20.11.17

A Liturgia e o Preço Certo




Ontem fui à missa. Permiti-me ir sondar o meu estado de espírito e talvez esperasse alguma serenidade mas, por alguma razão, senti uma grande inquietação e, não, não é no sentido "do espírito que se inquieta com Deus". Deixemo-nos disso...

A verdade é que, em vez de me sentir envolvida e concentrada no momento, é-me muito difícil abstrair da envolvente e interiorizar o ritual litúrgico, quando dois terços da missa continuam a ser o que já eram desde que me conheço: uma repetição de frases feitas, entoadas como mantras, sempre nos mesmos momentos, com a mesma cerimónia. É caso para dizer que quem viu uma já viu todas. E isto não fideliza clientes. Até percebo, até determinado ponto, que a repetição e a entoação, proporcionem relaxamento mas, tal como no yoga, às tantas tens de mudar de posição ou começas a ficar entorpecido e perdes o interesse em ir à próxima aula. Por exemplo, eu gosto muito de ver o Preço Certo, mas não pode acontecer existirem sempre os mesmos prémios, com os mesmos preços, a Lenka estar sempre de minissaia, o gordo dizer sempre "espetácle", a roda calhar sempre no 100, e a montra final ser sempre 22 mil euros e no final, o mesmo homem com um pullover de malha grossa de mil nove oito nove, ganhar. Em algum momento, a Lenka tem de ir de calças, o prémio maior tem de ser uma caixa de rebuçados em vez de um carro, e o concorrente tem de esbardalhar-se por 5€. Caso contrário, qual é que é o propósito? Se eu já sei que todos os dias passam o mesmo programa, porque é que eu o hei-de voltar a ver todos os dias durante trinta anos?
A missa é isto. Perdoem-me, mas é.
Talvez com excepção para a homilia que, dependendo do talento do orador, pode ser enriquecedora ou parecer uma conferência de imprensa do Manuel Machado. Ontem, ainda que tivesse começado bem com uma leitura do Livro dos Provérbios sobre os dons das mulheres, e um provérbio é sempre fonte de sabedoria e reflexão, depois a homilia pareceu mesmo um misto de Manuel Machado com um piquinho de Manuel Maria Carrilho. Mas podia ser eu a escalpelizar já demasiado.

Assim, não é difícil perceber porque é que os meus pensamentos se dispersam e, quase sempre, tendo em consideração o contexto sagrado, eu diria, acabo a pecar. Ora reparo na pessoa que chega a quinze minutos do fim da missa, ou olho para o padre e não consigo evitar a comparação com o mestre Yoda, ou reparo que há um pozinho que já precisava ser limpo, ou penso nos número de mãos por lavar que já se enfiaram naquela pia de água benta, ou impressiono-me com a falta de mestria do senhor padre ao meter meia hóstia das grandes na boca como se estivesse a comer umPringle. A mim ensinaram-me que não se roía a hóstia! Ou engoles inteira ou vais desfazendo no céu da boca com a língua, mas mandar uma trinca é que era um grande sacrilégio no meu tempo! 
Na hora da comunhão também não sou branda com os pensamentos críticos: sou a única a ficar sentada no banco. A única! Ora bem, no meu tempo, comungava quem se sentia de bem com Deus, com os Irmãos e com o mundo em geral. Claro que isto pode ser vago porque a consciência de cada um varia muito mas, pergunto-me, será que toda aquela gente se porta bem 24 horas/dia, 7 dias/semana? Toda a gente é bom pai, bom filho, bom amigo, colega, funcionário, cristão? Epá, fiquei mesmo lá na merdinha porque no meu exame de consciência eu chumbei em mais de 50% dos critérios de avaliação e isto não dá direito a hóstia. Depois tentei tranquilizar-me e pensei que, pelo menos, era sinal que ali, naquele local, só estava rodeada de pessoas do bem que já atingiram o nirvana (não, não pensei nada). E nisto, lembrei-me de uma tia minha dizer que tomava sempre a hóstia porque não tinha pecados (ai filha...) e, por pecados, queria dizer que não tinha cometido pecados capitais ou ido contra os dez mandamentos. Pois, eu até espero bem que não. Assim de repente, apraz-me que ela nunca tenha matado ninguém, nem cobiçado a mulher alheia, ou invejado a galinha do vizinho, porque não se espera menos de um bom cristão. No entanto, pergunto-me, se é só desta check list que se faz um ser humano honrado e digno de receber Jesus dentro de si (que é como quem diz: estar em condições de receber a hóstia).
Pois eu não comungo, talvez, há uns dez anos. Acho que a última vez que o fiz foi quando a minha avó morreu, por respeito, e porque nesse momento o meu coração estava em paz. Fora isso, nunca mais me achei em condições de receber Jesus porque nunca mais "limpei a casa", não pratiquei a minha vida cristã e não mantive como hábito o sacramento da confissão que, lá está, no meu tempo era uma espécie de ritual detox pré-comunhão. Era uma espécie de "a menina não paga mas também não anda" da igreja católica. E eu, não sendo de longe a mais fiel das servas, uma coisa na minha vida sei: existem regras, se não estás disposta a segui-las, salta fora. E eu saltei fora.

