30.4.15

Tragédia!

Matthieu Bourel


Tragédia!
Tragédia!
Oh, horrores!
O maior drama
das mulheres
É sofrerem 
De amores.

Que morra!
Que morra já!
O raio do trapaceiro.
Esse homem,
Esse mouro,
Que roubou um coração
Inteiro.

Que diabo!
Raios partam!
Tanto ódio
Em vez de amor.
Chama-lhe ele
Amor sincero.
Nega ela
Ser rancor.

Que tragédia!
Que tragédia!
Ser mulher
De mil amores.
Ter amargos de boca
Tantos,
Ter dores d'alma
Mil terrores.



28.4.15

São só maminhas senhores...




Muita gente não saberá que, além de escrever aqui, no Dias Cães, escrevo em mais de uma dúzia de blogs.
Um deles é o Black Velvet e surgiu em parceria com um amigo por quem nutro uma profunda admiração e estima, o Jon Gavin.
Resumidamente, o Black Velvet aliava a escrita à fotografia mais direccionado a um público adulto e com tendência a gostar de calores e, durante pouquíssimos meses, fartamo-nos de curtir o Black Velvet. 
O Jon dava o mote com a fotografia e eu fazia um texto para ela.
A coisa correu bem no tempo que tinha correr, depois começou-nos a faltar a inspiração, a paciência e os recursos (estamos separados fisicamente por 400km) e deixámos de fazer publicações no blog.
Tendo em conta o tipo de fotografias e o público-alvo do Black Velvet, sempre primámos pela descrição e confidencialidade, sobretudo, em relação à identidade das pessoas que delas participavam, ainda que de sua livre e espontânea vontade.

Porém... hoje fomos surpreendidos por uma censura, vinda do lado mais improvável: 
De uma das modelos fotografadas.

Como não estou para me chatear com isto, ainda que o Black Velvet me estivesse no coração por diversas razões, decidi dar ouvidos ao Jon e acabar com tudo.
O Black Velvet vai encerrar.

Tendo assinalado o seu nascimento neste blog em 2012, porque me orgulhei dele, acho que devo anunciar o seu encerramento com o mesmo orgulho.

Fica o comunicado que deixei na página de Facebook do Black Velvet (entretanto também ele censurado) na esperança de que o mundo se torne um lugar melhor.



"Comunicado:

Ao fim de 3 anos do início do projeto Black Velvet, e mais de 1 ano decorrido sobre o seu fim, aconteceu algo inesperado e que, pessoalmente, me choca: fomos censurados.

Conforme sempre deixámos claro na página do blog em "Direitos de Autor e Advertências", todas as fotografias foram publicadas mediante autorização dos seus intervenientes, com a condição de as mesmas serem utilizadas exclusivamente pelo seu autor, designadamente no Black Velvet, sem especificar páginas ou sítios onde este publicasse.

Hoje, surpreendentemente, um dos participantes denunciou a nossa página por conter nudez. A sua própria nudez.
Aquela a que se expôs numa sessão fotográfica, como a sua concordância e livre participação, e cujo trabalho final concordou partilhar sem que fosse revelada qualquer informação sobre a sua identidade, acordo que cumprimos escrupulosamente.
Decorridos 3 anos desde a publicação da sua fotografia, vem denunciar a mesma por nudez.

Não foram, em circunstância alguma, associados nomes, rostos ou dados pessoais que revelem a identidade de cada uma das pessoas presentes nas fotografias onde existe nudez. Eu própria desconheço essas pessoas, pelo que me seria impossível, sequer, associar partes do corpo às mesmas.
Por essa razão, evidente, removi, o que vim a perceber depois, ser a fotografia errada: Os seios em questão eram outros.
Não me foi, sequer, dada oportunidade de remover a fotografia certa por não me ter sido indicada de qual se tratava.

Após uma escassa troca de mensagens com o queixoso, em que acedi remover a fotografia que julguei sua, fui surpreendida por um inquérito do Facebook sobre a minha conduta e sobre os conteúdos deste blog, tendo ficado inibida na minha página pessoal de fazer publicações por estas representarem risco para a moral e bons costumes.

Não me choca que a pessoa em causa tenha mudado de ideias, se tenham arrependida, e se sinta agora exposta.
Choca-me que a nudez seja alvo de censura.
Choca-me que as próprias pessoas se censurem e vivam desconfortavelmente com elas, o seu passado, a sua vida e o seu corpo.
Choca-me que se continue a colocar fim à liberdade de expressão, seja sob que forma for.
Chocam-me, sobretudo, os falsos moralismos.

Após discussão entre mim e o Jon Gavin, autor das fotografias e co-autor do blog, decidimos por fim ao Black Velvet que, de resto, se encontrava sem publicações há mais de 1 ano e sem pretensões de ser reaberto.

Como co-autora deste projeto vejo-me no direito de mostrar o meu desagrado com esta situação e por ter de encerrar um projeto que também foi meu, e onde coloquei muito do meu tempo e dedicação, porque terceiros assim o entenderam e não irão dar tréguas enquanto não for satisfeita a sua vontade.

