Nem sempre pude fazer e dizer o que me apetecia. Ainda hoje é assim, mas deixei de aturar certas cenas, é bem verdade. No entanto há um milhão de outras coisas às quais não me consigo esquivar. Honestamente, nem sei se quero. A sensação de que posso fugir a determinadas inevitabilidades, trás-me sempre o sabor do falhanço e da falta de vontade. E eu, de mau génio formado, recuso-me a entregar-me às lamúrias apenas porque alguém não quis participar de uma solução apaziguadora. Já o disse antes, e repito as vezes que forem necessárias, que eu sou aquela que não se importa de entregar as armas, aquela que diz amo-te com sentimento independentemente das vezes que é dito, sou aquela que não se importa de pedir perdão mesmo tendo a razão do meu lado, se isso for necessário para alcançar a paz. No fundo, só não sou orgulhosa. No fundo, no fundo, não contribuo para afundar mais as coisas quando elas já estão mal. Não sou sádica. Não percebo o interesse de se ser filha-da-puta quando já há filha-da-putice que chegue.
Por isso tenho aquela postura de não me entregar. De não me vergar nem ceder a momentos eminentemente trágicos. Eminentemente trágicos porque alguém assim o quis e não fez nada para o alterar. Parece rigidez. Parece insensibilidade. Parece autismo. Parece egoísmo. Acredite-se, ou não, é apenas complacência e respeito pelos outros. Eu não sou aquela que gosta de estragar festas. Eu sou aquela que, quando os balões rebentam, larga gargalhadas e se apressa a apanhar os restos de plástico, para ver se ninguém ouve o estoiro e se apercebe do sucedido. Hipocrisia? Um pouco talvez... e daí? Não é preferível do que meter mais lenha na fogueira e mostrar o quão doloroso e sofrido foi ter rebentado um balão. Há que ser prático. Há que ser pragmático. Há que saber avaliar os danos e perceber como é que, rapidamente, se recupera o fôlego e se colam os cacos. Não vale a pena chorar. Tem de se reagir. Não vale a pena fugir. Há que enfrentar.
Eu não me vou entregar nunca ao dramatismo que provem e se instala na cabeça das pessoas. Prefiro pensar que morri a tentar e a reagir, do que padecer a lamentar-me por não ter sido reactiva. Agora, vamos concordar numa coisa, o que não vale é existirem três pessoas a rebentar balões e apenas uma a tentar remediar a situação. Nunca se venceram batalhas de três contra um. A proporção tem de se inverter em algum momento do processo.
Peço, por isso, o mesmo a todos desse lado: reajam, antes que o mundo vos tire o tempo que vos foi dado para o fazerem, porque esse... esse ninguém sabe quando acabará.
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