30.12.13

Habemus resoluções




Este ano, e à semelhança de todos os anos, sinto que é chegada uma nova oportunidade de reestruturar a minha vida. De tomar as rédeas da situação e de ser mais livre nas minhas escolhas. De fazer coisas melhores por mim e de, basicamente, meter em marcha um plano para a felicidade, que elaborei na minha cabeça vai para cima de 15 anos e que nunca tive forças para concretizar.

Este ano, finalmente, percebi que não vale a pena planear nada. 

No entanto, há decisões importantes e estruturantes na minha vida, que vão ter de ser tomadas. Algumas decisões que terão de perdurar no tempo e não apenas no primeiro mês do ano. Coisas que pretendo manter erguidas até ao fim da vida. O que não posso é continuar a dar desculpas, sobretudo a desculpa do "amanhã": manhã é melhor, amanhã tenho mais tempo, amanhã é que é... Não. O hoje há-de ser sempre um prazo mais concreto. Há-de ser menos fugidio e há-de ser mais difícil de justificar se não for cumprido.
Este ano vai acontecer uma mudança no meu estilo de vida. Não necessariamente no estado de espírito (é crónico, está percebido), nem neste temperamento agressivo-passivo (adoro, adoro, adoro!), nem no sentido de humor - dizem - ácido (há lá coisa mais desconcertante que uma mulher feia com um sentido de humor corrosivo). Mas muitas outras coisas irão merecer uma revisão profunda: A minha atitude com os outros. A minha atitude comigo. 
E não, não estou a pensar ser melhor, mais boazinha ou condescendente. Felizmente, se há coisa que a idade traz é a confiança, sobretudo no que respeita a defender posições, a defender aquilo em que se acredita e a dizer-se o que se pensa. Não acredito nada em travões e comedimentos quando se trata da verdade, quando a verdade é o valor mais importante de todos. 
Por isso, que não se espere que as mudanças de atitude aconteçam para me proteger, proteger alguém ou proteger segredos ou inverdades. Este ano que se aproxima só pode ser o arranque para a plena liberdade de expressão, para a plena verbalização das minhas convicções e para a plena defesa da verdade.
Haverá coisa melhor que dizer-se o que se pensa sem se ser punido? Sem ser retaliado? Haverá valor conquistado mais importante que a liberdade? Haverá legado mais valioso que a possibilidade de nos expressarmos com palavras?

Não me façam é falar de falsos moralistas, pudosos prevaricadores, e gente hipócrita que só defende o seu cu (lá estou eu com maus modos), com recurso a mentiras ou, pior!, com recurso a chantagem, coação e assédio a quem se tenta atravessar no seu caminho para repor a tal verdade.
Nem todos descendemos de comedores de "sardinhas para seis", bem sei, mas os comedores de "receitas de bacalhau com 100 anos" não podem julgar-se acima de ninguém e não podem, jamais, ser levados em braços até posições que os permitam dar asas às suas convicções ditatoriais.
Caso aconteça, então os descendentes de comedores de "sardinhas para seis" não podem munir-se de nada mais que a VERDADE e a FORÇA DAS PALAVRAS.
Não se consegue lutar contra isso, pois não?
Digam-me que não.

E pronto, já me estou a perder por outros caminhos e já me ia esticar até 2014 com pragas rogadas a pessoas já de si privilegiadas. Mas para quê privilegiá-los ainda mais com o meu tempo, não é?

[E depois claro, tenho aquelas resoluções mundanas como perder 30 kg, fazer uma lipoaspiração e meter-me dentro da máquina do tempo e parecer que tenho menos 10 anos. Também queria ficar rica, arranjar uma amante musculado e que me leve a hotéis caros, ouça música alta no descapotável, e que fale pouco. E, para rematar, acabar o 2014 a dizer ao patrão: "Sabe contar? Então a partir de amanhã não conte mais comigo!"].



28.12.13

Para o ano







Podia dizer que para o próximo ano tenho uma imensa lista de desejos.

Mas tenho apenas um.





