Um,
Dois,
Três,
quatro...
Cinco.
Cinco
mulheres à beira da solidão, precipitaram-se na tristeza e mataram-se.
Matou-se uma
de cada vez.
Cada uma por
uma razão.
A primeira
mulher sofria de amor.
Mal comum
esse, de ser destratada por quem se ama.
Não
aguentava olhar o outro nos olhos e, de volta, receber um olhar baço e vazio.
Passou
quinhentos e setenta e dois dias num desamor tão profundo que questionava a
razão de viver?
Se não
havendo amor na sua vida, continuaria a existir vida?
O que era
isso da vida sem amor?
Será que o amor
que dá sentido à vida era apenas este, o amor entre um homem e uma mulher?
A primeira
mulher a sofrer, matou-se de tiro no peito.
Um recado
que deixou, a quem não lhe soube amarrar o coração.
A segunda mulher sofria de solidão.
A segunda mulher sofria de solidão.
Um dia fora jovem e vivia rodeada de mundo.
De pessoas, de trabalho, de horários para cumprir, de chatices e azedices que, sabia-o agora, eram melhores companheiros que a solidão.
Tantas vezes maldisse a sua vida pelo tempo que não tinha e agora olhava para trás com toda a saudade. Com um desejo quase doloroso de querer retroceder no tempo.
Passava agora os dias vazios, com a cabeça cheia a questionar: o tempo só nos faz falta em novos e sobra-nos em velhos? Ou o que perdemos com o tempo são as pessoas e as coisas que o preenchem e não contrário?
A segunda mulher a sofrer, matou-se por electrocussão. Meteu os dedos molhados na tomada eléctrica e deixou-se ir.
Quis sentir-se viva, cheia de energia. Deu aos que a encontraram um grande choque e uma grande lição.
Procurou o consolo para as suas inquietações no lugar mais fundo que conhecia. Quando chegou lá abaixo não entendeu nada.
A quinta mulher sofria de soberba.
Nasceu com tudo ainda nem o significado de tudo conhecia.
Ensinaram-na a gostar de si, a desdenhar os outros, e a tratar o mundo como se este fosse seu.
Não perdoava ninguém, deviam-lhe todos reverência e manipulava todos como marionetas.
Um dia, quando sem querer caiu do pedestal, ouviu finalmente um murmúrio à sua volta. De ódio, de rancor e de indignação.
Foi vítima das suas próprias convicções: olhou tanto para si que nunca compreendeu os outros.
A quinta mulher a sofrer, matou-se com um pedaço de espelho espetado entre as veias dos seus pulsos.
Morreu a olhar para si mesma, como, de resto, sempre viveu.
De pessoas, de trabalho, de horários para cumprir, de chatices e azedices que, sabia-o agora, eram melhores companheiros que a solidão.
Tantas vezes maldisse a sua vida pelo tempo que não tinha e agora olhava para trás com toda a saudade. Com um desejo quase doloroso de querer retroceder no tempo.
Passava agora os dias vazios, com a cabeça cheia a questionar: o tempo só nos faz falta em novos e sobra-nos em velhos? Ou o que perdemos com o tempo são as pessoas e as coisas que o preenchem e não contrário?
A segunda mulher a sofrer, matou-se por electrocussão. Meteu os dedos molhados na tomada eléctrica e deixou-se ir.
Quis sentir-se viva, cheia de energia. Deu aos que a encontraram um grande choque e uma grande lição.
A terceira mulher sofria de nada.
Tantas mulheres desgraçadas que sofrem de nada.
Umas com dinheiro, amor, carreira, saúde e alegria, queixam-se que não têm nada na vida. Que nada as faz felizes.
Que não há nada que as faça sorrir, viver, respirar, arfar.
Quando lhe perguntavam o que afinal a poderia fazer feliz, respondia: nada!
Que nada a faria mais feliz que ser feliz mas que essa felicidade não se alcança do nada. Apesar de nada conseguir fazer.
A terceira mulher a sofrer matou-se por asfixia.
Simplesmente fechou a boca, o nariz, e não mais respirou.
Morreu como viveu: sem ser preciso fazer nada.
A quarta mulher sofria de incompreensão.
Entre ser incompreendida e não compreender os outros, esta mulher sofria de ambos os males.
Sentia-se isolada do mundo ou com um mundo só seu.
Nunca sabia se era ela que estava mal ou se eram os outros que não faziam um esforço para ver que ela estava bem.
Sentia-se tão incompreendida que chegava a questionar-se a si mesma sobre se ela teria alguma vez razão.
Mas lá compreendia que nada no mundo tinha compreensão e resignava-se à sua condição.
A quarta mulher a sofrer, matou-se, atirou-se a um poço.
A quinta mulher sofria de soberba.
Nasceu com tudo ainda nem o significado de tudo conhecia.
Ensinaram-na a gostar de si, a desdenhar os outros, e a tratar o mundo como se este fosse seu.
Não perdoava ninguém, deviam-lhe todos reverência e manipulava todos como marionetas.
Estava tão cheia de si que nunca viu como os outros também estavam cheios dela. Nunca percebeu que apenas falou e nunca ouviu.
Foi vítima das suas próprias convicções: olhou tanto para si que nunca compreendeu os outros.
A quinta mulher a sofrer, matou-se com um pedaço de espelho espetado entre as veias dos seus pulsos.
Morreu a olhar para si mesma, como, de resto, sempre viveu.
Há mulheres que dentro de si são cinco.
Ou serão mais?
Muitas mais...
ResponderEliminarBeijo, DC.
Não sei porquê lembrei-me da Virginia e de "As Horas", viste?
ResponderEliminarIsto agora até parece mal, mas não, não vi.
EliminarVou ver o trailer e ver se arranjo o livro.
Já tinha noção que estava em falta e hoje voltei a lembrar-me.
Mas faz lembrar, é isso?
http://www.solarmovie.ws/watch-the-hours-2002-online.html
EliminarPodes ver online, basta carregar no PLAY :-)
EliminarAh, e não sei o que é que "até parece mal", nem quero saber.
EliminarMerci :)
EliminarParece mal porque quando saiu era daqueles filmes obrigatórios.
Mas o tempo foi passando, fui vendo outras coisas, e este ficou para trás.
Parece mal porque vejo imenso cinema e este não vi.