Uma nota positiva, mais ou menos, nesta cerimónia - e isto depende dos padres e das igrejas - é que já não se dá o beijinho ao vizinho. Digo "mais ou menos" porque a intenção do ritual é boa mas nunca sei se me apetece alinhar. É uma espécie de ritual de abertura do Web Summit: levantem-se e dêem lá uma beijoca e um abraço ao colega do lado e a seguir cantamos o Kumbaya. Mas sem a parte fashion da coisa... e sem o kumbaya.
Eu sou das que sente o constrangimento de cumprimentar quem não conheço mas é igualmente constrangedor veres os meninos todos a darem beijinhos entre si e tu ficares de fora. É como se não gostassem de ti mas tu precisares da aprovação de todos. Há qualquer coisa de friozinho bom na barriga. Por isso, lá te arrastas um banco meio para o dar o beijinho à senhora que nem sabe rezar o Pai Nosso e apertar a mão ao cavalheiro que rezou a missa toda de cabeça baixa, sabe Deus porquê.
Apesar de tudo, e dos momentos de incompreensão do que se passa na maior parte da liturgia, ainda assim, algo dentro de mim me diz, que a melhor parte deste Preço Certo, é mesmo aquela em que, genuinamente, as pessoas dão beijos ao gordo e agradecem ao senhor presidente da junta ter emprestado o autocarro. E é isso que é uma pena estar a perder-se.


10.10.17

A M O - T E   .    P A R A   S E M P R E  .


                                                

                                       

5.10.17

Todos Mundo



Tenho saudades do mundo de há dez mil anos.
Aquele em que eu não existia.
Aquele em que todos éramos ignorantes.
Em que a terra era plana e ninguém contestava.
Em que as noites se sucediam aos dias sem ninguém fazer perguntas.
E as pessoas eram bichos e os bichos eram pessoas.
Todos iguais.
Sem consciência do indivíduo, do coletivo e da própria existência.
Éramos ramos caídos no solo, num solo pisado pelo Sol, de um Sol que ninguém sabia existir.
Éramos felizes sem o ser porque naqueles tempos não havia felicidade.
Nem tristeza, nem ódio, nem solidão.
Porque não havia nada.
Havia apenas brisa e a brisa batia em todos da mesma maneira.
Mortos, vivos, pessoas, bichos, pedras, mar.
Éramos todos iguais. Todos nascidos e morridos do mesmo e para o mesmo.
Sem história.
Éramos todos mundo.
Hoje não somos nada.


Tenho saudades do mundo de há dez mil anos.
Aquele em que eu não existia.


18.9.17

E agora, algo completamente diferente!





A minha afilhada mais pequena, disse hoje à mãe:

"Mãe, gostava de experimentar ter um filho mas gostava que fosse anão, para ficar sempre assim pequenino".


Ora bem, acho que a humanidade concorda em dar o prémio "Diz lá a cena mais marada, sinistra e perturbadora  que te lembras" a esta criança. Ou então é de mim, que estou sensível.
Mas cheira-me que isto é só o primeiro capítulo de outros que se estão por desenrolar.

[Mãezinha, não a queiras mandar exorcizar, não!]



Cães vadios

Lee Jeffries



Na noite,
Há os cães e os vadios.
Almas moribundas,
Perdidas.
Corpos perdidos,
Devastados.
Consumidos pela solidão,
Pela vida,
Pela morte,
Por tragédias e desgraças.
São gente viva,
Mas sem vida.
Uns há,
Que nem gente são,
São cães,
São vadios.
São os restos,
Da civilização.

14.9.17

Está tudo bem...




...Porque o Tony vai continuar a ser:

- Um grande azeiteiro;
- Milionário, mas azeiteiro;
- O tipo que não canta ponta de um chavelho;
- O tipo de quem já ninguém espera melhor (é óptimo viver sem a pressão de ter de ser um Beethoven);
- Que usa o cabelo à Paulo Bento;
- Que usa há vinte anos o cabelo à Paulo Bento;
- Que usa tanga de lycra da Speedo;
- Que escondeu que tinha uma família "por causa das fãs" (ahahahah, tá bem, ó Tony!)
- O tipo que está numa crise de meia-idade e "adora" a ideia de ser avô (só que não);
- Que deixou a mulher quando ela estava mesmo boa;
- Que gosta tanto de música como eu de lagares de azeite;
- Aquele que fez o melhor uso da palavra do ano 2016, segundo o Dicionário Oxford*;
- A pessoa que vai continuar a deter o recorde de ajuntamento-de-mais-mulheres-bimbas-por-centímetro-quadrado-em-circuito-fechado-e-a-preços-pornográficos;
- E que vai continuar a rir-se de tudo e todos...

