10.10.17

A M O - T E   .    P A R A   S E M P R E  .


                                                

                                       

5.10.17

Todos Mundo



Tenho saudades do mundo de há dez mil anos.
Aquele em que eu não existia.
Aquele em que todos éramos ignorantes.
Em que a terra era plana e ninguém contestava.
Em que as noites se sucediam aos dias sem ninguém fazer perguntas.
E as pessoas eram bichos e os bichos eram pessoas.
Todos iguais.
Sem consciência do indivíduo, do coletivo e da própria existência.
Éramos ramos caídos no solo, num solo pisado pelo Sol, de um Sol que ninguém sabia existir.
Éramos felizes sem o ser porque naqueles tempos não havia felicidade.
Nem tristeza, nem ódio, nem solidão.
Porque não havia nada.
Havia apenas brisa e a brisa batia em todos da mesma maneira.
Mortos, vivos, pessoas, bichos, pedras, mar.
Éramos todos iguais. Todos nascidos e morridos do mesmo e para o mesmo.
Sem história.
Éramos todos mundo.
Hoje não somos nada.


Tenho saudades do mundo de há dez mil anos.
Aquele em que eu não existia.