Ilustração Dias Cães
No dia 16 de Julho de 1969, nasceu apenas uma
criança em todo o planeta Terra.
No dia em que - dizem - o homem foi à Lua.
No dia em que - dizem - o homem foi à Lua.
Na sua aldeia todos ficaram desconfiados. Nunca
tinham visto a Maria grávida e, de repente, no dia em que - dizem - o homem foi
à Lua, o seu filho nasceu. Coisa estranha esta, de nascer a única criança em
mais de vinte anos naquela aldeia, logo no dia em que a Lua ficou mais perto da
Terra e o homem lhe conseguiu chegar. Logo no dia em que não nasceu mais nenhuma
criança no resto do mundo.
O boato não tardou a espalhar-se: "O filho
da Maria veio da Lua".
O miúdo lá foi crescendo com o estigma e as
histórias a rondarem-lhe a cabeça e, de tanto insistirem na teoria, até ele começou a
acreditar que tinha vindo num foguetão, directamente da Lua, para ser entregue
aos cuidados daquela mulher a quem chamava de mãe. Até o miúdo acreditava que
tinha vindo da Lua e, com o passar dos anos, passou a comportar-se como tal. E já
ninguém estranhava. O miúdo era do mais esquisito que tinham visto. Era mesmo.
Era aluado na escola, não tinha amigos porque
orbitava por outros interesses, e nunca teve namoradas por ter a cabeça no
mundo da Lua. O miúdo era estranho, todos concordavam. Vivia lá no mundo dele,
apesar de nunca ter conhecido outro que não fosse o da sua aldeia. Da sua
aldeia e de toda a superfície da sua legítima mãe, que todos os dias continuava
a visitar. Lá olhava pela janela, todas as
noites, para tentar compreender a sua mãe, compreender-se a si e compreender
porque diabo ela o tinha mandado assentar pés na Terra. Mas ele nunca quis ter os pés assentes. Nunca se quis ficar pela Terra. Tão pouco pela aldeia. O miúdo era tonto mas sonhava. E os seus sonhos voavam, sempre em direcção à sua mãe.
Por isso um dia pensou em construir um foguetão e montar-se nele. Recolheu sucata em todas as casas, oficinas e lixeiras. Aprendeu mecânica e astronomia. Inventou instrumentos e traçou rotas. Desenhou um fato e ensaiou viagens. Estudou este mundo e o outro. Conheceu tudo sem sair do sítio. Cresceu. Ambicionou. Fez. Um dia pensou em construir um foguetão e construiu. Um dia pensou em fugir e fugiu.
Agora vive na Lua e já nem pensa voltar. Vive sozinho mas com os olhos a brilhar.
Agora vive na Lua e já nem pensa voltar. Vive sozinho mas com os olhos a brilhar.
Hoje, passados 43 anos desde o seu nascimento, na aldeia todos sabem: Afinal este homem não veio da Lua, afinal este homem é mesmo de outro mundo.
Há tanta gente assim, tanta gente que nasceu em noite de Lua Nova, que se foi esconder para ter o seu parto em local ignorado...
ResponderEliminarNascem da Lua e são, necessariamente, diferentes; Selenitas que andam neste mundo que não parece ser deles...
Texto muito lindo e saboroso...Afinal, todos nós temos um pouco de lunático!
Bjs
Raul (luaR)
LuaR... Surpreendente!
EliminarNunca tinha reparado.
Assim sendo, este texto também lhe encaixa que nem uma luva.
Beijos
E quem fez a ilustração?
ResponderEliminar:)
Parece que fui eu...
Eliminare posso deduzir que há mais de onde veio esta?
Eliminar:)
Mais um ou dois :)
EliminarA ilustração está um sonho....parabéns....
ResponderEliminarhttp://confissoesdarosana.blogspot.com/
Obrigada Bruno :)
EliminarBjs
Fazes tudo bem pah =)
ResponderEliminarA ilustração muito boa e o texto como sempre espectacular!
Obrigada Pedro!
EliminarMas infelizmente (ou felizmente) não sei fazer tudo bem.
Ando há anos para conseguir fazer uma cheesecake de morangos como deve ser, mas a receita nunca me sai bem :))))
BJ
( Ouvindo http://www.youtube.com/watch?v=D67kmFzSh_o )
ResponderEliminar- Apollo 11 chama Houston
- Apollo 11 chama Houston, perdão, Évora...))
- Mensagem recebida. Foi uma honra ter uma das melhores escritoras da blogosfera a dedicar um Post a este simples Astronauta. Obrigado, Noites Caninas...))
- Um beijo.
- Over.
( http://www.youtube.com/watch?v=1hKSYgOGtos )
Eis que chegou o aniversariante!
ResponderEliminarMuitos parabéns e obrigada pelo imaginário para esta história.
Beijos.
Gostei da ilustração.E do texto, é claro!
ResponderEliminarMuito bonito o texto e a ilustração!
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