24.2.15

I don´t give a shit...



Uma barbearia só de gajos.
E então?
Há barbearias de mulheres?
E há mulheres que queiram ir a barbearias?
Digam lá mulheres: quantas vezes foram à barbearia com os vossos homens?
Não, isso de os convencer a ir ao vosso cabeleireiro não conta.
E se eles vos pedissem com muito amor e carinho "vem lá comigo ali à barbearia para eu cortar o cabelo e aparar a barba", quantas de vocês iam? Quantas iam a achar que era um programa a dois que valia mesmo a pena o vosso tempo?
Vá lá senhoras!!! Deixem-se de sensibilidades.
Quando vão à depilação ou arranjar os pés gostam de estar ali, lado a lado, com um gajo?
Eu não.
Talvez eu seja segregária, ou lá o que é essa palavra que se lembraram de ir desenterrar desta vez.
Talvez seja.
E quantas de vocês já se recusaram ir a clubs de strip porque "isso é um horror, uma porcaria, não sei o que vocês vão lá ver".
Pois eu sei. E percebo que gostem. E percebo que gostem ainda mais sem as suas mulheres por lá. É um momento deles.
Em tempos (espero eu que idos e longínquos) era impensável haver homens nas reuniões de Tupperware. Segregação?
Ainda querem comparar quem é que se safa melhor nisto de arranjar tempo e espaço só para os do seu género?

Segundo um dos funcionários da barbearia "se entrar uma mulher, o ambiente imediatamente muda".
Mas alguém é capaz de contestar isto?
Só se for alguém que não conheça nenhuma, o que deve ser para aí 0% da população mundial.
Deixem lá os rapazes brincar com coisas de rapazes.
Deixem-nos lá naquele mundinho retro/vintage/snob, a brincarem às barbas e aos bigodes, com cortes de cabelos patetas, metidos numas batas de velhos, a brincar aos homens crescidos.
Faz parte. 
Só quem nunca teve um homem na sua vida é que pensa que eles algum dia crescem. Não crescem, mas também não tem mal. Eles são assim, nós somos assado e é nisso que está a graça disto tudo. Um dia ficam velhos (que é diferente de ficarem adultos), olham para trás, e percebem que eram parvos mas, até lá, deixem-nos brincar.

Onde é que eu acho que esta gente meteu os pés pelas mãos?
Quando se quiserem armar em heróis e elevaram os cães a uma condição superior à das mulheres.
E a malta é sensível.
Se têm metido um letreiro com letras garrafais a dizer "NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A MULHERES", tirando meia-dúzia de feministas que por ali passassem, ninguém ia dar por aquilo.
Convenhamos: é uma barbearia, nós queremos lá saber. 
Até podem dar beijinhos no cu uns dos outros que nós nem vamos olhar.
Mas agora isso de dizer que os cães podem entrar mas nós não, é que fodeu o encanto todo à coisa.
Ponho-me aqui a pensar se, tirando a junção de palavras "cães" e "mulheres", existe alguma outra fórmula que levantasse esta onda de indignação, e tenho as minhas duvidas. Se a coisa não descambar para o racismo e para a xenofobia - que são coisas completamente diferentes e, para mim, condenáveis - não vejo mal em quererem um cena só para eles. Para esfregarem aquelas barbichas uns nos outros. A verdade, e isso é que nos dói, é que eles sabem divertir-se muito mais que nós. Sabem muito melhor como ganhar tempo e espaço para passarem só com eles próprios.

Só para finalizar, porque estou a sentir que tinha muito para dizer sobre o assunto, e quanto mais falo, regra geral, mais me enterro, deixo aqui uma pequena reflexão.
Qual das frases vos deixaria verdadeiramente chocadas, se vissem um letreiro à porta do vosso cabeleireiro, de gajas, entenda-se:
"NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A CÃES"
"NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A HOMENS"
"NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A CRIANÇAS"
"NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A CARECAS"
- "NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A PESSOAS COM PERTURBAÇÕES PSICOLÓGICAS"
"NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A PESSOAS QUE SE APRESENTEM ALCOOLIZADAS"
"NÃO É PERMITIDA A ENTRADA A LADRÕES"
- ...

Aceitam-se sugestões para meter ali no (...).



Cinco Mulheres





Um,
Dois,
Três, quatro...
Cinco.