A minha vida segue para além do Black Velvet, a minha felicidade não se esgota nele e, como tal, cedo à pressão do seu encerramento.



Nunca pensei dizer isto mas hoje:

Je suis Black Velvet.



Até sempre, 

Dias Cães
(autora dos textos do Black Velvet)"



23.4.15

Abacate



Os abacates amadureceram

Na tua ausência.

À tua espera.

O toque dos dedos, 

Na casca,

Adivinham o tempo.

Aquele que já passou.

As cores,

Da polpa,

Lamentam o passar das horas.

As que já não voltam.

Amadureceram,

Os abacates.

O verde amarelou.

O toque amaciou.

O cheiro aflorou.

O sabor adocicou.

Ficaram melhores,

Os abacates.

O tempo passou,

Tu não voltaste.

Eles não notaram,

Os abacates.

Mas eu,

Eu,

Notei.



Cansei-me de cuidar,

Sozinha.

Cansei-me,

Dos abacates.




21.4.15

O início





Há sempre um sacana a conspirar.
Este conspirou há 3 anos sem sequer saber que o fazia.





15.4.15

Até que a morte nos separe



Não tenho ilusões:

- Não vai ser sempre fantástico;
- Não me vão brilhar os olhos todos os dias;
- ... Não vamos pinar todos os dias;
- Talvez nem venhamos a pinar todas as semanas...;
- Não vou sorrir sempre que ele disser uma parvoíce;
- Sei que vou ter variações de humor de cinco em cinco minutos;
- Não vou ter sempre paciência para o ensinar a fazer as coisas à minha maneira;
- Não vou ser sempre compreensiva quando ele me quiser ensinar as coisas à maneira dele;
- Não o vou achar o homem mais bonito do mundo todos os dias;
- Aliás, ao fim de muitos dias, tenderei a achar que me calhou o homem mais feio de todos;
- Vou ter saudades do dia em que o meu ordenado era só meu;
- Vou ter saudades de ter o frigorífico vazio, ou meio-vazio, ou meio-cheio, só com coisas que me fazem sentido;
- Vou ter saudades de ter os cremes todos organizados num armário só meu;
- Já tenho saudades de um guarda-fatos só para mim;
- Dias hão-de haver em que vou revirar os olhos quando ele quiser levar amigos lá a casa;
- Dias hão-de haver em que lhe vou cobrar nunca mais termos saído com ninguém;
- Vou lembrar-me muitas vezes da vida de solteira;
- Vou lembrar-me algumas vezes dos outros gajos;
- Vou ter saudades, não dos gajos, mas da pessoa que era com eles;
- Depois vou-me penitenciar por ter pensamentos impróprios, para no mês a seguir voltar a fazer o mesmo;
- Vou querer desistir;
- Ele vai querer desistir mas não vai dizer nada à espera que eu pense o mesmo e seja, antes, eu a desistir;
- Vou querer que o tempo volte para trás;
- Ou vou querer que o tempo ande mais rápido para a frente para ver se o que vem a seguir é melhor;
- Sei que um dia vamos ser mais amigos que amantes;
- Saberei mais tarde que isso é melhor que nem uma amizade ter;
- Vou querer ter mais tempo para mim;
- Vou ter saudades de estar só;
- Mais tarde, lá longe, sei que vou ter saudades de o ter, todo o tempo, comigo.

- Sei que o mais difícil vai ser o "para sempre".
- Sei que o mais fácil também.
- Mas até lá...


[Ninguém nos prepara para isto. Filhas-da-mãe das mulheres que não passam a mensagem umas às outras.]


7.4.15

MIX: coisas que deviam ir para o lixo mas povoam a minha cabeça



Ando há dias a tentar escrever coisas sérias mas têm-me saído mixórdias, assim, variadas.
Ora me vem isto à cabeça, ora vem aquilo, umas que dão tempo de apontar em algum lado, outras que se esfumaram e foram resgatadas mais tarde por ideias entrecortadas.
Uma salgalhada, é o que se passa neste cabeça.
Tenho um ninho de pássaros a dormir mesmo por cima do meu quarto há umas semanas e os filhos-da-mãe acordam com o nascer do Sol que, por acaso, não coincide com o meu nascer do Sol, e eu ando a ficar perturbada com tanto piar e raspar de patas na cobertura, o que, consequentemente, me perturba as ideias e me desorganiza a escrita. Eram 06:15 da matina e eu andava em cuecas em cima do escadote a ver se afugentava a bicharada.
Por isso, e como estou a acusar um bocado de falta de paciência mas, por outro lado, fruto deste desnorteio, me apetece escrever, fui arrebanhar coisas que se andavam a acumular na pasta "Rascunhos", cujo início nunca conheceu um fim, e juntei tudo neste post. Por isso, sim, são coisas, basicamente, sem lógica nem arranjo nem operação de maquilhagem.
A imagem do esparguete com ketchup e almôndegas está dentro do espírito da coisa, para além de que foi a primeira imagem que me veio à cabeça quando pensei neste mix.
Já nem como esparguete à bolonhesa há uns anos.
Almôndegas, também não.

