30.12.13

Habemus resoluções




Este ano, e à semelhança de todos os anos, sinto que é chegada uma nova oportunidade de reestruturar a minha vida. De tomar as rédeas da situação e de ser mais livre nas minhas escolhas. De fazer coisas melhores por mim e de, basicamente, meter em marcha um plano para a felicidade, que elaborei na minha cabeça vai para cima de 15 anos e que nunca tive forças para concretizar.

Este ano, finalmente, percebi que não vale a pena planear nada. 

No entanto, há decisões importantes e estruturantes na minha vida, que vão ter de ser tomadas. Algumas decisões que terão de perdurar no tempo e não apenas no primeiro mês do ano. Coisas que pretendo manter erguidas até ao fim da vida. O que não posso é continuar a dar desculpas, sobretudo a desculpa do "amanhã": manhã é melhor, amanhã tenho mais tempo, amanhã é que é... Não. O hoje há-de ser sempre um prazo mais concreto. Há-de ser menos fugidio e há-de ser mais difícil de justificar se não for cumprido.
Este ano vai acontecer uma mudança no meu estilo de vida. Não necessariamente no estado de espírito (é crónico, está percebido), nem neste temperamento agressivo-passivo (adoro, adoro, adoro!), nem no sentido de humor - dizem - ácido (há lá coisa mais desconcertante que uma mulher feia com um sentido de humor corrosivo). Mas muitas outras coisas irão merecer uma revisão profunda: A minha atitude com os outros. A minha atitude comigo. 
E não, não estou a pensar ser melhor, mais boazinha ou condescendente. Felizmente, se há coisa que a idade traz é a confiança, sobretudo no que respeita a defender posições, a defender aquilo em que se acredita e a dizer-se o que se pensa. Não acredito nada em travões e comedimentos quando se trata da verdade, quando a verdade é o valor mais importante de todos. 
Por isso, que não se espere que as mudanças de atitude aconteçam para me proteger, proteger alguém ou proteger segredos ou inverdades. Este ano que se aproxima só pode ser o arranque para a plena liberdade de expressão, para a plena verbalização das minhas convicções e para a plena defesa da verdade.
Haverá coisa melhor que dizer-se o que se pensa sem se ser punido? Sem ser retaliado? Haverá valor conquistado mais importante que a liberdade? Haverá legado mais valioso que a possibilidade de nos expressarmos com palavras?

Não me façam é falar de falsos moralistas, pudosos prevaricadores, e gente hipócrita que só defende o seu cu (lá estou eu com maus modos), com recurso a mentiras ou, pior!, com recurso a chantagem, coação e assédio a quem se tenta atravessar no seu caminho para repor a tal verdade.
Nem todos descendemos de comedores de "sardinhas para seis", bem sei, mas os comedores de "receitas de bacalhau com 100 anos" não podem julgar-se acima de ninguém e não podem, jamais, ser levados em braços até posições que os permitam dar asas às suas convicções ditatoriais.
Caso aconteça, então os descendentes de comedores de "sardinhas para seis" não podem munir-se de nada mais que a VERDADE e a FORÇA DAS PALAVRAS.
Não se consegue lutar contra isso, pois não?
Digam-me que não.

E pronto, já me estou a perder por outros caminhos e já me ia esticar até 2014 com pragas rogadas a pessoas já de si privilegiadas. Mas para quê privilegiá-los ainda mais com o meu tempo, não é?

[E depois claro, tenho aquelas resoluções mundanas como perder 30 kg, fazer uma lipoaspiração e meter-me dentro da máquina do tempo e parecer que tenho menos 10 anos. Também queria ficar rica, arranjar uma amante musculado e que me leve a hotéis caros, ouça música alta no descapotável, e que fale pouco. E, para rematar, acabar o 2014 a dizer ao patrão: "Sabe contar? Então a partir de amanhã não conte mais comigo!"].



28.12.13

Para o ano







Podia dizer que para o próximo ano tenho uma imensa lista de desejos.

Mas tenho apenas um.