Cinco mulheres à beira da solidão, precipitaram-se na tristeza e mataram-se.
Matou-se uma de cada vez.
Cada uma por uma razão.

A primeira mulher sofria de amor.
Mal comum esse, de ser destratada por quem se ama.
Não aguentava olhar o outro nos olhos e, de volta, receber um olhar baço e vazio.
Passou quinhentos e setenta e dois dias num desamor tão profundo que questionava a razão de viver?
Se não havendo amor na sua vida, continuaria a existir vida?
O que era isso da vida sem amor?
Será que o amor que dá sentido à vida era apenas este, o amor entre um homem e uma mulher?
A primeira mulher a sofrer, matou-se de tiro no peito.
Um recado que deixou, a quem não lhe soube amarrar o coração.

A segunda mulher sofria de solidão.
Um dia fora jovem e vivia rodeada de mundo.
De pessoas, de trabalho, de horários para cumprir, de chatices e azedices que, sabia-o agora, eram melhores companheiros que a solidão.
Tantas vezes maldisse a sua vida pelo tempo que não tinha e agora olhava para trás com toda a saudade. Com um desejo quase doloroso de querer retroceder no tempo.
Passava agora os dias vazios, com a cabeça cheia a questionar: o tempo só nos faz falta em novos e sobra-nos em velhos? Ou o que perdemos com o tempo são as pessoas e as coisas que o preenchem e não contrário?
A segunda mulher a sofrer, matou-se por electrocussão. Meteu os dedos molhados na tomada eléctrica e deixou-se ir.
Quis sentir-se viva, cheia de energia. Deu aos que a encontraram um grande choque e uma grande lição.

A terceira mulher sofria de nada.
Tantas mulheres desgraçadas que sofrem de nada. 
Umas com dinheiro, amor, carreira, saúde e alegria, queixam-se que não têm nada na vida. Que nada as faz felizes.
Que não há nada que as faça sorrir, viver, respirar, arfar. 
Quando lhe perguntavam o que afinal a poderia fazer feliz, respondia: nada!
Que nada a faria mais feliz que ser feliz mas que essa felicidade não se alcança do nada. Apesar de nada conseguir fazer.
A terceira mulher a sofrer matou-se por asfixia.
Simplesmente fechou a boca, o nariz, e não mais respirou.
Morreu como viveu: sem ser preciso fazer nada.

A quarta mulher sofria de incompreensão.
Entre ser incompreendida e não compreender os outros, esta mulher sofria de ambos os males.
Sentia-se isolada do mundo ou com um mundo só seu.
Nunca sabia se era ela que estava mal ou se eram os outros que não faziam um esforço para ver que ela estava bem.
Sentia-se tão incompreendida que chegava a questionar-se a si mesma sobre se ela teria alguma vez razão.
Mas lá compreendia que nada no mundo tinha compreensão e resignava-se à sua condição.
A quarta mulher a sofrer, matou-se, atirou-se a um poço.
Procurou o consolo para as suas inquietações no lugar mais fundo que conhecia. Quando chegou lá abaixo não entendeu nada.

A quinta mulher sofria de soberba.
Nasceu com tudo ainda nem o significado de tudo conhecia.
Ensinaram-na a gostar de si, a desdenhar os outros, e a tratar o mundo como se este fosse seu.
Não perdoava ninguém, deviam-lhe todos reverência e manipulava todos como marionetas.
Estava tão cheia de si que nunca viu como os outros também estavam cheios dela. Nunca percebeu que apenas falou e nunca ouviu.
Um dia, quando sem querer caiu do pedestal, ouviu finalmente um murmúrio à sua volta. De ódio, de rancor e de indignação.
Foi vítima das suas próprias convicções: olhou tanto para si que nunca compreendeu os outros.
A quinta mulher a sofrer, matou-se com um pedaço de espelho espetado entre as veias dos seus pulsos.
Morreu a olhar para si mesma, como, de resto, sempre viveu.


Há mulheres que dentro de si são cinco.
Ou serão mais?


22.2.15

Sejam mazé felizes, pá!