Pronto, tchau, fiquem bem.
Vou beber um cafezinho.


"Não sou uma desgovernada consumidora de livros, como não sou uma desgovernada consumidora de filmes, nem de música, nem de coisa nenhuma... Não percebo essa coisa de ter de se ler tudo, de ter de se ver tudo, de ter de se gostar de tudo.

Eu tenho opinião. E ainda por cima sou esquisita."


"Se o cuco não encucasse
no lugar que encucou
voaria para longe
para um lugar bem distante
onde o sonho
não murchou

(ou os dias em que penso em verso... merda)"


"Ontem fui à FNAC.
Fui direitinha à secção de poesia, nem sei bem porquê.
Primeiro, nunca está lá ninguém.
Segundo, quando aparece alguém é geralmente homem, é certo, mas muito velho.
Terceiro, sinto vergonha. Aquela vergonha alheia.
Tirando aquela meia-dúzia de nomes sonantes, que hão-de sempre repousar nas prateleiras porque, mal ou bem, são nomes que a malta conhece no caso de querer oferecer um livro a alguém, os novos nomes que ali surgem escrevem como miúdos saídos dos "Morangos com Açúcar" na série espacial do ano de 2351. Qualquer coisa entre o nonsense e o moderno mas sem dizer "iá" e "bué", e juntando palavras como "gato", "electrodoméstico" e "Corneto de Morango" na mesma ideia.
São coisas que me afligem: chamar poesia a coisas sem sentido (e deixemo-nos de merdas sobre "a poesia é aquilo que quisermos que ela seja")."


"Não chores pelo que perdeste. Luta pelo que tens.

Não chores pelo que está morto. Luta pelo que nasceu em ti.

Não chores por quem te abandonou. Luta por quem está contigo.

Não chores por quem te odeia. Luta por quem te quer.

Não chores pelo teu passado. Luta pelo teu presente.

Não chores pelo teu sofrimento. Luta pela tua felicidade.


(isto não é a bíblia 'dasss...)"


"Às vezes tento perceber a razão para, neste momento, no meu local de trabalho, ter mais consideração pelos gajos que foram excomungados do que pelos abençoados.
Não era suposto, de um ponto de vista da sobrevivência, aliar-me aos profissionais bem vistos no mercado em vez de nutrir uma admiração pelos escorraçados?"


"O cheiro da sua pele lembrava-lhe o leite acabado de ordenhar. Ainda quente. Ainda doce. Macio."




2.4.15

Não-Poesia

Étienne-Jules Marey


Muitas vezes debato-me internamente por perceber o que é a poesia.
Não o poema.
O poema é a forma escrita.
Todos podemos fazê-lo: escrever em poema.
O que me apoquenta é a poesia: o sentimento atribuído ao poema.
E porque é que esse dom parece estar destinado a tão poucos.
Onde se adquire, quando, como, o dom de atribuir sentimentos às palavras?

Muitas vezes debato-me internamente por perceber o que é a poesia.
E até mesmo o poema.
O poema que devia ser mais do que a forma como é escrito.
Pelos vistos todos podemos fazê-lo: escrever qualquer coisa.
O que me apoquenta é a falta de poesia: a falta de sentimento num poema.
E porque é que alguns insistem em pensar que esse dom lhes foi atribuído?
Onde se perdeu, quando, como, o dom de atribuir sentimentos às palavras?

Muitas vezes debato-me internamente por perceber o que é a poesia?
E o que é um poeta.
Um poeta é a pessoa que atribui sentimento ao poema escrito.
Seremos por isso todos poetas: os que escrevem?
O que me apoquenta são os poetas: sozinhos acreditarem que o são.
E porque é que mesmo sem esse dom insistem em escrever?
Como, quando e porque escrevem para o mundo mesmo sem ter esse dom?


Estou num dilema.
Não compreendo a poesia contemporânea.
Debato-me internamente para perceber o que é.
Talvez me falte o sentimento.



1.4.15

Ai a neve, a neve! Que saudades...




Eu gostava de perceber porque é que as pessoas passam um Inverno inteiro a queixar-se do frio mas depois, quando chega a Primavera, vão de férias para a neve...
É espírito de contradição, são as viagens que são mais baratas, ou é só mesmo pelo snobismo de poder ir para um sítio que nem todos podem?


[Mas isto sou eu, que nunca vi neve. Nunca estive na neve. Nunca pisei neve. E, com certeza, há algo de grandioso nisso de ir à neve que me anda a passar ao lado.
Sinto-me até um bocadinho estupida por nunca te feito férias na neve. Estupida, mas não infeliz. Que isso de ir em carneiradas não é para mim.]