25.12.13

18.12.13

A mulher que me matou



Mataste-me no dia em que o meu desejo se cruzou com a tua crueldade. Naquele dia em que me acenaste com tesão, com sexo entre iguais, com desejo pelo desconhecido, com a fantasia de poder admirar uma mulher pela primeira vez com os olhos de quem descobre o pecado. Com o entusiasmo amedrontado de quem se prepara para fazer algo que exige segredo. 
Mataste-me quando percebi que nunca tiveste qualquer pretensão de cumprir as promessas veladas de prazer. 
Mataste-me no dia em que a promessa de um encontro não foi cumprida. Em que eu fiquei entregue ao nervoso da solidão. Aos tremores de quem finge alguma coisa para além de esperar. Mas eu apenas esperei. Acabaste-me com a moral, a estima e a admiração que eu sentia por mim e conseguiste dar lugar a uma visão perturbada e derrotada de mim própria. Mataste-me por dentro de uma maneira tão devastadora como a tragédia que é alguém perder-se de si próprio.
Mataste-me quando me senti usada e humilhada por ti. Por te impores como uma mulher superior. Por me dares o medo de ser inferior e fazeres disso uma arma. A pessoa que eu era desapareceu, abruptamente, quando acreditei ser menos que tu e quando percebi  isso justificaria a tua sobranceria sobre mim. 
Mataste-me quando me deste a tua voz a ouvir e depois apenas me presenteaste com o silêncio. Como se soubesses a crueldade de dar e retirar sem avisos ou considerações. Como se tivesses prazer em aparecer e desaparecer. Pois que a morte de que me mataste fez-se, mais dos vazios do que dos cheios. Mataste-me mais pelos momentos que não tivemos do que por aqueles que algum dia poderíamos ter.
Mataste-me demasiadas coisas, mesmo aquelas que não te dei. Mataste sim. Mataste coisas que nem tu sabes que por tua causa conheceram o seu fim. Mataste-me a vontade de escrever e eu não encontro morte maior e mais sofrida que aquela que me fez desistir de mim.



13.12.13

Gente que não conheço



Já vai longe o tempo em que falava apaixonadamente com pessoas a quem não conhecia os rostos. Levada pelo mistério. Pelas emoções. Pela efervescência do desconhecido.
Longe vai o tempo em que me relacionei com algumas dessas pessoas e por isso deixaram de ser palavras escritas e passaram a ter rostos.
Não gostei desses dias.
Não gosto de os relembrar.
Conheci pessoas cujas palavras não tinham o rosto que mereciam. Que eu achava que mereciam. Conheci pessoas que não tinham o carácter que achei que teriam. Que elas me insinuavam que tinham.
Quando questionei a falácia em que se tinha tornado a minha vida com desconhecidos, percebi que não só os outros ofereciam o que não eram, como eu não era o que esperavam.
A necessidade de aceitação.
O medo da rejeição.
Percebi que as palavras nos escondem a todos. Todos somos o que queremos que os outros esperem de nós, recorrendo à maestria nas palavras.
Um dia desisti de continuar a procurar as pessoas sem rostos. Passei a deixá-las no lugar delas. No sítio onde as conheci. Com a forma com que as conheci.
Foi no dia em que esperei e ninguém apareceu.
Percebi que essa pessoa tinha visto em mim aquilo que eu não tinha querido mostrar.
E eu, ofendida, desisti de vender palavras que não se iriam cumprir e rendi-me à minha vida de solidão.
Nunca mais pedi para gostarem de mim.
Desde esse dia deixo as palavras das pessoas num lugar e os rostos delas noutro. 
Naquele sítio onde eu sei que não irei procurar.




11.12.13

Se eu te disser



Se eu te disser que esta felicidade se transforma em infelicidade mal viras as costas, não irás compreender porque sorrio em vez de chorar.
Se eu te disser que quando falo no futuro não me vejo a arrancar os pés do presente, irás questionar-te se afinal te ando a mentir.
Se eu te disser que a palavra amor é apenas sinónimo da palavra amizade, irás perceber que tudo não passa de calor nos pés e beijos sem emoção.
Se eu te disser que quando te escrevo palavras de amor imagino alguém que não és, irás querer chorar em vez de reagir.
Se eu te disser que não me importo de viver a tua vida em vez da minha, irás pensar que é verdade mas bem lá no fundo saberás que, se prefiro viver outra vida que não a minha, também não seria a tua que eu escolheria.
Se eu te disser que adoro a tua brandura em vez de um circo de emoções, irás compreender que se não me abandonares nunca serei eu a ter coragem de o fazer.

Se um dia me disseres que descobriste que este amor nunca fecundou, irei descobrir que, afinal, a minha vida não existe sem ti.



5.12.13

Conforme esperado




Viro as costas temporariamente.

Há muito que não tenho nada de interessante para dizer. Para partilhar.
Haveis reparado certamente.

Volto um dia destes em que me sinta mais inspirada ou no dia em que, simplesmente, me apeteça voltar a escrever.




26.11.13

Bizarrias, Google e Blogs - II



Não, não venho falar do Big Brother nem do Secret Story.
(Um grande Oooohhhhhhhhhhhhhh...)