(... incluindo do José Cid, que é outro que também se deve estar, positivamente, pouco cagando para penteados. Estão mais unidos do que pensam, irmãos).




*Pós-verdade
Segundo a definição dos dicionários Oxford, pós-verdade ('post-truth' em inglês) é um adjetivo que faz referência a "circunstâncias em que os factos objetivos têm menos influência na formação de opinião pública do que os apelos emocionais e as opiniões pessoais".






7.8.17

Não, isto não interessa nada.





Não tenho escrito nada mais porque penso em mil coisas ao mesmo tempo, e o pensamento é mais rápido que a escrita, do que propriamente por falta de assunto.
Se há coisa com que a vida não me tem faltado é com assuntos, e temas, e episódios, dignos de ser partilhados.
Neste momento, depois de ter preparado um esparguete (o corretor ortográfico do blogger diz-me que se escreve espaguete. Spé bem, este corretor) à bolonhesa sem glúten, sem lactose, sem sal, sem sabor, aterrei aqui no sofá, ainda de avental - coisa que não envergava há anos - e deixei-me colar à televisão. A ideia era relaxar mas, honestamente, não faço a mínima ideia do que vi durante os últimos trinta minutos porque esta cabeça está mais congestionada que a linha verde em hora de ponta. Nestes trinta minutos a olhar para a televisão, mas sem ver nada, pensei:
- Tenho mesmo de lavar o chão hoje.
- Tenho a roupa que está em pilha, qual Torre de Pisa, para passar a ferro.
- Fizeram-me mais um risco no carro. Foi o tal fulano: "Ai tal, posso fotografar o seu carro exótico?", o gajo já me estava era a lixar. Foi ele. Deve ter sido. Ou foi no parque?
- Enganei-me outra vez a comprar os cereais.
- Esqueci-me do papel higiénico, outra vez...
- Hmmm, gostei do esparguete sem glúten? Não sei. Talvez sim. O melhor mesmo é deixar de comer esparguete.
- Comi um pastel de nata à tarde. Porra. Tem glúten... E açúcar... Não te fazia falta. Caraças...
- O que é que se passou pela mona da Maria Vieira? Gostava dela...
- E o Dr. Gentil Martins? Ai, por céus... 
- O curso de costura está a ser um bocado banhada. Tenho de inventar uma desculpa para desistir. Uma desculpa, uma desculpa, desculpa... já paguei. Gaita, tenho de continuar a ir.
- Está calor, tenho de me ir despir.
- Onde é que compro lycra às riscas?
- Tenho as pernas inchadas. Devia voltar às massagens. E ao yoga.
- Tenho de marcar a consulta com a psicóloga. Amanhã, ou depois...
- Tenho a cozinha por arrumar. Tenho de a ir arrumar. Não sejas lontra;
- Podia dormir uma sestinha... 10 minutos... tenho tempo de arrumar tudo depois;
- Vá, levanta-te mulher!!!!
- Amanhã entro de férias. Nice. Tenho tempo amanhã para fazer tudo;
- Recursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos HumanosRecursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos HumanosRecursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos Humanos. Recursos DEShumanos.
- (estúpida, idiota, burra, parva, sonsa, fingida, estropício, cobra, vaca, porca,  falsa, incompetente, otária...)
- Respira. Amanhã já estás de férias. Inspira! Expira... Inspira! Expira... Inspira! Expira...
- (estúpida, idiota, burra, parva, sonsa, fingida, estropício, cobra, vaca, porca,  falsa, incompetente, otária...)

- Porra. Que dor de cabeça... estou feita em pickles...


19.7.17

Tenho tudo



Estava aqui a pensar na vida.
Na minha.
Num exercício para tentar entender o retorno que o universo me está a dar.
E compreendi rapidamente que na minha vida há de tudo.
A minha vida é, simultaneamente, triste e bonita.
A minha vida é boa e é má.
É serena e é eufórica.
É complicada e é simples.
É romântica e é dramática.
Tem terror e tem comédia.
Tem letargia e tem ação.
Tem amigos e tem inimigos.
Tem ódio e tem amor.
Tem medo e tem coragem.
Tem gratidão e tem cobrança.
Tem conforto e tem aridez.
Na minha vida há sentimentos e há o vazio.
Há motivação e há inércia.
Há inteligência e há ignorância.
Há deslumbramento e há desilusões.
Há encantamento e há realidade.
Há o sangue e há as escolhas.
Há decisões e há incertezas.
Há fé e há dúvidas.


Tenho tudo na minha vida.
Tenho tudo.
Apenas ando a valorizar as coisas erradas.


