30.9.11

15 coisas que não farei por ti




Coisas que não voltarei a fazer antes de um encontro:

- Arranjar o cabelo, a maquilhagem, as mãos, os pés, e fazer a depilação;
- Comprar roupa e sapatos novos;
- Comprar lingerie nova;
- Encher o frigorifico de Gin, frutas e chocolate;
- Limpar a casa;
- Mudar os lençóis;
- Comprar velas e óleo de massagens;
- Contar às amigas sobre o dia e a hora;
- Pensar no restaurante ideal;
- Desmarcar outros programas;
- Criar expectativas;
- Sonhar;
- Dizer-te "sim";
- Ser exigente comigo antes de ser contigo;
- Dizer-te que és importante na minha vida.



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28.9.11

Mim, non Misantropa



"Misantropia é a aversão ao ser humano e à natureza humana no geral. Também engloba uma posição de desconfiança e tendência para antipatizar com outras pessoas. Um misantropo é alguém que odeia a humanidade de uma forma generalizada. O termo também é aplicável a todos aqueles que se tornam solitários por causa dos sentimentos acima mencionados (de destacar o elevado grau de desconfiança que detêm pelas outras pessoas em geral).
Misantropo é uma pessoa que tem aversão ao convívio social, prefere viver em isolamento. Aquele que não mostra preocupação em se dar com as outras pessoas, de ter uma vida social preenchida - tendência a ter uma pouca ou praticamente inexistente vida social. Estado de reclusão que alguns indivíduos escolhem para viver."

in Wikipédia



Tendencialmente as pessoas consideram que se relacionam com as outras com facilidade; que não têm problemas de sociabilização; que encaram com grande naturalidade uma conversa circunstancial com desconhecidos. Talvez não reflictam muito sobre o assunto porque, verdadeiramente, ele nem será assim tão importante para elas. Só mesmo pessoas desorientados como eu, e com a mania de querer conhecer tudo, é que se ralam em querer saber o que se passa nestes 10 mil hectares de miolos que temos na cabeça. Nunca irei conseguir - pois está visto - mas gosto de me meter com os meus pensamentos e passar em revista os comportamentos humanos, sobretudo os momentos de interacção de uns com os outros. E por ter noção das atitudes dos outros é que me excluo totalmente do grupo de indivíduos misantropos. Dos tantos que por aí há. Não serei filantropa, que não sou, mas a verdade é que sou uma apaixonada pelo Ser Humano, no mais literal dos sentidos. Apaixonada por nós enquanto Seres, e enquanto animais complexos, sobretudo nas ligações sociais que estabelecemos, até naquelas a que alguns se condenam a ignorar não por inércia mas por patologia.
Nestas minhas incursões pelo mundo dos comportamentos, não raras vezes constato que há por aí muito boa gente com desvios comportamentais, para não lhes chamar outra coisa (que iria parecer muito mal e até um pouco misantrópico). Podia enunciar o autista social (ignoram a existência dos outros), o político social (eternos conquistadores de multidões mais pelas bazófias que pelas acções) e o show-off social (muito barulho, muita presença, muita alegria, pouco conteúdo), entre muitos outros géneros, que certamente existem (enviem-me sugestões). Ainda assim, no campo vastíssimo das acções/reacções, consigo eleger aquele pelo qual tenho particular predilecção: o estilo "vou-te-comer-social".
Quantos de nós não vestiram já a pele desta poderosa figura que baixa em nós como se de uma possessão se tratasse. Não sendo o traço estruturante de carácter, é um perfil que se encaixa, ou sobrepõem, a todos os outros, o que lhe confere um carisma e enchantement irresistíveis. Em noitadas loucas ou jogos de engate é a melhor personagem a adoptar. Este é o momento alto de qualquer encontro social que mais gozo dá observar.
Se repararem bem, estes tipos jamais poderão ser misantropos mas davam, isso sim, belíssimos ilusionistas de palavras e de aparições: "ora digo uma laracha que te faz corar... ora desapareço três dias porque tenho medo que avances demais".
É por estas e por outras que, apesar de não me identificar com eles, cada vez mais começo a gostar de misantropos. Estão na deles. Não chateiam ninguém. Não se impõem em lugar nenhum. São uma companhia do melhor que há para quem tem a estrutura fraca para trastes, porque, simplesmente, nem os vêem.


