Estou a ficar farta desta vidinha de merda.
Acorda. Toma banho. Veste. Come. Lava os dentes. Penteia. Maquilha.
Aquece a marmita. Sai de casa. Entra no carro. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho.
Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Casa. De quando em vez,
supermercado. E a partir daqui é sempre mais do mesmo entre limpar, cozinhar,
arrumar, ler, escrever, sofá, net, televisão.
Que vida fixe que tenho levado até aqui, hein?!
Foda-se.
Agora estou no trabalho (sim, estou a dar prejuízo ao patrão) e nem
estou com a consciência pesada porque, na verdade, o que me apetece é ir embora
e amanhã já não voltar. É uma desgraça quando se vive assim. Quando se chega ao
ponto em que isto já não faz sentido nenhum. Quando nem pelo dinheiro se
trabalha porque, esse filho-da-puta do dinheiro, perde-se no dia em que se
recebe. O filho-da-puta do dinheiro dura entre 24 a 48 horas mas eu tenho de
continuar a trabalhar todas as 168 horas dos respectivos 21 dias.
Eu, que sempre fui boa para falar da infelicidade dos outros
(porque, claro está, isto de mudar de vida é tão fácil e só não muda quem não
quer) vejo-me agora enredada na minha própria inércia. Eu não quero fazer o que
faço. Quero fazer outras coisas. Não quero ter patrão ou, então, quero ter um
patrão fixe, e não estou a conseguir encontrar a fórmula e o caminho para
chegar lá.
Às vezes (todos os dias) quando viajo pela net, acho sempre que toda
a gente tem uma vida mais porreira que a minha. E talvez tenham. A questão é
que eu não vejo qualquer vislumbre de infelicidade e de realidade na vida dos
outros. Só na minha. E quando se vive assim… Ai meus amigos, está tudo perdido.
A fé está perdida.
Queria eu ter a força, que acho sempre que os outros devem ter, para
mudar a minha própria vida. Agarrar nestas pernas e nesta cabeça e mudar de trajectória.
Foda-se, eu sou uma gaja que pensa. Que tem ideias. Que tem
capacidade de execução. Então falta-me o quê para me por a mexer?
Foda-se, não sei.
Mas que hoje estou cansada disto, estou.
Não se passou nada, nada contribuiu para que hoje se tornasse mais
difícil pensar nisto, mas há dias em que uma pessoa questiona o que anda cá a
fazer, que pensa mais na rotina, que se questiona sobre há quantas horas ou quantos
dias não se ri, que pára para pensar se vai ser esta merda desta monotonia a
vida toda.
Vai ser assim sempre? Ou até quando vai ser assim?
Depois volta-se a pensar no dinheiro (volta-se sempre) e lá
aterramos na vidinha medíocre que nos foi destinada. A pessoa até se convence
disso. De que é o destino. A culpa já não é nossa é do destino e das
circunstâncias da vida. Raspa-se o pensamento pelo euromilhões (isso é que
safava uma pessoa de uma vida de merda) e no segundo depois volta-se ao
pensamento de pobrezinho: “pois, não vai
sair o euromilhões – até porque não jogas – por isso tens de trabalhar nesse
sítio espectacular que não tem nada para te oferecer para além de horários e
obrigações em troca de zero orgasmos mentais”. Não se cria nada neste
filho-da-puta de trabalho. Não se inventa nada. Não se irá chegar a lado
nenhum. Mas a culpa nem é dos outros. É só minha.
Estou bem fodida comigo.
Nestes dias, em que parece que vou fazer uma revolução, fico ainda pior
porque sei que vou chegar ao fim do dia exactamente como o comecei: deitada na cama, a
olhar para o tecto, e a lamentar ser quem sou.
Sinto o mesmo, já gostei muito do meu trabalho, já vim para o trabalho feliz, sentia-me realizada, agora não, mas o raio da Inércia .....
ResponderEliminarTenho que mudar, seja o que for, senão fico louca.
Isto já parece quase o grupo de ajuda às Senhoras Donas Inércias :)
EliminarMas eu acho que o mal está mesmo na falta de impulso (ou coragem, sei lá) para mudar.
Para ter um daqueles dias em que se acorda e se volta as costas a tudo e se começa de novo.