Dieta dos 7 Dias
Dieta dos 5 Dias
Dieta dos 3 Dias
Dieta Detox 7 Dias
Dieta Paleolítica
Dieta Macrobiótica
Dieta Vegetariana
Dieta Vegan
Dieta dos Alimentos Crus
Dieta do Leite
Dieta do Vinagre
Dieta do Ovo
Dieta da Aveia
Dieta da Beringela
Dieta do Limão
Dieta do Chá Verde
Dieta da Sopa de Repolho
Dieta da Banana Matinal
Dieta sem Glúten
Dieta da Proteína
Dieta da Seiva
Dieta Líquida
Dieta Seca Barriga
Dieta Vigilantes do Peso
Dieta da Restrição Calórica
Dieta das Calorias Negativas
Dieta do Carboidrato
Dieta dos Pontos
Dieta do Tipo Sanguíneo
Dieta Mediterrânea
Dieta Japonesa
Dieta Dukan
Dieta do Dr. Atkins
Dieta South Beach
Dieta da Lua
Dieta Fat Flush
Dieta da USP
Dieta da Zona
Dieta Gracie

A sério.
Não estão já fartas de comer sementes?
E de comer aveia?
E de beber sumo de limão?
E de mamar colheradas de óleo de coco?
E de fazer hamburgueres de coisas que não são de hamburgueres?


Melhor ainda, não estão já fartas de não ser felizes  mas também não verem resultados nenhuns?

A sério, sejam mazé felizes, pá!


20.2.15

Há homens que nos deixam


Frida Stenmark



Há homens que nos deixam
Loucas,
Desvairadas de tesão.
Deixam-nos perdidas por eles,
De corpos possuídos,
Ideias turvas,
Suadas de escravidão.

Há homens que nos deixam
Mudas,
Porque as palavras serão poucas.
Para agradecer-lhes a vida,
A comunhão,
Escasseiam-nos as palavras,
Quando o desejo une as bocas.

Há homens que nos deixam
Estúpidas.
De tão sábios que são.
Ficamos embriagadas,
De tão frondosa sapiência,
Olhamo-los nos olhos,
Ficamos sem chão.

Há homens que nos deixam,
Nas bermas,
Do nosso amor próprio.
Fazem-nos crer que nada somos,
Que lhes devemos a vida,
Destroem-nos a alma,
Consomem-nos os sonhos.

Há homens que nos deixam,
No passado.
Presas a nós mesmas,
A desejos irreais.
Agarrando-nos pelos ovários,
Por intenções que não tinham,
Iludindo-nos com desejos carnais.

Há homens que nos deixam,
A comer-lhes na palma da mão.
E nós, tontas,
O que fazemos?
Sucumbimos ao desejo,
Rebolamos de,
Tesão.


19.2.15

Houston, we have a problem...





Não é que isto seja importante mas, pessoas que me conhecem de outros carnavais, perguntaram-me se eu ainda tinha o blog porque nunca mais tinham visto actualizações no Facebook.
De facto, se tivesse olhado para o número de visualizações, tinha percebido que alguma coisa se passava.
E o que se passa, imagino, será uma alteração nas políticas de utilização do Facebook, que elimina as páginas do Feed de notícias de cada um, para obrigarem os seus autores a aderir aos inúmeros convites de divulgação e promoção da página... a pagar.

Pois eu não vou pagar para ter uma página de Facebook, muito menos do blog.

No entanto, em resposta aos que me perguntaram sobre o que se passava, sugiro que façam uma de duas coisas possíveis:

- Acedam à página do Dias Cães no Facebook e conforme assinalado na imagem ali em cima, seleccionem a opção "Receber notificações".

- Ou, na vossa barra lateral esquerda, por baixo da vossa foto de perfil, seleccionem a opção "Feed de páginas" para aparecer na vossa página apenas as actualizações de todas as páginas onde fizeram Like.


Pronto, era só isto.
Espero que estejam todos bem.
Beijos & Abraços



18.2.15

Chama-lhe inépcia





Perguntaram-me quando escrevo um livro.




17.2.15

Do vinho (III)

Almada Negreiros



Ele há surpresas!
Diacho!
Na entrada do terceiro cálice em cena, sou surpreendida por um peso nas costas. Daqueles pesos que levaram ao "entornanço" do primeiro cálice.
Caramba!
Que desperdício. Dois cálices ao ar e uma dor de costas que, não tarda nada, se haverá de transformar numa dor de cabeça. Daquelas que, há-de Deus pensar, mais parece resultado de eu ter entornado uma garrafa de Offley inteira, em menos de um ai.
Ai!
Que dores.
E que dissabores.
Que desconsolo. Que desalento. Tantos calores, tantas teorias, peso para cá, peso para lá, e terminamos com nada.
E isto é assim nos copos e na vida. Começa-se bem, o mundo promete, e depois derrapa-se com pouco estilo e o espalhanço é do mais escorregadio que podia haver.
Quando comecei o Porto, não era com este texto que queria terminar. Tinha em mente algo mais poético, mais profético e menos lúcido, certamente. Mas mais caloroso e menos fatalista. Mas a vida, ai a vida, ai o vinho... é sempre assim: já sabemos como acaba mas, mesmo assim, insistimos em começar.