8.7.17

Epifanias




Há um dia em que aquela pessoa, que não é mais que apenas uma pessoa na tua vida, se torna muito mais que uma pessoa até mesmo dentro da pessoa que ela é.





7.7.17

Fingimento




Neste momento existe um grupo de pessoas felizes, a conviver, a comer, a beber copos e a conversar. A serem pessoas, no fundo, e eu fugi de lá. Sem sair. Evadi-me apenas.
Das coisas mais curiosas que podemos sentir, é quando o nosso corpo não é nosso e estamos dentro dele a observar o que se passa lá fora.
Hoje sinto-me assim. Como em tantas outras vezes. Ou estava a sentir-me assim naquele grupo de pessoas. Os meus olhos pareciam observar uma cena fora da realidade e eu estava ali a forçar-me a ser como eles. A reagir, a conversar, a sorrir, a andar, a movimentar-me como todos eles.
Aquele grupo de pessoas felizes, estavam todos tão felizes como eu. Aposto. Talvez seja isso. Uma espécie de pólos invertidos que acabam por se repelir em vez de se atraírem. Talvez cada um, à sua maneira, estivesse a encenar a sua verdade. E eu, dentro daquele corpo emprestado, observava, não segura, o que cada um estava a tentar fazer. Perante olhares desatentos até diria que alguns cumpriram bem o seu papel mas outros denunciaram o que eu suspeitava: estávamos todos dentro de outros corpos que não queríamos estar. A representar papéis que não queríamos representar.
É trágico, e simultaneamente fascinante, observar-se a cena estando em palco. Se, por um lado, fazemos parte do elenco e isso nos coloca no papel que não queremos desempenhar, por outro lado, temos a possibilidade de ver de perto a dança de todas as personagens. A representação. Os risinhos e as amarguras que mais não são que emoções arrancadas de um guião. Inconscientes, mas, ainda assim, encenadas.
Estar no palco, é poder ver o desconcerto de cada uma das personagens quando se esquecem de uma deixa. É ver as pessoas a encruarem-se. A serem reais por milésimos de segundo. A serem aquilo que deveríamos ser sempre: nós próprios.
Apesar das mãos suadas de ansiedade, os palcos onde cada um se encontrava a representar nunca foram abandonados. Seguem, mesmo à deriva, com um guião improvisado, na esperançada angustia que ninguém repare naquele desconcerto. Que o público, que mais não é que parte integrante do espectáculo, não repare. Não vai reparar. O público anseia que ninguém olhe para eles e lhes desvende o mesmo mistério. Afinal, não há palco nem plateia. Estamos entre iguais. 
Eu há muito que abandonei o meu lugar, com a habilidade de um bom actor que já desistiu da peça mas ninguém reparou. Apenas me mantenho de pé. Com as pernas firmes e o rosto estendido. Para ninguém desconfiar. Assim, o drama não toma conta de todos e não se alastra como um rastilho desgovernado.
Assim, só eu, apenas eu, sei aquilo que todos sabem dentro de si mas não ousam, sequer, a si próprios confessar: somos todos fingidores.




17.6.17

17.06.2017



O mundo acabou.
Naquele dia pôs-se tudo negro e o céu uniu-se ao chão.



14.6.17

Serei só eu?





Aquela sensação de que passas a vida no trabalho...

... mas depois recebes uma carta dos Recursos Humanos para justificares horas em falta...



[e saberes que quando sais às 18:00 já não está ninguém a trabalhar, mas ninguém parece estar tão em falta como tu... dassss...]


13.6.17

Tamanho da noite




Se a noite fosse tão vasta como o amor que te tenho, 
Não se contariam os dias,
E as noites não teriam nome.
Porque não conheceriamos mundo para além delas.

9.6.17

Os meus dias




- Acordo cansada
- Muito cansada
- Arrasto-me numa valsa desconcertada entre o quarto e a casa-de-banho
- Acordo novamente
- Agora a sério
- Vou para o trabalho
- Bebo café
- Devia beber mais
- Começo a pensar nas horas a que quero sair trabalho para ir para casa dormir
- Começo a pensar nas horas a que tenho de ir almoçar
- Almoço
- Arrasto-me entre o gabinete e o corredor com sono
- Sinto sono
- Muito
- Começo a pensar nas horas a que quero sair do trabalho para ir para casa dormir
- Ainda faltam muitas horas para sair
- Aguento...
- Aguento...
- Aguento...
- Já posso sair
- Vou a correr para casa
- Fuck me... ainda lá tenho um pedreiro
- E um pintor
- Porra, tudo sujo
- Porra, tenho de fazer limpezas
- Não. 
- Olha o sofá
- Deita-te no sofá
- Não.
- Devia ir fazer uma caminhada
- Devia ir ao supermercado
- Devia fazer o jantar
- Acorda Inês!
- Devia pôr roupa a lavar
- Devia estender roupa
- Devia passar roupa
- Devia meter louça a lavar
- Acorda Inês!
- Devia ler
- Devia escrever
- Devia tomar banho
- Tenho tanto sono
- São só dez minutinhos
- Depois é que vai ser
- Tenho tanto sono
- Pronto, vá, dez minutos
- Ahhhhhh... que bom.
- Dez minutos

- Porra...
- 1:00 da manhã!!??!!??


