Já vai longe o tempo em que falava apaixonadamente com pessoas a quem não conhecia os rostos. Levada pelo mistério. Pelas emoções. Pela efervescência do desconhecido.
Longe vai o tempo em que me relacionei com algumas dessas pessoas e por isso deixaram de ser palavras escritas e passaram a ter rostos.
Não gostei desses dias.
Não gosto de os relembrar.
Conheci pessoas cujas palavras não tinham o rosto que mereciam. Que eu achava que mereciam. Conheci pessoas que não tinham o carácter que achei que teriam. Que elas me insinuavam que tinham.
Quando questionei a falácia em que se tinha tornado a minha vida com desconhecidos, percebi que não só os outros ofereciam o que não eram, como eu não era o que esperavam.
A necessidade de aceitação.
O medo da rejeição.
Percebi que as palavras nos escondem a todos. Todos somos o que queremos que os outros esperem de nós, recorrendo à maestria nas palavras.
Um dia desisti de continuar a procurar as pessoas sem rostos. Passei a deixá-las no lugar delas. No sítio onde as conheci. Com a forma com que as conheci.
Foi no dia em que esperei e ninguém apareceu.
Percebi que essa pessoa tinha visto em mim aquilo que eu não tinha querido mostrar.
E eu, ofendida, desisti de vender palavras que não se iriam cumprir e rendi-me à minha vida de solidão.
Nunca mais pedi para gostarem de mim.
Desde esse dia deixo as palavras das pessoas num lugar e os rostos delas noutro.
Naquele sítio onde eu sei que não irei procurar.
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