Agora, para legitimar tudo aquilo que disse, teria mesmo de apontar um dedo ao meu umbigo e autoavaliar-me dos pés à cabeça, relativamente ao meu comportamento com os outros não é?
Pois garanto que isso era história que nem dava para começar.
Porque mim, non misantropa com os outros. Mim, misantropa comigo.
Assim me ensinaram.

(Sim, isto é um recado a todos os idiotas que fogem das relações depois de insistirem na fase do engate, fazendo a pessoa enganada odiar os outros e o mundo.)





27.9.11

O "descoraçado"



Afinal o teu coração era de vidro. Partiu-se mal lhe toquei. No primeiro sopro que lhe lancei estilhaçou-se e projectou milhões de partes de si, em lascas aguçadas. Caíram sobre o meu rosto e mataram-me de vergonha. Caíram sobre o meu amor por ti. Caíram sobre o meu amor por mim. 
Ficaste descoraçado. Ou apenas vestiste o traje da pessoa que já eras por dentro mas não se via por fora. 
E para mim é já tarde demais para recuar, quando todas as peças cristalinas da tua armadilha me estão já  cravadas nas costas e, irremediavelmente, em todo o meu corpo, que se tinha entregue já a ti. 
Não me avisaste que eras feito de uma loiça intocável. Que a matéria prima de que és feito é intocável mas não por ser sensível. É intocável por nunca me a teres dado a apreciar. Idiota esta minha pessoa que pensou poder bebericar de um fino vaso de cristal, quando a mais do que ânforas de barro não estou destinada.
Apesar de reconhecer-te agora como carrasco, hoje choro-te a falta. Choro a perda de uma coisa que não eras tu. Choro por algo que penso que perdi mas na realidade nunca esteve noutro lado que não fosse na minha cabeça. Ou mais lá dentro. Dentro do peito. Dos pulmões. Porque por esta altura já só te respirava. 

Nem cheguei a dizer que te amava e que o meu coração já era teu... de um traste descoraçado que não merece um segundo bater no peito.



12.9.11

A freira e a prostituta



A disciplina pautava todas as horas do seu dia, todos os dias, há mais de 20 anos. As regras a que se impunha estavam apenas na sua cabeça e não tinha ninguém que a obrigasse ao seu cumprimento. Era prisioneira de normas que não constavam de qualquer manual. Ninguém lhe pediu para ser rígida. Nunca lhe foram impostas restrições. Viveu a mandar em si própria. Muitas vezes pensava que era assim pela educação que tinha recebido mas, no final,  acabava caindo na voracidade do passado e percebia que nunca esteve lá ninguém para a educar, na mesma medida que nunca teve ninguém para a repreender. Teve de se educar a si própria e por isso era seca e inerte. Por isso errou muito, e continuava a errar, mesmo sabendo que tinha de inverter o sentido dessa inevitabilidade. Mas não sabia viver a vida noutro prumo que não fosse o desalinhado. E nas profundezas da sua mente sabia-o tão bem que passava os dias a rezar para pedir perdão. E era esse o único prazer a que se permitia: rezar. Rezava de Sol a Sol, antes de iniciar os trabalhos da casa e mais tarde, quando ia trabalhar. Quando regressava a casa, exausta, da indignidade que trazia no corpo, ainda arranjava forças para rezar mais e mais. Era nessa altura que percebia o quão desviado o seu caminho havia se tornado. O quão tresmalhada se tornou aos olhos do Deus que adorava. 
Recordava-se, então, da sua irmã Beneditina e do caminho imaculado que tinha optado trilhar. O caminho que ela tinha tido oportunidade de fazer, de mão dada com sua irmã, mas que acreditou puder fazer sozinha, fora das quatro paredes de uma cela. A liberdade que julgava não alcançar no convento, alcançou nas ruas fétidas e nojentas de cor cinzenta, amarrada a dinheiro podre vindo de mãos incognitamente nojentas que lhe marcavam as carnes do corpo. O seu corpo, que podia ter entregue à candura de Deus, rebolava-se agora por homens que desconhecia, em quartos e becos pocilguentos, cobertos de doenças e histórias inenarráveis. Por vezes também rezava enquanto pecava. Alivia-lhe a alma. Deixava a mente fugir dali e passear-se pelos jardins do convento de sua irmã. Por momentos, enquanto era possuída, acreditava que a sua fé em Deus a havia de salvar dali e que, na hora em que fosse chamada lá acima, Ele seria justo para com a mulher pecadora que nunca dormia sem antes rezar.