Do vinho (II)

José Malhoa


Agora que o vinho já me aqueceu as miúdezas e graúdezas algures no peito e na garganta, vejo as coisas com uma estranha clareza. 
Afinal, isto de levantar e baixar um copo fica mais fácil conforme o avanço que se vai dando no néctar. E não, não é do peso que este faz no copo. Parece-me, e poderei estar errada, que o que acontece é que o peso passa a ser uma coisa relativa, secundária até. Pois vejamos: antes de beber o cálice, assim de uma assentada, pesava-me um mundo nas costas e, como as costas comandam as mãos e os pensamentos, pesava-me tudo muito. Pegar no copo, era pois, um sacrifício tremendo para quem ainda não tinha qualquer aquecimento.
Pois digo-vos eu que, depois do segundo copo cheio, é seguro afirmar que o primeiro copo era bem mais pesado que este. E que este copo é bem mais leve, independentemente, do número de vezes que o tenha de pegar e largar. Bem vistas as coisas, e sem precisar de teorizar muito sobre o assunto, posso garantir-vos que não era a quantidade de líquido que me cansava os movimentos mas sim o tamanho do incentivo. Da falta de incentivo.
Agora que termino o segundo copo, já nem me aguento para ver o que acontece com o terceiro. O Nirvana, o céu, uma matança de porco algures no Minho. Com certeza que a iluminação será diferente e, certamente, mais leve e terna. O peso do copo passa a ser uma coisa relativa, secundária até, e o bem-estar da alma engrandece-se e, no mundo das almas, nada tem o peso que damos a esta vida.



Do vinho (I)

Paula Rego


Passa pouco das nove da noite e aqui estou eu, sozinha, na companhia de um cálice de Porto na mão.
Ou no braço do sofá. Sinto demasiada preguiça para o segurar. Por isso está ali pousado e quando o quero bebericar ora estico, ora encolho, o braço para o alcançar. Talvez, bem vistas as coisas, o esforço até seja maior que aquele que faria se segurasse sempre o copo e o largasse apenas no fim de o acabar de beber.
Nunca saberei. Não vou, tampouco, testar o tempo e o esforço empregue no esticar e recolher o braço para agarrar num copo e voltar a pousá-lo. Teria a variável do peso do Porto que irá, necessariamente, diminuir à medida que a minha degustação avançar. Quanto mais leve o copo, mais ligeiros se tornariam os movimentos, e menos cansada eu ficaria. Mas apenas posso teorizar sobre o assunto. Tudo o resto, o resultado concreto, daria demasiado trabalho a alcançar. Afinal, bem vistas as coisas, não passa de um cálice de Porto que dentro de pouco tempo estará consumido por uma solidão nocturna.
Talvez, e apenas talvez porque essas certezas também demorariam muito tempo a conseguir obter, se o cálice de Porto fosse bebido numa quente e alegre tarde de Verão, este pesasse menos. Ou, pelo menos, cansasse menos, porque me apossaria dele por períodos mais prolongados mas em menores vezes. Ou seja, não o largaria tanto, com a urgência de o beber mais rápido, e isso talvez me cansasse menos.
Mas isto seria apenas um talvez, porque, bem vistas as coisas, analisar as variáveis das coisas que nos cansam, cansa tanto ou mais, que o tempo e a maçada que levaria para as seria analisar.