Vá Inês, agora a sério: amanhã é que é!

3.6.17

T-shirts: esse flagelo



Considerando que a minha vida toda nunca foi propriamente uma loucura mas que, sobretudo,  ultimamente tem sido mesmo bastante aborrecida,  permiti-me esse grande sacrilégio que foi vir ao Colombo a um sábado e passar cá um dia in-tei-ro.
Chupem lá isto, pessoas que passaram o dia no maat a ver coisa nenhuma.

Mas dizia eu, que decidi arriscar algo de surpreendente na minha vida que foi vir para uma grande superfície de consumo, totalmente fechada, com um cartão de crédito e com um grande "que se foda na cabeça".  Estava numa de vir fazer o investimento que fosse necessário em t-shirts, porque cheguei à conclusão que tenho as gavetas cheias não sei de quê, e nos cabides tenho muitas camisas e blusas que já não se compadecem com estes calores VS a pouca paciência que tenho para me vestir de manhã.
Bom, e cá vim eu nesta missão.
Pois que daqui,  em direto do CC Colombo, vos digo: RIP t-shirts.
Pergunto: o que é que aconteceu com as t-shirts?  Faleceram? Extinguiram-se? Deu-se a Era glaciar das t-shirts?
A t-shirt está em vias de extinção e é difícil pra caramba de encontrar - dentro dos meus padrões,  obviamente - uma camisola normal.  Ou normal-gira. Normal-tchanan. Normal-Inês. Quem me conhece há-de perceber o que quero dizer com isto.
Agora vemos tops.  Ou blusas.  Ou sweats. Ou camisas. Ou coisas que nem sei o nome.  Mas coisas que,  invariavelmente,  quando são giras,  são curtas de tecido (partem do princípio que só as magras é que gostam de arrasar),  ou quando têm tecido que chegue,  também têm censura que chegue e são chatas, chatas, chatas.
Isto está quase ao mesmo nível da missão impossível que é comprar umas calças de ganga normais.

Bom, mas na dúvida sobre esta coisa de não haver t-shirts à altura,  comprei umas sandálias.

Talvez ainda volte para fazer um capítulo sobre os habitantes do Colombo,  que é coisa que também gosto muito de observar. Pelas roupas que envergam ainda não percebi se aqui dentro está inverno ou está verão.
Até já.



Um dia sou despedida





Estou pelas pontas dos cornos com as pessoas, mais à conversa sobre a incompetência dos funcionários públicos.

É sempre a mesma puta da ladainha que os funcionários públicos é que arruinam com a vida das pessoas.
Que os funcionários públicos são umas putas de borda de estrada que se vendem por meia-dúzia de tostões. Que são corruptíveis por um par de meias de descanso. Ou, então, que os funcionários públicos são uns inflexíveis do caralho. Depende daquilo que der muito jeito ao requerente. Pronto, aqui vá, já é uma questão de conversarmos, não é suas pêgas?
Também adoro quando começa a conversa que os funcionários públicos só vivem de regalias. Se há porra de regalia a invejar (além do esplendoroso ordenado, upa, upa! progressão na carreira, motivação, avaliação, colegas a cheirar a refugado...) é pagar o seguro de saúde mais caro do país. Aquela coisa chamada ADSE e que custa pouco mais de 50 paus/mês. Querem?
Mas, talvez a melhor, é a ideia generalizada de que os funcionários públicos não trabalham. Foi assim uma merda de um boato que surgiu tipo "O Markl tem graça", e às tantas as pessoas começaram mesmo a achar que sim e a espalhar a palavra. E o que não era bem verdade, tornou-se numa verdade indiscutível.
E eu pergunto: ai não trabalham? Então andam todos a fazer o quê? Ai esperem, estou-me a fazer de sonsa, eu sei:
Passam a vida no café a coçar a rata, a conversar sobre o Love on Top, a rir em voz alta e a ver a Nova Gente, enquanto uma fila de malta por atender se acumula no guiché.
E também têm outra tarefa, aquela que os fez reencarnar neste mundo e que é a sua missão na terra: infernizar a vida às pessoas. Por nada. Assim racionalmente, não há razão nenhuma, mas o deuses, há milénios atrás, acharam que tinham de se criar grupos de pessoas que só soubessem dizer que não a tudo, a outros que só queriam que se lhes dissesse que sim a tudo. 

Na década de noventa havia uma publicidade institucional, de carácter pedagógico e cívico (foi quando deixámos de cuspir para o chão. regredimos entretanto), que dizia:
PORTUGAL NÃO É SÓ TEU!