Vamos falar de coisas sérias.
Na altura senti-me desconfortável com a situação porque, se por um lado achei que estava a enganar as pessoas [há que ser honesto, ninguém vai encontrar aqui uma resposta para a pergunta "Como saber se sou gay?" nem vai encontrar "Trancas para homens", e é uma pena, porque este blog seria muito melhor se aqui se encontrassem respostas às inquietações das pessoas], por outro lado estava a divertir uma, não menos importante, parte do público [que eu sei que vocês gostam muito mais de uma rambóia do que de poemas tristes, e ai a morte e a desgraça da minha vida, e os anjos que me vão levar desta para melhor, e o raio que me parta...].

Mas hoje, que até estou particularmente entediada, voltei a deparar-me com as pesquisas que as pessoas fazem, por esse mundo fora, e que as trazem até ao Dias Cães.
As pesquisas estão menos intensas, talvez menos ousadas, é um facto. São também em menor número, mas, bem sabemos, que a culpa é da crise.
Ai não é?
Mas vamos dizer que sim, está bem?

Ora aqui ficam as novas pesquisas (são poucas mas é o que temos):


Os Chineses têm pila pequena - Ai filha, se fossem só os Chineses... Mas adiante. Se isto era só uma afirmação, um recado, uma chamada de atenção, um alerta para a minha pessoa, fica aqui registado que chegou cá e que eu li. Mas tenho uma informação para a troca: Os Chineses comem cães, e gatos, e ratos, e a mãe, e a tia, e a avó, e a prima afastada... De certeza que ainda queres ver se os Chineses têm a pila pequena?


Me chama de putinha safada - Não nego que acho isto divertido. "Putinha Safada" é bonito. Até tem assim um ar carinhoso. Quase em contraste com a nalgada bem assente que um pedido destes merece. Do género: "mi batxi na bundinha e mi chama dxi putxinhá Safádaaaaaa". 
Agora porque é que isto veio para a este blog eu não consigo saber. É para eu chamar putinha safada a alguém? (Por acaso és a minha vizinha do 4º Esquerdo? É que se fores ouve-me bem! Ando há meses para te dizer: "Bom dia sua putinha safada, vê lá se levas o cão a mijar à rua em vez de me mijar aqui no tapete"). 
Vai-se a ver e isto pode ter múltiplas utilidades.
Obrigada pelo seu contributo nestes blog, cara leitora!


Pila grande pequena - Ou é grande ou é pequena, decida-se. Ou quer ver o catálogo todo? Ou está a falar enquanto objecto tridimensional que pode ser grande no comprimento e pequeno na largura? Ou grande na largura e pequeno no comprimento? E na altura? Onde entra a altura? 
Agora percebo a rasteira nesta pesquisa. Pode ser uma assunto muito complicado.
Quer um conselho? Para reduzir o número de resultados no Google procure só "pila grande". Tá ?


Vaca e puta diferença - Às vezes também tenho dificuldade em distinguir. Por isso, aqui fica o meu truque, uma mnemónica infalível:
Eu penso nas pessoas aqui no meu trabalho e questiono-me: "A gaja que me entalou junto do chefe é uma vaca ou uma puta?" (resposta: é uma vaca); 
E questiono-me "A gaja que anda a papar o meu chefe, que é casado, só para subir na carreira, é uma vaca ou uma puta?" (resposta: é uma puta).
Não sei se sei explicar bem isto mas acho que tem a ver com a combinação de sexo, dinheiro e esperteza. Porque vejamos, a vaca nem fode, nem é aumentada, nem é lá muito esperta porque, se fosse, não se tinha metido comigo. E a puta, fode com o chefe, é aumentada, e ainda tem a esperteza de precisar de mim.



21.11.13

Um outro homem



É errado querer o corpo de outro homem?
Querer ser possuída por outra alma?
Por outra mente.
Será errado querer suar às mãos de um novo amante?
Gemer junto de um outro pescoço.
Sussurrar palavras noutros ouvidos.
Querer que outras mãos me agarrem as coxas.
É errado desejar conhecer a pujança de outro homem?
Saber como me amaria?
Como partilharia o seu corpo com o meu.
Como me olharia nos olhos.
Se olharia sequer?
Será errado querer outro cheiro na minha pele?
Sonhar acordada com os seus lábios.
Desejar as marcas dos seus polegares na minha carne.
Querer que o seu prazer acabe dentro de mim.
Será errado querer ser sua numa solitária noite?

Será errado imaginar que o nosso homem poderia ser outro?

Será errado fechar os olhos e sonhar?