14.2.15

Super-Tudo




Nasceste valente, feito para a vida.
Foste forte quando ainda nem sabias que o ias ser.
Que o ias ser por toda a vida.
Foste herói quando ninguém te o exigia.
Salvaste pessoas quando eras tu quem precisava de socorro.
Quando gritavas dentro de ti por ajuda.
Aguentaste tudo em silêncio na esperança de esse silêncio os salvar.
Porque lhes és grato e sabes que a tua desgraça os iria desgraçar.
Porque lhes tens um amor maior que a própria vida.
E por isso, por mais que também tu precisasses de ser resgatado dos lugares profundos e difíceis por onde andaste, mantiveste sempre a trajetória. 
Mesmo quando tudo indicava que te ias despenhar.
Aguentaste os voos impossíveis, com todos os que te amam às costas, e com todos os destinos por traçar porque, sem saberes, era essa a tua missão.
Por essa altura, mesmo com a tua negação, já todos sabiam que eras um Super-Herói.
Que ias vencer tudo e todos e que era isso que ia livrar-te a ti mesmo de todas as desgraças.
Que o teu amor pelos outros ia ser a tua salvação.
Mas enquanto os outros te enalteciam as virtudes, tu cresceste tímido, escondido numa capa.
Cresceste a olhar-te como fraco quando todos os outros viam um ser forte.
Pleno de Super-Poderes.
Mas não o reconhecias e viveste amargurado.
Com voos baixos, quase a perder o rumo, na iminência de um despiste.
As forças faltaram-te mesmo com a capa posta.
Mesmo com o punho erguido.
O menino tomava conta do homem e perdia-se.
No silêncio do teu refúgio, sem nunca o dares a saber, sei que as forças muitas vezes te faltaram.
Mas a tua maior virtude esteve, precisamente, nas tuas fraquezas e não nos teus feitos.
Esteve naqueles momentos em que voavas de um lado para o outro, de capa intrépida e alma desfeita mas, ainda assim, com ganas de fazer tudo para ajudar quem precisava.
Foste, és, verdadeiramente, um Super-Homem com um Super-Coração.
És um Super-Herói.
Um Super-Ser-Humano.
Um Super-Filho-Irmão-Marido.
Um Super-Lutador.
Um Super-Sobrevivente.

Meu amor, tu és o meu Super-Tudo.


12.2.15

"O Ofuscante Poder da Escrita"



O Ofuscante Poder da Escrita


O sentido da literatura, no meio dos muitos que tenha ou não tenha, é que ela mantém, purificadas das ameaças da confusão, as linhas de força que configuram a equação da consciência e do acto, com suas tensões e fracturas, suas ambivalências e ambiguidades, suas rudes trajectórias de choque e fuga. O autor é o criador de um símbolo heróico: a sua própria vida. 

Mas, quando cria esse símbolo, está a elaborar um sistema sensível e sensibilizador, convicto e convincente, de sinais e apelos destinados a colocar o símbolo à altura de uma presença ainda mais viva que aquela matéria desordenada onde teve origem. O valor da escrita reside no facto de, em si mesma, tecer-se ela como símbolo, urdir ela própria a sua dignidade de símbolo. A escrita representa-se a si, e a sua razão está em que dá razão às inspirações reais que evoca. E produz uma tensão muito mais fundamental do que a realidade. É nessa tensão real criada em escrita que a realidade se faz. O ofuscante poder da escrita é que ela possui uma capacidade de persuasão e violentação de que a coisa real se encontra subtraída. O talento de saber tornar verdadeira a verdade. 

Herberto Helder, in 'Photomaton & Vox' 


11.2.15

Repetições # 5


Hoje é dia de voltar à etiqueta "Repetições".
Hoje, uma ano passado, voltei a sentir-lhe a presença.







"Em 1907, para tentar provar que a alma existe e tem peso, o médico americano Duncan MacDougall, pesou seis pessoas antes e depois de morrerem e constatou que o ponteiro da balança quase sempre descia.
O instrumento de trabalho de MacDougall era como uma enorme balança de dois pratos. De um lado ficava o paciente em estado terminal, deitado numa cama, do outro lado o médico colocava pesos equivalentes.
A primeira cobaia foi um homem com tuberculose, que ficou sob observação durante 3 horas e 40 minutos. Nesse tempo, perdeu peso aos poucos, em média 28 gramas por hora e, de repente, morreu. Segundo o médico, o prato da balança subiu, registando a perda dos famosos 21 gramas. "No instante em que a vida parou, o lado oposto caiu tão rápido que foi assustador", disse o médico ao jornal The New York Times.
Mas o peso registado nos outros pacientes foi diferente. O segundo teria perdido 46 gramas. O terceiro, 14 gramas e, alguns minutos depois, mais 28. Com o outro, o ponteiro da balança desceu e depois subiu novamente. Segundo o médico, a diferença tinha a ver com o temperamento de cada um. "Um dos homens era apático, lento no pensamento e na acção. Nesse caso, acredito que a alma ficou suspensa no corpo, depois da morte, até se dar conta que estava livre."
Para comprovar a sua teoria, MacDougall fez o mesmo teste com quinze cães e nenhum deles teria perdido um grama sequer. Conclusão: homens têm alma, cães não. Será que existe alguma verdade nos estudos de MacDougall? 
"Não", afirma o autor do livro "Morte ao Pó: O que Acontece com os Cadáveres?", Kenneth V. Iserson, da Universidade do Arizona. Iserson chama a atenção para o fato de o ar ter peso, coisa que MacDougall não levou em conta, e diz que não existe "o" momento da morte. "O processo pode se esticar por dias ou semanas". Mesmo com todas essas contradições, MacDougall é conhecido até hoje pela sua teoria dos 21 gramas."

