Vieram ao mundo na mesma época. Viram o Sol pela primeira vez, com poucas horas de diferença. Nasceram entre o mesmo par de pernas. Alimentaram-se das mesmas tetas. Partilharam o mesmo pão. Brincaram juntos. Caíram lado a lado e ergueram-se em simultâneo. Foram amigos. Amaram-se como irmãos. Mas cresceram indiferentes. Viveram como inimigos. Morreram como rivais.
Caminhos bifurcados fizeram-nos desencantar-se um do outro. De perder o amor que lhes foi ensinado pela progenitora. De se obrigarem a gostar de coisas distintas, só para não assumirem que, afinal, queriam o mesmo.
Um escolheu o caminho mais difícil. Não temeu o relevo áspero e as armadilhas escondidas. Enfrentou as intempéries, e os seres perigosos; dormiu nas noites negras sob céus revoltados. Caminhou sempre sozinho. Não fez amigos por já não confiar em ninguém. Ninguém o seguiu por não ter palavras de mentira que todos queriam ouvir. Não iludiu ninguém a troco de sorrisos. No fim do seu percurso dorido apenas alcançou respeito por si próprio, sem notoriedade dos outros. Sem prémios. Sem marca na história. Passou discreto pelo mundo, mas havia de morrer em festa. Ninguém lhe desejou a vida.
O caminho fácil, havia de ser percorrido por outros pés. Brancos e puros. Trilharam rectas esplendorosas. Conheceu as mais belas paisagens. Bebericou da água mais fresca. Repousou em todas as eiras. Foi acolhido em todas as casas e dormiu sempre quente, pelas mantas ou pelas carnes de mulheres. O bucho sempre cheio e bem regado proporcionaram-lhe boas cores e uma alma cheia de verbos ilusionistas. Os povos caiam a seus pés para ouvir as histórias, incrivelmente falsas, que tão bem sabia contar. Foi um mestre fingidor e, por essa arte, arrebatou méritos, honras e um lugar na história. Morreu em glória. Ainda o idolatram como se estivesse vivo. Memorável figura que tantos anos passados, ainda perdura no peito de todos.
Os caminhos percorridos na solidão nunca foram premiados. Considerados actos egoístas, nunca foram interpretados como crescimento e exercícios de reflexão. Caminhar sozinho fez deste irmão um carrasco em vez de um salvador, porque ninguém quis ouvir as verdades que ele aprendeu.
Por oposição, preferiram alicerçar as suas crenças num ser manipulador. Que usou as palavras com mestria. Que aparentava genialidade por ousar falar com palavras nunca proferidas. Por alindar banalidades que ninguém parava para interiorizar. Tentou meio-mundo com falas de profeta. E caíram nessa tentação, por se acharem menos do que ele.
Deus e o Diabo são os irmãos mais desavindos da história.
Deus enganou os parvos, que encontrou por esses atalhos rectos, com as suas histórias de encantar.
O Diabo seguiu sozinho, na obscuridade da verdade, por saber, de antemão, que nós não valíamos o esforço.
FODA-SE!!! Perfeito, perfeito.
ResponderEliminarGosto mesmo muito deste texto, por várias razões: fala exactamente do mesmo que o meu (que comentaste, é bom saber que há gente que pense exactamente como eu e está bem escrito. Adoro, adoro, adoro! Talvez o teu melhor texto ;)
Foda-se, ainda bem que gostaste :)))) Eu sabia que ias gostar...
ResponderEliminartua mente é brilhante!!!!!!!!!!!11
ResponderEliminartua mente é brilhante!!!!!!!!!!!11
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