Neste momento, nem fé que isso venha a acontecer tenho.
Passei a semana passada com crises de choro à volta desse tema. E uma das coisas que me custava mais era isso de achar que a culpa era minha, e o que eu queria era poder deitar a culpa fora por um bocado (porque isto da auto responsabilização constante cansa!) Queria achar (e acho) que nem sempre a culpa é nossa... acho que tenho uma imagem de sítio espetacular que nem sempre este país cumpre (profissionalmente falando, porque depois há paises em que se trabalha muito bem e a vida social é uma frustração, e se eu estivesse num desses sítios estaria a lamentar a falta de espírito que as pessoas altamente profissionais poderiam ter). A rotina mata uma pessoa, a rotina aliada à falta de dinheiro então é uma coisa que me deixa imensamente frustrada, mas há quem diga (e eu ainda estou para descobrir) que há uma certa fase na vida (exactamente esta que estou a passar) que é necessária para o que vem a seguir, que nos faz conseguir responsabilidade rigor horários limites blá blá para podermos cumprir a parte gira que vem depois disso. Só vou descobrir mais tarde. Mas nem todos os dias e todos os meses são iguais, varia muito, há alturas que me sinto mesmo bem, com um caminho e um propósito, outros que acho que sou uma triste e tenho pena de mim (também ouvi dizer que todos temos pena de nós próprios de vez em quando, mas nunca perguntei directamente a ninguém). E todas as pessoas com uma vida fixe na net tem problemas, aliás, quanto mais fixe a vida na net menos eu acredito.Tudo isto para dizer que estou contigo neste post, e que o ar está irrespirável há bastante tempo e isso faz-nos achar que não vamos a lado nenhum... nunca mais... Os outros mudam a vida, mas nós só sabemos dela volta e meia, não estamos lá todos os dias, todas as noites de chuva e vento (tipo a de ontem) a ver a melancolia deles hoje e a esperança amanhã. Acho que a vida é também as pequenas coisas aborrecidas do dia-a-dia, que não temos como fugir mesmo que mudemos para o melhor sítio do mundo. Mas eu sei que se não gostasse do meu trabalho nem dos colegas/patrão durante uns meses seguidos ia sofrer ulceras por todos os lados e ia acabar por ter de mudar (ou de trabalho ou de opinião)
ResponderEliminarAi Beatrixxxx,
EliminarNem sei que mais te diga porque as ideias estão mais que alinhadas entre nós.
Mas essa conversa de que temos de sangrar algumas coisas agora, para usufruirmos de outras mais tarde, não me convence.
Também já escrevi sobre isso algures em Agosto ou Setembro e a baralhação de ideias também era igual, o que só me leva a crer que não acredito mesmo que depois da tempestade vem a bonança.
Há-de vir qualquer coisa mas não deve ser a bonança.
Vamos trocando cromos e ver como estamos daqui a um ano.
you finally get to the checkout line's front, and pay for your food, and wait to get your check or card authenticated by a machine, and then get told to "Have a nice day" in a voice that is the absolute voice of death
ResponderEliminarThis is Water
(ler o teu post relembrou-me de imediato este excerto que, ainda hoje, o utilizei)
Ora beeeeemmm, este post era para pessoas deprimidas e com vidas pouco fixes.
EliminarTu não és dessas pessoas :) Que eu bem vejo!
Aliás tu és daqueles a quem eu vou dar uma espreitadela todos os dias para saber que existe um mundo lá fora, cheio de malas Prada, de viagens a Nova Iorque, e de passeios de bicicleta à beira rio como se vivesses em Paris.
Acredita neste bom conselho que eu te dou: Este sítio cinzento não é para ti :)))
Obrigada pela visita e pela citação.
Hei, dont judge a blog by his posts (não faz muito sentido esta adaptação, mas enfim).
Eliminartodos temos dias cinzentos. Ou dias em que pensamos que caralho de vida. Mas, há sempre um dia a seguir, não é?
Truste me, não tenho a vida fixe que gostava. Just a normal one. Como diria uma amigo meu, também levo, por vezes, o almoço para o trabalho.
Já me senti assim. como se os dias fossem todos iguais, em mau. Respira
ResponderEliminarNos meus ataques de realismo sei que é impossível viver todos os dias de maneira diferente e sempre em ascensão. Pelo menos para uma comum mortal como eu que dependerá sempre de um ordenado ao fim do mês.