Devia ser recuperada.
Estamos cada vez mais egoístas e estúpidos. Bestas. Para com os funcionários que trabalham para nós, público.
Respect!


Pronto minha gente.
Fica este leve apontamento de fim-de-semana.
A bem da nação, e talvez do meu contrato de trabalho, chegou a sexta-feira.

[Deixo um agradecimento especial ao meu colega do lado que me deixou exprimir livremente nestes últimos dias recorrendo a vocabulário pouco próprio, e que ainda sorria como se estivesse a achar a alguma graça quando ambos sabemos que já nem me estava a ver.]


1.6.17

1 de Junho de 2016




No dia 1 de Junho de 2016, para mim, não existiu Dia Mundial da Criança.

No dia 1 de Junho de 2016, num exame pré-natal de rotina, foi diagnosticada uma malformação congénita grave, incompatível com a vida, no meu bebé.
Estava nas 22 semanas de gestação.

No consultório às escuras, ouvia-se "Bed of Roses" dos Bon Jovi. A médica marcava o ritmo da música com a ponta do pé e tinha os olhos colados ao ecrã. Apesar do Jon Bon Jovi se esforçar nas notas, senti um profundo silêncio.
Percebi que não ia sair dali a mesma Inês que entrou. E não saí. 

Apesar da sentença que levava nas mãos, as pernas bambas ainda conseguiram providenciar uma série de diligências que importavam antecipar, a cabeça ainda conseguiu não correr para o telemóvel a gritar por ajuda, e os olhos aguentaram estoicamente, devo dizer, o que pensava ser apenas um par de lágrimas. 

Aquele dia da criança ficou cristalizado no tempo. Lembro-me de cada minuto. E isto é de uma estranheza indescritível. Recordo-me das horas antes de ir para o consultório, das pessoas com quem me cruzei, do que disse, dos locais onde entrei, do que almocei, do que levava vestido, do que a médica tinha vestido... E lembro-me de todos os minutos depois. Do imenso calor que estava. Da dor que senti no peito. De ter de dar a notícia ao meu grande amor. De ter de ser a portadora de mais esse sofrimento. De ter de mentir ao telefone à minha mãe. De a minha mãe me felicitar pelo dia da criança mais especial de sempre a partir de então, e eu ali, acabada de saber que era o fim e sem coragem para lhe dizer. Cortou-me o coração em mil bocadinhos.

Desde o dia 1 de Junho até ao dia do seu nascimento a 16 de Junho, perdi e recuperei muitas vezes o meu filho. Tive fé e perdi-a várias vezes, no mesmo dia. Num dia chorava a perda, no dia seguinte sentia-me a mãe mais forte do mundo, porque num dia me davam um prognóstico e noutro dia me davam outro. 
Porque num dia me diziam a verdade e, noutro dia, me diziam mentiras porque erraram na procura da verdade. 
Uma coisa sei e tenho como definitiva na minha vida: perdi a ingenuidade e a criança que tinha em mim.
Isso foi-me roubado para sempre.  É irreversível e irreparável. Deixei de ser criança. 

Agora,  todos os dias envelheço a pensar no meu bebé. Todos os dias choro por ele. Choro por nós os três. Ainda choro, sim. De uma maneira, de outra, mas choro todos os dias. E choro pelas coisas mais parvas.
Choro por dentro, e este é apenas um exemplo, quando ouço pais a queixarem-se das birras dos filhos. Ou quando lamentam que deixaram de ser donos dos seus próprios horários,  ou que nunca mais conseguiram ter a sala sempre arrumada (shame!) ou, e esta está entre as minha preferidas, que os filhos não os deixaram dormir naquela noite, ou que não dormem em condições desde que os putos nasceram (não colocando em causa que possa ser verdade mas, porra, não se queixem). 

Curiosamente, eu também não tenho dormido bem neste último ano e a minha vontade de arrumar a sala também não aumentou. 

Sejam gratos. 
Amem as vossas crianças.


29.5.17

Meias verdades




Não é verdade.
O Herman ainda está vivo.

E é isto...




metamórṗhosis

Carolina Madruga



O meu corpo evade-se.
De tempos em tempos.
Sinto-o.
E cedo-lhe.
Observo o fenómeno.
Se nos permitirmos ver-lhe a beleza,
A mutação é assombrosa.


Quando o corpo sai do corpo,
Não sobra nada.
Sobra apenas a beleza de sermos nós.
De termos o raro momento de ficarmos a sós.
Connosco.
Com a nossa mente.
Num vazio.
Muitas vezes num vazio.
Quando o corpo sai do corpo,
Não há horizonte.
Nem passado.
Somos nós.
Naquele instante.
Sem intermitências.
Porque não há um corpo.
Porque não há pensamento.
Nem consciência.
É a mente a despegar-se.
A libertar-se do seu papel.
É um corpo a não querer ser corpo.
Uma mente que não quer ser mente.