18.11.13

A Grande Semana




Sais de casa bem lampeira.
Compões o cinto de segurança sobre o casaco para não o amarrotar. Olhas feliz para as botas de salto que escolheste hoje, logo hoje, e que há tanto tempo não calçavas porque "não me dá jeito ir de saltos altos". Ajeitas os pés para não riscares as botas nos pedais do carro e arrancas com cuidado para te habituares à diferença dos saltos. Está um frio dos diabos, o carro não tem AC nem DC nem coisa nenhuma que aqueça mas tu aguentas. Porque tens de aguentar, porque são só 5 km até ao trabalho, e porque não tens outro remédio. Se queres um carro melhor, arranja-o. Andas 100 metros e o carro morre. Morre porque tinha de morrer. E tu bem sabes que sim, por isso sais do carro, ligas a uma amiga para te ir buscar e nem mudas de botas de saltos altos para botas sem saltos porque estás tão embriagada com isto tudo que nem te dás conta de nada. À noite chegas a casa, realizas que a tua liberdade foi-se desta para melhor, ligas ao reboque, ao mecânico e à mãezinha para chorares, e depois metes a cabeça na almofada que amanhã é outro dia e faz de conta que o carro vai estar outra vez à porta pronto a pegar. De manhã percebes que não tens carro. Ligas a uma amiga para te ir buscar. Sentes-te um peso. Ligas ao mecânico na esperança de ir buscar o carro ainda hoje e percebes que o carro não se safa, que morreu, que vais ter de comprar o passe de autocarro, que não há autocarro da tua casa para o teu trabalho, que demoravas cinco minutos de carro e agora vais demorar uma hora para cada lado.
Sentes-te fodida.

Abres o teu computador de estimação.
Custou-te os olhos da cara, é branquinho, tem design, e mais nenhum amigo teu tem um. Gostas mesmo do teu computador. Precisas dele todos os dias, ora escreves, ora vais à net, ora tratas umas fotografias, ora ouves umas músicas. Um dia, naquele dia em que menos te dava jeito, ele deixa de funcionar. Não consegues aceitar. Há meses que ameaçava morrer, que falhava aqui e ali, mas não, uma máquina destas é para a vida, nunca avaria e isto não passa tudo de um engano. Mas o computador morreu. Ligas a um amigo, pedes o contacto do melhor sítio para o arranjar, levas o computador ao senhor doutor e ficas semanas sem saber alguma coisa dele. Chega um mail, diz que é pouco, que é só uma peça, que não é nada de especial.
Dizes para avançarem com o arranjo - que alternativas terias tu? - e eles dizem-te o orçamento e o orçamento nunca te poderia agradar. Tentam vender-te mais um programa, e uma atualização, e uma limpeza e uma desinfecção e tu nem dinheiro tens para mandar trocar uma tecla e só tens vontade de os mandar cagar mas tens de te aguentar que mais ninguém tem culpa da vida que tens.
Foda-se! 

Estás sem carro e sem computador.
Já não podes ir de saltos altos para o trabalho. Chegas a casa já nem podes ir à net.
Resta-te apenas a tua pessoa. O que és. O teu físico. Safou-se, pelos menos a tua condição física. A integridade de poderes levantar-te, arranjar-te, sair de casa de cabeça levantada e ir trabalhar com cara de quem tem a melhor vida do mundo mesmo que seja encavada a toda a hora.
Há um dia em que pensas tudo isso. E depois há os outros dias.
Como o dia em que acordas de manhã e tens uma puta de uma conjuntivite que te atacou a cara toda como se fosses uma folha de papel vegetal consumida por beatas de cigarros.
Em que nem sabes se abres ou se fechas os olhos, em que pareces ter levado tiros nos olhos e por isso jorram sangue, em que olham para ti como se tivesses lepra, em que tens de andar de óculos escuros no trabalho, em que, pior!, metes os óculos escuros por cima dos óculos de ver no trabalho. Em que fazes aquela puta daquela figura, com a qual gozaste durante tantos anos, que a tua tia velha fazia quando entrava de óculos escuros no café. E tu só tens 32.
É aquele dia em que o oftalmologista te faz um diagnóstico por tentativa/erro mas começa sempre pelo erro para quando chegar a acertar tu já só dares graças a Deus por estares viva, apesar de pareceres ter moléstia dos coelhos.
Em que uma córnea rasgada ou um herpes ocular te parecem sentenças de morte e por isso recebes de braços abertos a puta da conjuntivite que te fez parecer ter cento e vinte cinco olhos pequeninos na cara, em vez de apenas dois.

O teu namorado, com o sentido de oportunidade de um cobrador de impostos, aparece para uma visita. Depois de vinte e um dias sem lhe meteres os dedos em cima.
Con-jun-ti-vi-te!
Não beijos. Não coiso. Não coiso, coiso.
Período. Sempre o período. Gosta de festas. Também eu. Cabrão.
Herpes. Labial.
Herpes. Conjuntivite. Período.

Foda-se...



