Merve Ozaslan
As arverens serem pequenas,
E as florestas serem grandes,
Nós gostaramens de vacas,
Nam curtirames elefantes.
Ora aqui fica este pequeno apontamento, um interlúdio, a esta temática tão fraturante da sociedade atual, de ontem, de hoje e de amanhã: As florestas.
Pois que, meus caros, hoje vos trago este assunto que me tem perseguido nestes dias e que, não podendo ignorar o mesmo, ainda que o mesmo teime em se apresentar a mim de modo ignorante, terei de vos relatar de forma dolorosamente real, ainda que, para menor sofrimento da humanidade em geral, queria eu, acreditem, fosse uma generosa fabulação da minha mente. Não o é.
Comecemos, pois, com o primeiro episódio.
Dou-vos, ainda antes, umas dicas para que o relato não vos caia de chofre no colo, sem qualquer aviso prévio.
Este momento desconcertante mete palavras como: floresta (óbvio), vacas e queijo. Todas juntas, bem entendido seja.
Pois que por estes dias me desloquei a uma dessas grandes superfícies a que os humanos de raça inferior se têm de deslocar frequentemente para sobrevivência da própria espécie: um hipermercado.
Dirigi-me à charcutaria, meti o dedo naquele equipamento que emite uma senha com um número, e, como qualquer mortal (e a beleza de nada nos serve nestes momentos, que pensar, então, da excepcional inteligência) tive de aguardar a minha vez.
E eis que tudo sucede.
Um ser do sexo masculino, acima dos quarenta anos, abaixo dos cinquenta, de compleição física bastante aceitável, e vestuário aceitável para a região do país em que se encontra ainda que não satisfazendo os meus gostos pessoais, assoma-se ao balcão e inicia este diálogo com a funcionária da charcutaria, uma mulher, talvez mais jovem que ele mas aparentando ser mais velha, seguramente ali colocada após sair do complexo turístico de Tires:
- Boa noite, dê-me 200gr desse queijo aí, por favor.
- Deste??? Têm a certeza??? Ai filho, pamórdedeus... Já provou isto?
- Hmmmm... Não, de facto não.
- Até lhe dou um bocado. Tome lá (atirando-lhe uma fatia do dito queijo para as mãos).
- De facto...
- Ainda por cima é mais caro. E essa cor? Amarelinho, hein? Bem bom!!! Credo!!! Já viu este aqui do lado? Ó homem, não leve isso pela sua saúde.
- Bom, já que insiste...
- ´Tá a ver? ´Tá a ver que eu sempre tinha razão? E já viu bem o nome deste queijo? Já viu bem? 'QUEIJOooo DAaaa FLORESTAaaa'. Nunca mais se esqueça deste nome: queijo da floresta.
Diga-me lá: Já alguma vez viu vacas na floresta?
Não, 'né?
Então como é que o queijo há-de ser bom?
Pense nisto amigo, pense nisto.
Bom, eu tinha mais uma pessoa de idade à minha frente e poderia fazer todo um relato sobre o seu pedido de fiambre da pá, mas o diálogo não mete a palavra floresta e eu não quero perder o foco pelo que prosseguirei o caminho que encetei, na certeza de que, a vossa atenção sobre este assunto já estará por esta altura, totalmente, absorvida.
Pois segui-me no próximo episódio.
Hoje, hoje mesmo, numa reunião com um homem que, enfim, sem desprimor para a raça, se apresentou com calças já descidas ao nível do rabo, talvez, diria, sem querer ter medido muito com os olhos, uns seis dedos abaixo do que seria humanamente aceitável. Pois isto descompensa logo uma pessoa de superior sensibilidade como eu. Não obstante, o homem ser uma pessoa tão devota à sua mãe e a um qualquer clube futebolístico cujo animal que o representa tem umas asas, que fez o favor de os tatuar no corpo e oferecer aos olhos dos outros como se de uma dádiva se se tratasse, uma pessoa lá tem de trazer a si o melhor que tem ao nível profissional e, de quando em vez, ir lá abaixo, às grutas húmidas onde estes seres habitam, e tentar estabelecer comunicação com eles:
- Diga-me, então o que o traz por cá?
- Pois, atão, quero mudar o telhado.
- Hmmm... Quer mudar, ou já mudou?
- Não, atão? Quero mudar. Aquele 'tá podre, 'né? Os barrotes, aquilo tudo, ´tá tudo podre.
- Então, está-me a dizer que precisa substituir toda a cobertura, inclusivamente toda a estrutura em madeira?
- Sim, pois.
- E consegue executar todo o sistema de suporte em madeira conforme o existente? Que madeira é que vai usar?
- Madeira? Atão, madeira, vou usar daquela madeira normal.
(baixa em mim aquela mulher das cavernas que todos trazemos no ADN mas que teimamos em arrumar debaixo de uns sapatos Prada)
- Ó homem! Madeira normal? O que é que é madeira normal? JÁ VIU ALGUMA FLORESTA DE MADEIRA NORMAL???
- Pinho. Ou casquinha.
- Ah bom, chiça. Agora madeira normal!!! Ainda me há-de dizer que gaita de árvore é que dá madeira normal. Vai ao carpinteiro e diz o quê? "Olha pá, dá-me aí um barrote de madeira normal"???
Já se está mesmo a ver que só vai sair daí asneira. Se ainda nem começou já vai assim, quando acabar... deve lá ter asnas em amianto!
E pronto, depois desencarnou o espírito mau que, uma vez por hora, baixa em mim.
Por esta altura já estou recomposta, já estou branda e serena, pronta para limpar estes pensamentos.
Sonharei, seguramente, com uma qualquer floresta deste país, do mundo quiçá, mas não queira Deus que eu sonhe com aquele vale renegado que encerrava o fundo das costas do homem das asnas em madeira normal, porque, a bem dizer, já tive a minha quota de obscuridade por hoje.
Vão iniciar hoje as obras no meu telhado, fiquei apreensivo, safei-me pelas calças e pela tatoo :D
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