25.12.13

18.12.13

A mulher que me matou



Mataste-me no dia em que o meu desejo se cruzou com a tua crueldade. Naquele dia em que me acenaste com tesão, com sexo entre iguais, com desejo pelo desconhecido, com a fantasia de poder admirar uma mulher pela primeira vez com os olhos de quem descobre o pecado. Com o entusiasmo amedrontado de quem se prepara para fazer algo que exige segredo. 
Mataste-me quando percebi que nunca tiveste qualquer pretensão de cumprir as promessas veladas de prazer. 
Mataste-me no dia em que a promessa de um encontro não foi cumprida. Em que eu fiquei entregue ao nervoso da solidão. Aos tremores de quem finge alguma coisa para além de esperar. Mas eu apenas esperei. Acabaste-me com a moral, a estima e a admiração que eu sentia por mim e conseguiste dar lugar a uma visão perturbada e derrotada de mim própria. Mataste-me por dentro de uma maneira tão devastadora como a tragédia que é alguém perder-se de si próprio.
Mataste-me quando me senti usada e humilhada por ti. Por te impores como uma mulher superior. Por me dares o medo de ser inferior e fazeres disso uma arma. A pessoa que eu era desapareceu, abruptamente, quando acreditei ser menos que tu e quando percebi  isso justificaria a tua sobranceria sobre mim. 
Mataste-me quando me deste a tua voz a ouvir e depois apenas me presenteaste com o silêncio. Como se soubesses a crueldade de dar e retirar sem avisos ou considerações. Como se tivesses prazer em aparecer e desaparecer. Pois que a morte de que me mataste fez-se, mais dos vazios do que dos cheios. Mataste-me mais pelos momentos que não tivemos do que por aqueles que algum dia poderíamos ter.
Mataste-me demasiadas coisas, mesmo aquelas que não te dei. Mataste sim. Mataste coisas que nem tu sabes que por tua causa conheceram o seu fim. Mataste-me a vontade de escrever e eu não encontro morte maior e mais sofrida que aquela que me fez desistir de mim.



13.12.13

Gente que não conheço



Já vai longe o tempo em que falava apaixonadamente com pessoas a quem não conhecia os rostos. Levada pelo mistério. Pelas emoções. Pela efervescência do desconhecido.
Longe vai o tempo em que me relacionei com algumas dessas pessoas e por isso deixaram de ser palavras escritas e passaram a ter rostos.
Não gostei desses dias.
Não gosto de os relembrar.
Conheci pessoas cujas palavras não tinham o rosto que mereciam. Que eu achava que mereciam. Conheci pessoas que não tinham o carácter que achei que teriam. Que elas me insinuavam que tinham.
Quando questionei a falácia em que se tinha tornado a minha vida com desconhecidos, percebi que não só os outros ofereciam o que não eram, como eu não era o que esperavam.
A necessidade de aceitação.
O medo da rejeição.
Percebi que as palavras nos escondem a todos. Todos somos o que queremos que os outros esperem de nós, recorrendo à maestria nas palavras.
Um dia desisti de continuar a procurar as pessoas sem rostos. Passei a deixá-las no lugar delas. No sítio onde as conheci. Com a forma com que as conheci.
Foi no dia em que esperei e ninguém apareceu.
Percebi que essa pessoa tinha visto em mim aquilo que eu não tinha querido mostrar.
E eu, ofendida, desisti de vender palavras que não se iriam cumprir e rendi-me à minha vida de solidão.
Nunca mais pedi para gostarem de mim.
Desde esse dia deixo as palavras das pessoas num lugar e os rostos delas noutro. 
Naquele sítio onde eu sei que não irei procurar.




11.12.13

Se eu te disser



Se eu te disser que esta felicidade se transforma em infelicidade mal viras as costas, não irás compreender porque sorrio em vez de chorar.
Se eu te disser que quando falo no futuro não me vejo a arrancar os pés do presente, irás questionar-te se afinal te ando a mentir.
Se eu te disser que a palavra amor é apenas sinónimo da palavra amizade, irás perceber que tudo não passa de calor nos pés e beijos sem emoção.
Se eu te disser que quando te escrevo palavras de amor imagino alguém que não és, irás querer chorar em vez de reagir.
Se eu te disser que não me importo de viver a tua vida em vez da minha, irás pensar que é verdade mas bem lá no fundo saberás que, se prefiro viver outra vida que não a minha, também não seria a tua que eu escolheria.
Se eu te disser que adoro a tua brandura em vez de um circo de emoções, irás compreender que se não me abandonares nunca serei eu a ter coragem de o fazer.

Se um dia me disseres que descobriste que este amor nunca fecundou, irei descobrir que, afinal, a minha vida não existe sem ti.



5.12.13

Conforme esperado




Viro as costas temporariamente.

Há muito que não tenho nada de interessante para dizer. Para partilhar.
Haveis reparado certamente.

Volto um dia destes em que me sinta mais inspirada ou no dia em que, simplesmente, me apeteça voltar a escrever.