12.11.13

Carta do abandono



"Meu amor,

Não consigo descrever a dor. Mas sinto-a.
Não há alegria em mim. Na vida.
Os dias não têm fim. As semanas não terminam. 
Os sorrisos nunca mais se esboçaram no meu rosto. A felicidade nunca mais visitou o teu.
Sinto impotência.
Impotência por não te conseguir resgatar desse lugar fundo.
Desta tristeza cheia de dor que sinto dentro de mim quando olho para dentro da tua alma e não me vejo dentro de ti.
Que mais posso eu ser para te fazer uma pessoa feliz?
Que mais tenho de ser?
Quem terei eu de ser?
Apenas tu sabes a resposta. Talvez eu também a saiba e prefira esconder isso de mim.
Por medo. Ou por medo da perda. Ou pelo medo de poder nunca te ter tido.
De ter sido uma fraca substituição de quem te fez, realmente, feliz. 
De nunca ter estado à altura. De eu nunca ter sabido contra quem lutava. De ter travado uma luta injusta, às cegas. De ter lutado sozinha. De desconhecer que a batalha esteve sempre perdida.
Não é frustração, é dor por não estar à altura do que já conheceste como sendo amor.
Relembra-te do lugar onde já foste feliz e leva-te novamente a esse sítio, onde já soubeste o que era o amor.
Não temas essa viagem ao teu interior.
Preciso que a faças. Preciso que saibas, antes de eu saber, aquilo e quem, realmente, te elevou o espírito.
Quem te fez ter o teu pensamento entregue, apenas a si, durante todas as horas do dia.
Preciso que conheças, que reconheças, que há forças que não se derrubam.
Que há amores que se adormecem, que se fazem por esquecer, que se iludem com truques e distracções mas que nunca, nunca, se conseguem fazer desaparecer.
São aqueles que em tempos nos fizeram não querer dormir.
Que nos faziam acelerar os dias para chegarmos rápido ao próximo encontro.
Aqueles que nos faziam sofrer com os minutos. Com a distância.
Há amores que nos fazem isto.
Que não nos fazem esquecer que fomos felizes.
Que nos relembram a toda a hora que, depois desse grande amor, apenas nos passámos a satisfazer com pouco.
Que nos condenámos a, simplesmente, gostar.
Que nos abandonámos ao amor que outra pessoa nos quis dar mesmo sem estarmos dispostos a devolver o que seja.
Depois de se viver um grande amor, um beijo não irá chegar e um abraço na despedida não terá significado.
Para ti.
E para mim?
Sabes bem o que significas para mim?
Sabes o que significa o beijo vindo da boca de quem se ama?
Conheces a dor de o ver desvanecer?
Agora, depois de não encontrar alegria em nada, de me lembrar como sofro por estares longe, de não estar em paz comigo por ser quem sou, de pensar que não sou suficientemente importante na tua felicidade para te fazer estar junto a mim, sei que morri um pouco por dentro.
O passado insiste em vir ao teu encontro no presente. Mas no presente também aqui estou eu. A implorar para ser vista. A implorar para amar. E é tão difícil viver com isso. Revelo fraqueza, bem sei, mas a sombra do passado impõe-se majestosamente sobre mim. 
Esse passado, o mesmo que te entristeceu tantas noites ao deitar, vibra com fulgor.
Aparece sempre feliz ao teu lado, a lembrar-te como foi bom o que entre vocês germinou.
A sussurrar-te nos pensamentos que está ali. Que estará sempre ali.
Tu sabes, infelizmente eu também, que, se em vez de um sussurro esse passado te gritasse bem alto que te ama, que te queria fazer feliz novamente e que nunca mais te abandonaria, tu não hesitarias.

A sombra que ela é neste momento passaria a ser real e a minha existência teria o seu fim."






8.11.13

Quanto mais tempo irás aguentar assim?







Bem sei...




"Andas tão chata, Dias Cães... tão, tão chata..."




6.11.13

Em nome de Samael




Diz-se que vou morrer.
Que alguém me procurará.
Essa coisa da morte.
Esses anjos que são demónios.
De sorrisos cândidos e fingidores.
Estupores.
Julgam que eu não sei o que os traz.
Mas sei-o bem.
Trazem a dor.
O silêncio.
A agonia.
As promessas que se quebrarão.
As palavras enganadas.
Trazem provas de resistência.
De desistência.
Trazem decisões impossíveis.
Obrigações que todos quererão negligenciar.
Esses bastardos desses anjos virão vergar-me.
Dizer-me o meu lugar.
As minhas limitações.
A minha humanidade.
A minha grandiosa insignificância.
Vão dizer-me que sou atacável.
Vão mostrar-me que sou derrubável.
E assim irão derrubar.
Conseguirão que todos tenham pena de mim.
Que lamentem o meu findar.
Esses anjos assistirão aos choros dos vencidos.
Daqueles que não me conseguiram fazer viver.
Desses que contavam comigo para primeiro os ver morrer.