EliminarMas quando estou fora desse estado realista (como actualmente tenho estado) até acho que posso sonhar e coisa acaba por correr, depressivamente, mal.
Querida amiga, que não vejo à tanto tempo! Perguntas tu, "Vai ser assim sempre? Ou até quando vai ser assim?", e eu cá te respondo com um pouco da minha realidade. - É como o Natal! - É quando o homem quiser! Só depende de ti! (e pensas tu: até aqui nada de novo, está para aqui este parvo a escrever estes bitaites!), mas na realidade é isso mesmo. Queres mudar, o único conselho que te posso dar é...faz um filho! Engravida... É a melhor sugestão que tenho no momento. E acredita, que mesmo sem ter nascido, e com tão pouco tempo de gestação, de rotineiro esta merda não tem nada. Antes era um pouco como tú. Foda-se, sempre a mesma merda! Estou farto disto... Preciso de "Mudança". Chegando ao ponto de mudar de qualquer coisa, apenas para haver mudança... de vida, de rotina, de hábitos, mudar os móveis da sala, para ver algo muda (e resulta, mas por pouco tempo), mudar o horário de entrada no trabalho, apesar o chefe não achar muita graça, mudar, mudar! Mas voltando ao cerne da questão... gravidez... filhos! Nem queiras saber o que tem sido. Nunca sabes o que vai acontecer quando acordas de manhã. Um enjoo, um desejo, um indespoisição, um cheiro, um médico, uma farmácia! Neste momento são tudo aquilo que faz com que o meu dia deixe de ser tudo menos rotineiro. E quando parece que está a voltar um pouco ao "normal" e a começar a ser como "antigamente", lá vem mais um pensamento... Será que tá bem? Será que precisa de alguma coisa? Não me posso esquecer de passar pelo Supermercado, porque ela pediu-me farinha de pau! Olha que a farmácia fecha às 19h! O que disse o Médico? Mais uma brochura para ler! O que vou fazer pró jantar... sem causar "danos"! É giro. É uma experiência, até agora brutal. Já a Mary não poderá dizer o mesmo (LOL). E o principal é que daqui para a frente, acredito que seja menos rotineira! Se desejares eu mantenho-te atualizada... ;)
ResponderEliminarP.S.- Comecei a escrever ontem, ao fim da tarde, ainda no trabalho, que como tu não me apetecia fazer um cara***, com a ideia de terminar depois em casa. Mas não pode ser bem como tinha planeado, como digo, apareceram mais 3 ou 4 coisas fora da rotina. Tive de terminar hoje, no trabalho, porque continua a não me aptecer fazer nada!
Então caríssimo, por onde tem andado.
ResponderEliminarIsto é que vai para aqui um testamento, hein? :)
Antes de mais, parabéns a ti e à tua muchacha pelo pequeno bigodes que aí vem.
Só espero que corra tudo bem e com menos enjoos daqui para frente.
E olha lá, tu enlouqueceste?
Desde quando é que ter uma criança anima a vida de alguém?
Vai-te benzer homem!!! :D
Não há-de ser para breve (nem sei se será algum dia) mas eu aviso se acontecer qualquer coisa do género.
Beijos aí para os lados da Lisbia.
(Leopoldo, Ludovico, Rodolfo, Hermegildo, Estanislau... tudo nomes distintos para darem ao gaiato. Pensem nisso :) )
Todos temos fases destas.
ResponderEliminarMas é mesmo preciso mudar quando se chega a este ponto.
Agora é a altura para estares atenta a tudo o que se passa à tua volta, e assim que a oportunidade surgir, piras-te.
Beijo grande,
Ana
P.S. Para quando o nosso café? Nós as duas estamos piores que a D. Inércia, falamos disto à um ano e ainda não marcámos nada. Vergonha!
Sou eu que ando armada em topeira e não tenho saído para lado nenhum nem estado com ninguém.
EliminarMas já te mando mail a dizer alguma coisa.
Beijinhos.
O mail ainda não chegou...
EliminarBeijo grande,
Ana
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ResponderEliminarAchei o máximo esse livro Vida do Caralho.