Crises de fé internacionais à parte, eu tenho vivido uma grande crise de fé por razões pessoais.
Tinha apostado todas as minhas fichas no ano que terminou e perdi-as. Todas. Como é que se recupera disso? Como é que se recomeça sem fichas para jogar?
Eu acredito em Deus e isto é logo um grande problema. Quando nos educam a acreditar em Deus, ensinam-nos a depositar esperanças numa coisa abstracta, em terceiros, e a confiarmos que as coisas se hão-de resolver de alguma maneira sem que tenhamos de interferir. O que não nos ensinam, é a aceitar o fracasso, a aceitar as falhas dos outros e a incapacidade de os outros nos resolverem os problemas.
Ora se eu acredito em Deus, e que Ele há-de saber tomar melhores e mais sábias decisões que eu, como é que poderei lidar depois com a Sua inoperacionalidade?
E dá-se a quebra de fé. De confiança, porque no fundo é isso, uma questão de confiança em algo que não se vê, não se conhece. Continuo a creditar em Deus, a acreditar que existe ali qualquer coisa que comanda isto tudo, mas, em perdendo-Lhe o sentido, não Lhe reconheço verdade ou utilidade. Ou seja, não consigo acreditar nas Suas boas intenções. Eu, que tendo a ver um propósito em tudo, mesmo nas coisas más que acontecem (aquela história da lição de vida para nos fazer aprender e crescer), ultimamente não consigo ver o propósito em Deus insistir numa mesma lição, vezes e vezes sem conta. Anos e anos a fio. Hei! Oh Deus, se me estás a ler ou a ouvir os pensamentos, só te quero dizer que cá em baixo a malta já percebeu a mensagem. Over and Out!
É o mesmo que meter um filho na escola e ao fim de quatro anos a professora só ter ensinado a letra A para ter a certeza que o menino aprendeu mesmo. Para garantir que ele sabe mesmo, mesmo, mesmo, o que é a letra A. Assim, de repente, não me faz sentido.
Neste momento, sem as tais fichas para jogar num momento de falta de fé, já não sei que jogo fazer. Se faço bluff, se roubo fichas aos outros para poder continuar, se desisto ou se demonstro um grande fair play e salto fora de sorriso no rosto e a dizer, "fica para a próxima".
Mas na vida há poucas coisas de que se possa desistir, muito menos coisas que aquelas que pensamos. E no meu caso nem há nada para desistir. Só se for de Deus que eu possa desistir. Será possível desistir de uma parte de nós? De uma parte que nos foi cosida na alma e nas entranhas? Ele estará assim tão acima de nós, e da fé que Lhe depositamos, que nem se digna a vir cá abaixo, fazer-nos acreditar, fazer algo de bom pelas pessoas que O inventaram e veneram, e mostrar de uma vez por todas que existe?
Se afinal Deus não é aquela entidade abstracta que nos acode nas horas incertas e não nos dá as respostas que precisamos, se não é a figura que me ensinaram que me amaria incondicionalmente e me viria sempre auxiliar em todos os momentos, pergunto eu: Afinal, quem é Deus?
Não depositando toda a confiança em qualquer ser supremo eu acho que mesmo assim é bom termos a esperança que algo mais existe e que a nossa existência não se resume só a isto.
ResponderEliminarFoi depois de ter passado por momentos muito difíceis, que passei a acreditar mesmo, que existe "uma entidade abstracta que nos acode", senti-me munida de uma força que nem imaginava que tinha e uma sensação de amparo vinda não sei de onde e a esse não sei de onde, gosto de chamar Deus. Talvez para termos "as respostas que precisamos" seja preciso primeiro, fazermos as perguntas certas.
ResponderEliminarJesus, foi oficialmente morto por se dizer "filho de deus". Na realidade foi morto porque ousou denunciar toda a podridão dos sacerdotes e doutores da lei. Para se entrar no templo tinha que se pagar um determinado valor. Mulheres e crianças não podiam entrar. Só homens e rapazes a partir dos 12 anos de idade. Isto entre muitas outras barbaridades praticadas a mulheres, doentes, velhos, etc, etc, etc. Ora, se nas escrituras se lia que Deus é nosso pai, então todas as crituras à face da terra eram seus filhos não devendo por isso haver qualquer tipo de distinção entre eles. Jesus também não negou ao Pilatos que era rei, porque de facto ele era rei e senhor de si mesmo, da sua forma de pensar, ser e estar. Era isto, apenas e só isto que Jesus queria dizer e que na altura e ao longo de todos estes anos, sacerdotes e "doutores da lei" adulteram. Isto tudo para lhe dizer o seguinte: a força, a vontade tem que vir de dentro de nós. Nós somos Deus, Reis, Senhores da nossa própria vida. Deixar de ter fé em nós mesmos é a nossa própria morte e, se efectivamente houver uma "entidade superior" ela nada poderá fazer se desistirmos de nós mesmos.
ResponderEliminaruma vez achei que estava a morrer e arrependi-me muito de não ter conseguido duas coisas das quais tinha desistido. ainda bem que achei que estava a morrer e ainda bem que não morri.
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