Não morro tranquila.
Julgava a morte longe do sítio onde me encontro agora.
Julgava que todos morreriam antes de mim.



5.11.13

Das estações



Chove.
Neva como se Lúcifer vestisse a pele de Deus.
Como se fizesse chorar flocos sem cor.
Fingidor.
Chove como um Diabo que se ri das dores de ossos.
Que tem prazer no escuro das almas que definham.
Tragédia desenhada a preto.
Pintada a branco.

Floresce.
Deus sorri de vitória.
Alegra-se pela batalha ganha sem dor.
Louvor.
Radiantes cores dançam entre si.
Sacodem luz e bailam pólens.
Gargalham os ventos dóceis que sopram.
Segredam a felicidade de tanta cor.

Vive.
Explode calor pelos poros.
O inferno desce à terra e faz-se verde.
Alegre.
Luta-se entre o desejo e o desamor.
Ardem os pés sobre o chão.
Nada nasce de tanto aridez.
Deus deseja frio e chuva mais uma vez.

Seca.
Juntam-se à mesa Deus e o Diabo.
Ilustram um postal em tons pastel.
Babel.
Dão as mãos no entendimento.
As verdades ganham vez.
Juntos fizeram o melhor com o tempo.
Uniram-se e as estações nasceram outra vez.




2.11.13

O mocho




Não te sentes observado?
Olhado por alguém, ou alguma coisa, algures entre o céu e a terra?
Como se uns olhos se tivessem cravado em ti.
Como se cada arfar teu fosse arfado em sincronia com o arfar de alguém.
Não sentes?
Não andas pela noite com passos atrás dos teus?
Como uma réplica.
Um eco.
Como se os teus pés se tivessem duplicado e caminhassem ao teu lado.
Como se alguém, em vez de andar apressado, se arrastasse atrás de ti.
Nunca olhas para trás, sobre um ombro amedrontado?
Com os olhos latejantes de medo.
Com a cabeça metida num labirinto de caminhos desconhecidos.
Perdida.
Quantas vezes te questionas se haverá alguém te conheça profundamente?
Que saiba tudo de ti.
As vezes que sorris.
O número de palavras de exibes pela voz.
Quantas folhas folheias antes de dormir.
Quantas horas corres na solidão.
Pensas mesmo que estás protegido?
E que as palavras te escondem o rosto e o carácter?
Então agora olha para trás.
Vê bem o que tens atrás de ti.
Rende-te aos pés que assentas agora sobre o chão.
De nada adianta quereres fugir.
Perceberás que há sempre qualquer coisa que nos vê.
Que nos procura e que nos encontra.
Que haverá sempre obscuridade na solidão.
E alguém, ou alguma coisa, que se move melhor que nós nessa obscuridade e nessa solidão.
E que nos vigia a cada segundo, mesmo nas longas noites que acreditamos estar sozinhos.
Mesmo quando acreditamos que a nossa vida, até para nós, terminou.
E agora?
Não te sentes observado?

Bem vês. 
Nem sempre um fim acaba bem.




30.10.13

Às melhoras do meu querido...




Definham estas pontas de dedos,
Secam-me as falanges de tristeza,
Não te voltarei a estragar com o meu tacto,
Perdoa-me esta minha rudeza.

Regressa aos meus dedos tão sós,
Deixa-me voltar-te a tocar,
Preciso tanto dessa tua grandeza,
Não aguento mais sem em ti escrevinhar.



[Às portas da morte, não me restou alternativa que não fosse entregar o meu adorável computador aos Senhores Doutores para o arranjarem. 
Rezo ao Steve Jobs para não o querer perto de si tão cedo. 
Ainda é tão jovem. Tem tanto para me dar nesta vida...
Voltarei à escrita quando ele recuperar.]


23.10.13

E se um dia eu não quiser





É assombroso este amor que se consome nas distâncias.
Que vive das horas, dos dias, de um tempo castigador.
Um amor que vive da eternidade e da distância.
Mesmo desconhecendo quanto mais tempo será preciso para encurtar esse caminho. Tanta lonjura.

O que eu não quero é morrer na imensidão desse tempo.
Ficar prisioneira de uma decisão que nunca se irá tomar.
Ver maltratado o amor que sinto. A profundidade do que sinto.
Ver-te abandonado ao que foste antes de mim. Lembra-te da dor.

Porque se um dia eu já não quiser esperar,
Não quiser correr tantas horas e tantos dias,
Se já não quiser cansar estas pernas movidas por tanto amor,
Se já não permitir abrir feridas pela ilusão de um futuro que não existe;

Nesse dia saberei que já não vou querer esperar.
Já não vou ter pressa para chegar a lugar algum.
Não terei pressa de ser abandonada a um peito vago.
Não vou esperar por alguém que sei que não virá.