Somos nós a não querermos ser nós.


[Não é inquietante não querermos ser nós. É fascinante.]



11.5.17

Coisas novas para pensar



Não sei se me apoquenta mais a minha vida se a morte dos outros?

Ou se me apoquenta mais a minha morte do que a vida dos outros?


Ora aqui está uma daquelas chachadas que de vez em quando me vem à cabeça e me faz pensar.




Sobre o perdão



Ah, o perdão.
Essa coisa tão prodigiosa e dignificante.

Digo muitas vezes que gostava de ser melhor que aquilo que sou. Que gostava de exercer a gratidão mais vezes que aquelas que faço. Que gostava de ter um espírito mais elevado que aquele que tenho.

Nunca me lembro de ter dito que gostava de perdoar mais vezes que aquelas que perdoo.

Porquê?
Eu acho que já sou uma pessoa bastante boa na arte de perdoar. Nunca tive grandes problemas em aceitar fazer as pazes, em aceitar um pedido de desculpas e, até, em fingir que não se passou nada só para não ter de chegar à parte do conflito que, potencialmente, gera o momento da zanga e , consequentemente, o pedido de desculpas. E até já pedi desculpas mesmo sabendo que não tive culpa nenhuma. E até foi sentido. Na boa.
Não. Nunca fui muito difícil nesse aspecto. Acho que o facto de ser muito empática e, como tal, ter facilidade em me colocar no lugar dos outros me faz compreender sempre o lado dos outros, para além do meu lado e da minha visão dos acontecimentos.
Também achei, em tempos, que isto significava maturidade e, por essa razão, batalhei internamente para ser um ser humano mais inteiro neste aspecto. Não, não vale muito a pena, caso estivessem a pensar iniciar-se em exercícios de auto-elevação espiritual, emocional, noves-fora-nada...

À parte dos argumentos favoráveis à minha pessoa, também tenho um outro lado menos simpático e, assumo, um pouco radical em relação a isto do perdão: só me lixam mil trezentas e setenta e cinco vezes. À milésima trecentésima e septuagésima sexta vez, levam uma cruz tão grande em cima que acaba-se todo e qualquer contacto para sempre. E este é um caso em que digo com  toda a segurança, "para sempre".
É. nisto não sou lá grande charuto e acabo por baralhar imenso as pessoas. Trinta e cinco anos a perdoar toda a espécie de pressões, desilusões, agressões, o diabo-a-sete, e depois no trigésimo sexto ano já não perdoo?! Élecas!! A mulher está doida!!
Eu sei, eu sei, é necessário um momento de reflexão para eu melhorar isto.

Mas assoma-se-me outra questão: como é que alguém quer o perdão de outra pessoa sem, sequer, lhe o pedir?
Sim, porque, vejamos, a modalidade "ela é que me tem de perdoar vindo ela pedir desculpas" é uma cena que não lembra a ninguém! Mas a verdade, e talvez já vos tenha acontecido, é que há mesmo quem não esteja disposto a baixar a guarda por entender que a "guarda" é o limite para a sua humilhação.
Pedir desculpas, não é auto-humilhação. Pedir desculpas é ser-se um ser mais elevado, mais preparado, mais consciente, mais completo, mais cordial, mais humano, mais amigo...

E eu tenho dias em que olho para trás e tenho pena de não ter sido melhor a resolver conflitos que se irão perpetuar, inevitavelmente, pelo amanhã. Eternamente, talvez. Mas, por outro lado, olho para o agora, para a ilha que sou, e percebo que andei muitas vezes a carregar as responsabilidades às costas e ninguém quis saber.
E para fazer as pazes, para haver o perdão, são preciso duas partes com um objetivo em comum porque "quando um não quer, dois não dançam".
E estou farta e cansei-me de dar ao caneco.





28.3.17

Ao que te agarras quando todos te largam?



Aos meus tomates agora em ketchup, verdade.

[Há muito tempo que aprendi a não fazer conta com os dos outros.]




(É engraçado como tinha escrito um texto, há meses, tão extenso sob este assunto e agora, mal li o título, só me ocorreu esta resposta. Tendo-me parecido mais genuíno que a ladainha toda que tinha escrito, apaguei o texto. Todo.)





Buracos e outros esquemas mentais, vá... esquisitos



Gostava muito de sair deste buraco onde me meti.

