho feito eu de útil, e com impacto positivo na vida dos outros e na minha, com os meus 25 de Abril?
Cada uma destas pessoas teve a capacidade de revolucionar, à sua maneira, o meu dia. Não interessa se era o meu dia, poderia ter sido de outra pessoa qualquer. Conseguiram fazer a diferença na vida, ou num pequeno momento do dia, vá, de alguém. Quando eu estava convencidíssma que isto de andar a travar lutas sem balas já não estava a dar nada, cruzo-me com estas quatro pessoas, que me provam que as lutas se travam com bons estados de alma. É a tal teoria do copo meio-cheio ou meio-vazio.
Levei ali uma lição de todo o tamanho, foi o que foi.
E ainda bem que estava desperta, aceitei os sinais, compreendi o que se estava a passar e, em vez de me convencer de que sou sempre eu que estou certa, abri o peito e a mente e deixei que Deus brincasse comigo e mostrasse que há outros meninos no parque com brincadeiras mais giras que a minha.
E talvez sim, talvez, o 25 de Abril se faça todos os dias nas pequenas coisas, coletivamente ou pela vontade individual de cada um. Mas tenho a certeza que se faz.
A minha grande questão é: Que tenho feito eu de útil, e com impacto positivo na vida dos outros e na minha, com os meus 25 de Abril?
E pronto... fica um apontamento de humor... para amainar a cena.
[E não, fiquem descansados, que eu não vou dizer que o 25 de Abril é como o Natal,
O 25 de Abril está dentro de nós :D
ResponderEliminarBj
Era a frase que faltava.
EliminarÉ isso mesmo e eu não consegui resumir dessa maneira.
Obrigada.
"Que tenho feito eu de útil, e com impacto positivo na vida dos outros..." "... com os meus 25 de Abril?" Quanto aos outros não sei, quanto a mim ter a possibilidade de ler os seus textos, é coisa de grande utilidade e causa um impacto positivo na minha vida, afinal, tudo o que gostamos de fazer causa um impacto positivo na nossa vida e já agora aproveito para lhe dizer que aquela "Letargia" que me deu a conhecer, já a li aí umas dez vezes, como vê acontecem por aqui grandes impactos.
ResponderEliminarMuito obrigada Cláudia.
EliminarEu, como sou daquelas pessoas que precisa da validação dos outros, agradeço este afagar de pêlo que meu.
Fico grata por gostar e, mais que tudo, por poder fazer alguma diferença nos seus dias.
É bom fazermos ou fazerem-nos essa revolução!
ResponderEliminarJá usei o livro de elogios uma vez. Deu-me uma trabalheira enorme porque não está disponível facilmente como o das reclamações. Os elogios só podem ser escritos depois de muita espera e algum espanto, pois que só os "grandes chefes" é que podem trazer até nós esse livro da salvação. (Pelos vistos tem influênica na avaliação dos funcionários...)
Beijinhos Marianos, DC, e viva(m) o(s) 25(s) de Abril! :)
Eu nem nunca vi um livro de elogios, nem como elogiadora nem como elogiada.
EliminarO que é grave.
Em ambos os casos :)