Se um dia eu não quiser este nosso grande amor,
Estranha apenas que eu tenha desistido de me deixar magoar,
Tantas horas, tantos dias, tantas esperanças depois.
Estranha apenas o estranho que foi não teres pressa de me amar.



22.10.13

Cabeças de alho




Sim, voltei.
Duas vezes no mesmo dia.
Hein?!
Duas de seguida não é para todos.
Bom, mas voltei aqui porque já percebi que o dia hoje não vai passar disto, e eu estou farta de tudo e todos e de mim incluída e, portanto, pus-me aqui a pensar nas coisas boas da vida, só para contrariar este estado de espírito (bom de ver que está, que nada vai mudar tão depressa).
E o que me veio logo à cabeça foi de como gosto de comer cabeças de alho assadas no forno.
Ora e porquê?
Não faço a mínima ideia mas creio que fará parte do desconcerto em que vai esta cabeça.
Podia ter pensado noutras coisas, como por exemplo, de como me sinto aconchegada com o licor de dez mon chéris. Tão inocente aquele calor que se instala na parte superior das bochechas. Tão bom.
Também me sinto feliz (durante cinco segundos) quando acordo de manhã, deitada de barriga para cima, e acho que estou tão magrinha e que aquele armazenamento de torresmos que tenho na zona abdominal afinal não passou de um sonho mau.
No fundo, sou pessoa que também encontra felicidade em coisas simples, quase todas ilusões, mas coisas simples.
Mas nada, nada, se compara ao prazer de espremer uns dentes de alhos assados entre os dedos. De levar aquele creme em que se transforma à boca e degustar o seu sabor tão avassalador. A sua textura tão delicada. Há qualquer coisa nos alhos que me transporta para um lugar em que as coisas correm bem.
E, claro está, uma pessoa mete-se a pensar em como uma coisa, aparentemente, tão agressiva e desagradável faz um bem danado à alma e na lição que pode retirar disto.
Não é imediato, demorei um bocadinho a teorizar sobre isto, mas lá cheguei a uma conclusão: se até os sacanas dos alhos me deixam feliz, e a acreditar que há um mundo de coisas que só eu gosto e mesmo assim consigo viver nele, porque é que não consigo transformar outras coisas, igual e aparentemente nocivas, em algo de bom na minha vida?
Descobri nos alhos assados com casca, que da coisa mais mal-cheirosa, se pode encontrar algo que, levando uma reviravolta, nos pode trazer aquele momento de felicidade.
Ainda não sei como é que isto vai mudar alguma coisa neste estado de espírito merdoso em que estou mas por algum lado se tem de começar.

[Que assunto mais interessante este dos alhos]


Que caralho de vida!



Estou a ficar farta desta vidinha de merda.
Acorda. Toma banho. Veste. Come. Lava os dentes. Penteia. Maquilha. Aquece a marmita. Sai de casa. Entra no carro. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Trabalho. Casa. De quando em vez, supermercado. E a partir daqui é sempre mais do mesmo entre limpar, cozinhar, arrumar, ler, escrever, sofá, net, televisão.
Que vida fixe que tenho levado até aqui, hein?!
Foda-se.
Agora estou no trabalho (sim, estou a dar prejuízo ao patrão) e nem estou com a consciência pesada porque, na verdade, o que me apetece é ir embora e amanhã já não voltar. É uma desgraça quando se vive assim. Quando se chega ao ponto em que isto já não faz sentido nenhum. Quando nem pelo dinheiro se trabalha porque, esse filho-da-puta do dinheiro, perde-se no dia em que se recebe. O filho-da-puta do dinheiro dura entre 24 a 48 horas mas eu tenho de continuar a trabalhar todas as 168 horas dos respectivos 21 dias.
Eu, que sempre fui boa para falar da infelicidade dos outros (porque, claro está, isto de mudar de vida é tão fácil e só não muda quem não quer) vejo-me agora enredada na minha própria inércia. Eu não quero fazer o que faço. Quero fazer outras coisas. Não quero ter patrão ou, então, quero ter um patrão fixe, e não estou a conseguir encontrar a fórmula e o caminho para chegar lá.
Às vezes (todos os dias) quando viajo pela net, acho sempre que toda a gente tem uma vida mais porreira que a minha. E talvez tenham. A questão é que eu não vejo qualquer vislumbre de infelicidade e de realidade na vida dos outros. Só na minha. E quando se vive assim… Ai meus amigos, está tudo perdido. A fé está perdida.
Queria eu ter a força, que acho sempre que os outros devem ter, para mudar a minha própria vida. Agarrar nestas pernas e nesta cabeça e mudar de trajectória.
Foda-se, eu sou uma gaja que pensa. Que tem ideias. Que tem capacidade de execução. Então falta-me o quê para me por a mexer?
Foda-se, não sei.
Mas que hoje estou cansada disto, estou.
Não se passou nada, nada contribuiu para que hoje se tornasse mais difícil pensar nisto, mas há dias em que uma pessoa questiona o que anda cá a fazer, que pensa mais na rotina, que se questiona sobre há quantas horas ou quantos dias não se ri, que pára para pensar se vai ser esta merda desta monotonia a vida toda.
Vai ser assim sempre? Ou até quando vai ser assim?
Depois volta-se a pensar no dinheiro (volta-se sempre) e lá aterramos na vidinha medíocre que nos foi destinada. A pessoa até se convence disso. De que é o destino. A culpa já não é nossa é do destino e das circunstâncias da vida. Raspa-se o pensamento pelo euromilhões (isso é que safava uma pessoa de uma vida de merda) e no segundo depois volta-se ao pensamento de pobrezinho: “pois, não vai sair o euromilhões – até porque não jogas – por isso tens de trabalhar nesse sítio espectacular que não tem nada para te oferecer para além de horários e obrigações em troca de zero orgasmos mentais”. Não se cria nada neste filho-da-puta de trabalho. Não se inventa nada. Não se irá chegar a lado nenhum. Mas a culpa nem é dos outros. É só minha.
Estou bem fodida comigo.
Nestes dias, em que parece que vou fazer uma revolução, fico ainda pior porque sei que vou chegar ao fim do dia exactamente como o comecei: deitada na cama, a olhar para o tecto, e a lamentar ser quem sou.