De voltar a falar e comportar-me como uma pessoa normal.
Eventualmente, até, voltar a ter sentido de humor. A ter vontade de rir, verdadeiramente, sem aquela luz a ligar e a desligar-se como um alarme que adverte "não te rias filha da mãe!!!".
Gostava de endireitar as costas outra vez.
De voltar a escrever. E a ler.
E de não ter dores de cabeça daquelas que me consomem as órbitas.
E era tão porreiro voltar a emanar aquela energia cool que tanta invejinha despertou outrora. Até era bom, vendo bem, que me cobiçassem a personalidade efervescente.
Não parecendo, naqueles dias, em que eu era eu, eu era uma pessoa efervescente.
Agora estou sem gás.
Adorava não ter pena de mim. E de não chorar a olhar-me ao espelho para ter ainda mais pena de mim.
Ah sua estúpida... perderes tempo nisso...
Se pudesse não mudava só a minha relação comigo, nem a minha relação com os outros, mas dava ali uma limpeza de pó à relação dos outros comigo.
Saiu tudo queimado.
Eu fiquei esquizóide* (é fixe ir ver o significado das palavras que pensamos já conhecer) mas as outras pessoas passaram a reagir como se eu fosse uma rotunda: contornam-me.
Tem graça pensar na metáfora mas, na prática, é como se fosses o único da turma que não foi convidado para uma festa de anos... mas sabes que há festa de anos. Ou como se fosses o único que não sabe que tens um enfeite na testa. Ou como se todos fossem pretos e só tu fosses branco e vês que te estão a evitar mas não percebes bem porquê.
Basicamente, é um "eu sei que tu sabes que eu sei". Toda a gente sabe mas é mais fácil fingir que não sabe.
É um jogo.
Há outros melhores, verdade, mas é neste que estou.
E ainda não ganhei a porra de um queijinho...
E depois cai aquele trovão na cabeça e percebo "Ah, gaita, os outros não têm culpa... que chatice... era muito mais fácil".
E sinto-me mais culpada por ter vestido o fatinho de cobradora de emoções.
E estúpida. Outra vez.
Pronto, isto é outra coisa a trabalhar. 
Sair do meu buraco e tentar não cair no dos outros.
Se de vez em quando sorrisse também era nice.
Eu ficava bem a sorrir. Ou melhor, a rir. Ok, já disse isto. Mas é rir às gargalhadas. Aquelas que se ouviam nos Pirinéus (e o corretor orotgráfico diz que Pirenéus é que é... oh f*da-se... isto também não ajuda o meu cérebro a perceber o certo e o errado).
Sentir-me uma leoa com o cio também era fixe para a autoestima e era coisa para me fazer trepar o buraco em três tempos.
Mas nem gata, quanto mais leoa.
E estou a ficar maior, para os lados, e o espelho não tem feito o favor de acompanhar. E pronto. Não é bonito.
Como não é bonito comer pratadas de aveia e achar que faz bem.
E não mexer o bufunfo e olhar para o céu a achar que os Deuses é que andam a mangar comigo.
E trago um vestido de veludo que não me apetecia trazer. Não ajuda. E o cabelo está oleoso... 
É um "tudo eu, tudo eu" que não se aguenta.
E pronto, era isto que temia quando comecei a escrever: perder-me no processo.
Mas metia buraco. Sair dele. Era toda uma teoria que na minha cabeça parecia funcionar.
Parecia mesmo.



*O Transtorno de Personalidade Esquizoide (TPE) é um transtorno de personalidade caracterizado por falta de interesse em relações sociais, tendência a um estilo de vida solitário, frieza emocional e apatia. Indivíduos afetados podem simultaneamente demonstrar uma elaborada e exclusivamente interna atividade imaginária ou demonstrarem uma criatividade significativa.
Embora os termos sejam parecidos, o TPE não é o mesmo que esquizofrenia, apesar de a prevalência do transtorno ser maior em famílias com casos de esquizofrenia, e de ambos terem características em comum, como distanciamento e embotamento afetivo. Alguns psicólogos argumentam que a definição de TPE é inválida devido à presença de um viés cultural.
in Wikipédia


2.3.17

True strory




Atendi um tatuador que me confessou:

- Não tenho nenhuma tatuagem no corpo... porque não gosto de ver...


[Deve ser quase o mesmo que ser padeiro e não gostar de comer pão...
Ou ser bombeiro e não gostar de árvores...
Ou ser dentista e não gostar de dentes...
Ou... já perceberam a ideia...]




1.3.17

Sombras




No gueto da noite
Vêem-se sombras de almas que ainda não foram chamadas
E olham-nos
A querer ser vistas


Eu vi





7.2.17

VI


E já lá vão seis anos... disto.
Do blog que já considerei ser a coisa mais acertada que fiz e que, agora, sobrevive moribundo.


Fica uma imagem a condizer com o estado de espírito do ano que passou: duas vidas. uma sombra.
Foi mesmo tudo o que ficou. Uma sombra de mim, depois de perder a minha segunda vida.

Gostava de conseguir prometer a mim mesma que o próximo ano canino será menos cão que aquele que acaba de passar, mas sei bem em que ficam as promessas. Sei bem o que lhes dá lugar. E o que dá lugar a esse fracasso.

Por isso fica apenas uma intenção: que o retrato para o ano seja gato. 
Será?