In Wikipédia [tradução livre]


Encostei o meu ouvido ao seu peito, naquele preciso momento em que suspirou. Senti a alma desprender-se do corpo. A pairar sobre o quarto. Sobre o seu corpo velho e sobre mim. Ali paradas. Sem saber o que se seguia. Sem saber a qual das duas cabia o passo seguinte. Aguardei, com cerimónia, uns minutos. Nunca me tinha passado a morte pelas mãos. Nem sabia se era aquilo a morte: simplesmente morrer. Largar o último quinhão de ar. Ficar inerte. Abandonar um corpo usado. Seguir com a alma para outras vidas. Juraria, se preciso fosse, que lhe vi a alma despedir-se do corpo, como uma neblina levantada com um sopro. Juro que aquela alma viveu além da morte. Eu vi.

Olhei-lhe o rosto antes da partida. Olhei depois. Não era a mesma pessoa. Mas eu tive-lhe o mesmo amor. Era o corpo da mulher velha, que deu vida à vida que me fez viver. Amei-a na despedida como nunca terei amado na chegada. Em todo o caminho. Amei-a mais depois de um adeus que ela nunca chegou a saber que lhe fiz.
Morrerei eu, um dia, e o arrependimento de um amor tardio não me salvará. Talvez, quando a minha alma chegar até à sua, lhe possa dizer o quão agradecida estou por me deixar assistir à sua morte. Por ter esperado por mim para a ver morrer.
Ela amou-me mais ali. E não me doeu. Agradeci-lhe a partilha deste momento comigo. A sós.

Depois vieram as outras pessoas. Foi-se o nosso momento, o nosso silêncio. Vieram os rituais em que, sei, não acreditava. Choraram pessoas que, sei, não a amavam. Naquele dia que entregámos o seu corpo velho e magro, foi-se a crença de um céu e de um Pai que nos acolhe. Perdeu-se a magia. A história passou a ser outra. Levaram-nos a alma e deixaram-nos cá o corpo sem significado. Deixaram cá aquilo de que não se conseguiram livrar. Deixaram-nos um corpo para mandarmos para a terra. Para o lixo. Mas a nós também nos custa, sabiam?


[Soube que tinha morrido quando lhe olhei o rosto e vi que já não era ela quem ali estava. Restou apenas um corpo. Foi-se a alma. Não se sabe para onde.]


7.2.15

Je suis Dias Cães




O meu   Dias Cães   completa hoje 4 longos anos.


Já o disse uma vez e volto a dizer: este blog foi a melhor coisa que fiz acontecer na minha vida.




4.2.15

Porque é que o céu é azul?




Soubesse eu o que faz o céu azul,
E já me teria pintado.
A cara,
As mãos.
Este amor velado.
Na cor carmim não.
Seria pecado.
Pintaria,
Nos lábios,
O peito,
Talvez num amor,
Num passado.

Pintar de preto,
Seria a solução?
Não ousaria tal.
Pois não.
Pois não.
Não pintaria as artérias,
Nem mesmo o coração.
Esse azul precioso,
Não o gastaria, 
Tampouco em vão.
Pintaria-o de outra cor,
Da cor,
Da solidão.

E o branco,
Nalgum sítio seria pintado?
Talvez nos sonhos,
Talvez.
Não vês que o branco,
É a cor da sensatez?
O azul,
Rendida me entrego,
Guardarei na minha tez,
Nas recordações,
Na lucidez.
Porque o azul foi a cor da minha aura,
Quando me apaixonei,
Pela primeira,
Vez.