15.6.11

Encómio à ingratidão



Queria ser comedida mas ao mesmo tempo apetece-me explodir. Queria dizer qualquer coisa imperceptivelmente inteligente mas na verdade um "vai à merda" basta. Queria sacar umas frases feitas de uns livros de filosofia mas a urgência de te mandar bugiar é maior que a correria dos olhos pelas letras das páginas.  Queria gritar-te ao ouvido que andas enganado comigo, mas na verdade prefiro humilhar-te publicamente. Humilhar-te publicamente. Soam-me melodiosas estas palavras que na tua vaidade cairão como farpas. Porque, no fundo, para ti o mais importante é a validação que as pessoas fazem dos teus actos. Acima de tudo estará sempre, não o que os outros pensam, mas o medo que tens do que eles possam pensar. Medo da humilhação. A vergonha de te verem como ser humano comum, que és, tira-te o sono de vedeta que pensas ser. Acima de todas as almas estará sempre a manutenção das aparências. O viver num cenário que só existe na tua cabeça. Protagonizar momentos como se tivesses sobre ti focos de um palco onde não pudesses falhar as deixas.
Deixa-te de merdas. Vive. Larga essa presunção de achares que és tão especial ao ponto de pensares que não é esperado menos de ti que a perfeição. Liberta essa máscara. Deixa cair todas as outras.
A pressão a que te impões, de seres perfeito, bloqueia-te todos os outros caminhos para a felicidade que tanto apregoas querer, mas que tudo fazes para afastar.
Os padrões altos que estabeleceste não se compadecem com a tua pessoa. Tu não te localizas nessa gama.
És apenas mais um miserável ser humano. Lamento dizer-to. Não vales mais que eu. Não vales mais que ninguém com quem te cruzaste até hoje. 
A beleza das coisas que crês atribuírem estatuto às pessoas, ou revesti-las de personalidade e princípios, são aquelas pelas quais agora te sentes esmagado. Acreditares e dares credibilidade a quem segue os teus padrões é o mesmo que te condenares a viver para sempre, apenas e só, com seres iguais a ti. E quão horrendo isso poderá ser? Quão intolerante serias a toda essa imaculada perfeição que acreditas ter?
Esse mundo de espelhos acabará contigo. 
Não lamento que padeças em frente a um, mas enfurece-me ter-te estendido a mão e que tenhas cuspido nela. Porque, o que tu não sabes, é que essa mão eras das poucas, que não sabendo o que ocorre por detrás do espelho, estaria disposta a quebrá-lo.

Pediste-me que um dia escrevesse para ti. Pois aqui tens. Um encómio à ingratidão.





2 comentários:

  1. Abri num acaso seu blog e encontrei este texto que achei divertidamente simples e verdadeiro. A você, meus aplausos.

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