19.10.13

Pessoas porcas que vivem como cães



[nonsense]
[Porque as viagens na CP nem sempre são fáceis]



Cheira a cão molhado.
A chulé e a cão molhado.
Chulé dos pés de um homem daqueles que calçam meias turcas de fibra.
Cheira a mofo.
A mofo e a hálito podre.
Como aquelas pessoas que têm bocas que parecem grutas.
Ou que são apenas bocas em decomposição.
Como também têm aquelas pessoas que vestem blusas com suor de dois dias.
Aquelas que têm aureolas amarelas nas axilas e andam de braguilhas sempre abertas.
São as mesmas pessoas que usam as meias puídas nos calcanhares e um dedo a furar a biqueira.
Também podem ser aquelas pessoas que têm nódoas nas camisas e os botões abertos até ao umbigo de barrigas gordas.
As pessoas que têm furos na roupa também podiam ser essas pessoas.
E as pessoas que mostram regos de rabos a espreitar por calças justas são as mesmas pessoas que coçam virilhas como se ninguém estivesse a ver.
As minhas preferidas são as pessoas que escarram para o chão mesmo para os pés de quem vai a passar.
Nem os macacos arrancados do nariz superam isto.

E o que eu fico sem saber, é se essas pessoas gostam de ser porcos ou querem ser cães.
Ah! São só pessoas que não gostam de ser pessoas.
Então está bem.





18.10.13

Quando for grande




Quando for grande vou querer sair do escuro.
Vou abrir os olhos e viver.
Vou querer gostar de mim.
Gostar dos outros.
Vou querer vestir-me de azul.
Viver com uma nuvem branca sobre a cabeça.
Contrariar os defeitos desta alma assombrada.
Vou dormir de luz acesa para espantar o medo.
Vou correr.
Fugir de tudo o que não faz sentido em mim.
Vou mergulhar.
Afundar-me na liberdade dos prazeres.
Entregar-me à felicidade dos vícios.
Vou agarrar num cigarro e namorar-lhe a cinza.
Beber um copo de vinho até os lábios sorrirem roxos.
Vou cheirar a sândalo e vestir-me de mim mesma.
Sem medos.
Vou dançar de olhos fechados.
Olhar para dentro de mim e cair redonda no chão de embriaguez.
Quando for grande vou querer saber dizer não.
Não temer as reacções dos outros.
Não temer os meus sentimentos.
Vou querer emocionar-me sem agarrar as lágrimas.
Não esconder que tenho coração que sente.
Quero render-me às lições de vida.
Apontar menos dedos aos outros.
Cair mais em mim.
Vou querer ser um exemplo sei-lá-de-quê para alguém.
Vou querer ser única.
Saber envelhecer na pele e rejuvenescer no espírito.
Ver os novos nascerem e endireitarem-se.
Vou querer ver a vida a dar vida e a morte a não existir.
Não vou sucumbir às tristezas das perdas. 
Vou querer viver tudo o que não vivi até hoje.
Vou querer chegar ao dia em que sei que nenhum caminho ficou por percorrer.