13.12.11

Posso falar de moda?



Não sou crítica de moda, nem aspiro a tal, mas tenho a minha quota parte de preocupação com a imagem, sou vaidosa quanto-baste... enfim, sou mulher. E não sendo fanática, reconheço que jamais me irão ver de fato-de-treino a passear pela rua. Por outro lado valorizo a  liberdade de expressão veiculada pela indumentária que algumas pessoas têm coragem de envergar. Apesar de não a querer para mim, diverte-me, e alivia-me, que outras pessoas nem saibam o que é moda e que, mesmo que saibam, isso não lhes ocupe um segundo da vida. No entanto, incomoda-me que alguém tenha a presunção e petulância de , não só esfregar na cara dos outros o que é certo e o que é errado, como criticar a maneira de vestir de alguém.
Quem sou eu, ou alguém, para dizer que a Paula Bobone se veste de modo ridículo? Não será igualmente ridículo adoptar calças de ganga em 90% dos dias do ano? Porque é que alguém pode presumir que, no que toca a modas, tem a razão do seu lado, mais do que qualquer desentendido ou desinteressado na matéria?
Mais curiosa se torna a situação quando, esses auto-intitulados de ditadores de moda, são, eles próprios, o espelho do desajuste, e do absoluto non-sense e falta de sentido estético (que eles tanto reclamam, atente-se!). De repente, moda passou a ser significado de salada russa não vegetariana, de caldeirada sem peixe, de carrocel sem música. O que era certo e correcto passou a ser território desconhecido. O que era  errado passou a ser cool. Assiste-se, assim, a uma desconstrução da moda, de equilíbrio na imagem, do esteticamente confortável. Um pouco à semelhança do que acontece com um bailado contemporâneo em que a coreografia contraria a música, não por defeito mas por cânones artísticos instituídos, que terão, naturalmente, a ver com a  evolução da arte, dos artistas e de dos interesses exploratórios crescentes da sociedade em geral. 

Parece-me, por vezes, que muitas das pessoas que supostamente ditam tendências pela blogosfera (naturalmente os estilistas e profissionais da área ficam de fora) nem acreditam convictamente na personagem que criam (e eu queria tanto acreditar que há um objectivo inteligente por trás de isto tudo) mas pretendem apenas gritar ao mundo: "Deixa-me cá fazer uma coisa muito parva para mostrar que sou tão artisticamente dramática e infeliz". 
Quanto a mim envergar algumas combinações de roupas absurdas e improvavelmente conjugáveis servia nem que fosse por um: "Porque me apetece. Porque sim. Porque eu gosto". Mas nem é isso que se passa. Aquilo a que se assiste não é mais do que um gargarejo de egos afagados ao limite pelos próprios, mas muito pouco consagrados pelos outros. De frustração em frustração lá vão pensando que as roupas valem tudo e esperam por um desfecho que não vai existir apenas porque, no final, a imagem vale muito mas não alimenta tudo. E por isso, me desgosta pensar que princípios tão válidos, como a exaltação da personalidade e a expressão da nossa individualidade pela moda, se transforme num Carnaval de ignorância mesclado de uma moral que ninguém lhes incumbiu de ter. 

É por isto que penso que neste momento se vive em Portugal uma espécie de autismo Fashionista legitimado por uma descoberta relativamente recente da democracia da moda - nada contra. Algum dia teríamos de lá chegar.






3 comentários:

  1. Eu uso ganga 90% do ano. Estão "na moda" há cerca de um século, são resistentes, e dão para todo o tipo de tempo. Além do mais, arranja-se por mais barato do que outras calças mais "fancy". E verdade seja dita, os outros tipos de calças que possuo é por "pressão" de mulheres que mas aconselharam vivamente...
    Verdade seja dita eu não tenho um grande sentido estético de moda e eu próprio não considero que me vista particularmente bem, mas defendo as calças de ganga até ao fim =P

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  2. É a merda de sociedade portuguesa que temos.
    (fodasse, tinha saudades de ler-te)

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  3. T, já sei como te identificar nas ruas desta cidade: deves ser o tipo que anda SEMPRE de calças de ganga :) fácil, fácil...
    E não te deixes pressionar por mulher nenhuma, porque por nossa vontade vocês até collants vestiam. Defende a tua virilidade, por amor de Deus!!!

    Herético, como gosto de ouvir um bom foda-se! Desses, ditos com sentimento! Ditos com sentido.
    Sei que tenho andado adormecida em termos opinativos... mas não estou morta. Vai aparecendo!

    Bjs aos dois!

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