A irmã Beneditina, benta de nascença, não conheceu outro trilho que não fosse o do bem. Pura e casta, não deu apenas as mãos à religião, casou-se com ela logo no primeiro dia de noviça. Se outros caminhos haviam para percorrer na vida, ela nunca os conheceu nem queria. Nunca olhou para o lado. Nunca soube que o seu corpo e mente lhe podiam servir também a ela e não apenas a Deus. Entregou-se apenas a Ele. E não foi enganada. Mulher feita, de peitos firmes e coluna vertebral hirta, sabia bem que a entrega de corpo e alma que se falava no convento, não o era de forma tão literal quanto o praticava. 
Com isto, ganhou barriga às contas das orações fora de horas e dos encontros nada bentos na sacristia. Tinha o menino nos braços não tardava nada e já não tinha santo a que orar, por saber que as suas preces não iam mais ser atendidas. Estava aterrada de medo, não pelo sucedido mas pelo medo de ser descoberta e devolvida às ruas porcas que acolhiam a irmã. Pensava para si que o seu corpo, fecundado como o de um animal, não havia de ser de mais ninguém.  A salvação de uma valeta, e de uma vida de prostituição quase certa, não chegaria se não agisse sem coração. Não bastando a prevaricação original ainda coroou a maldade de morte. À hora do nascimento deu-se também a morte do filho do seu pecado. Abafado no hábito da mãe, nem nunca soube o que era o impulso de uns pulmões para respirar. 
Estava salva de um destino que conhecia grotesco. Congratulou-se por conseguir subtrair o problema da sua vida. Nunca se lembrou de Deus, nem do que Ele lhe ensinou, nem naquele dia, nem nos mil dias que se haviam de seguir.

Na corrida ao céu só havia lugar para uma das irmãs. 
Deus ficou confuso. Não sabia quem havia de mandar subir.





9.9.11

O presente...


... do Lampâda Mervelha (sim, é mesmo assim que se escreve!)

7.9.11

Giz



Durante anos gravava em mim o nome das pessoas de quem gostava, como quem esculpe na pedra. Talhava de forma quase irreversível as pessoas em mim com a certeza de quem se tatua sem medo de arrependimentos. Com a certeza de quem acha que as pessoas quando chegam ao terminal das nossas vidas só trazem bilhete de vinda e não quererão comprar de volta.
O tempo passou e percebi que há pessoas que vêm mas que voltam para o lugar de onde vieram, fora das nossas vidas, noutro Mundo longe do nosso. E que depois custava horrores lixar os nomes das pessoas do nosso coração para as apagar. Doíam-me os braços e, no fim, o coração ficava gasto. Limpo mas gasto.
Desde então decidi que não há nomes definitivos gravados em mim. Pinto-os a cal e todos os Verões sento-me à soleira da minha vida, contemplando cada pessoa com a preocupação de quem quer renovar as pinturas que valem a pena.
No terminal onde me encontro chegam e partem viajantes. Alguns chegam, contam-me histórias dos sítios de onde vêm. Outros partem e levam histórias de mim. Outros ficam e fazem a história cá dentro, comigo. E vão permanecendo em mim, sem ser preciso cravar o escopro na pedra.  
Comprei, enfim, paus de giz.