A expressão no rosto era a mesma de quando enterrara os seus outros seis maridos. Já se tinha habituado a casamentos curtos e a lutos longos. Nenhum dos seus sete casamentos tinha durado mais de seis meses mas a infelicidade de os perder a todos parecia prolongar-se por uma eternidade. Uma espécie de maldição, falavam, que parecia ter-se abatido sobre aquela bela viúva. A mais bela e voluptuosa viúva que todos os homens preferiam morrer a arriscar ter, do que morrer sem nunca ter tentado. Todos os seus maridos faleceram entre as suas pernas, ainda estas mal se tinham aberto, mas todos morriam de satisfação no rosto. O romance quedava-se rápido, interrompido pelas mortes inesperadas mas as alegrias pareciam estar-lhes gravadas nos corpos.
Tórridas noites e tórridos dias, viam o desfilar de corpos por aquela cama, quentes e em exaltação, como se adivinhassem que o fim se aproximava. Amou todos os seus maridos, todos os dias, e fornicou-os todas as noites, como se antevisse o seu final prematuro. E tinha razão para o temer.
Depois dos funerais chegava a casa, sem forças, e com o corpo magoado pela perda, desejando apenas entregar-se ao conforto da sua casa. A mansão, que tinha herdado do primeiro marido e que nunca deixou para trás, ainda lhe trazia boas recordações e por isso manteve sempre tudo no seu lugar e nunca se desfez de nenhum empregado. Quando chegava a casa tinha sempre à sua espera a sua mais fiel empregada. Como de costume pedia a Carlota que fizesse o seu chá de jasmim e mel, lhe preparasse o banho quente e lhe perfumasse o quarto com incenso da sândalo.
Carlota, a sua jovem criada, obedecia-lha e tinha-lhe verdadeira devoção e nunca, jamais, questionara uma ordem ou um pedido da sua bela patroa. Carlota tinha-lhe uma submissão que, por vezes, transbordava a simples dedicação e dever de empregada. Vivia para satisfazer a bela viúva.
Depois de cada um dos sete funerais, a que Carlota assistira, essa entrega era maior. Preparava tudo com mais atenção e acrescentava pormenores que sabia agradarem à desconcertante viúva. Com o chá, preparava os biscoitos de quinoa que sabia serem os seus preferidos, para o banho perfumava a água e aquecia as toalhas de algodão branco e, no regresso ao quarto, aguardava-a com uma massagem de óleos quentes.
A cada peça de roupa caída sobre o chão de mármore negro e branco, Carlota apaixonava os seus olhos a cada curva do corpo da sua bela patroa. Deixava-se enredar pela pele perfeita e pelos seus cabelos longos e estonteantes caídos sobre as costas. Já conseguia sentir as suas mãos a deslizarem ao longo das pernas torneadas e a tocar-lhe as mamas com as pontas dos dedos. Imaginava o encontro do seu corpo com o corpo untado em óleo da sua patroa. Sabia bem que os corpos se aqueciam quando as mamas de ambas se encaixassem e se beijassem ardentemente. As línguas, trocadas entre apertadelas de nádegas e chupões de mamilos, preparavam os orgasmos contidos que ambas desejavam.
Finalmente, naquela noite de luto, a bela viúva deixou-se envolver pelo chá refinado de Carlota e entregou-se ao tesão de fornicar a sua jovem e atrevida criada. Enlouqueceram-se durante toda a noite numa luta de sexo e suor. De desejo e descoberta. Carlota, finalmente, saciou-se com a sua bela patroa.
Todas as noites em que a viúva dormia com os seus maridos, Carlota escutava os gemidos de prazer do seu quarto. Furiosa e de desejo atiçado, masturbava-se com os gritos da sua patroa e gritava com raiva para dentro.
Prometia todas as noites, a si mesma, que um dia aqueles gemidos aconteceriam quando o seu corpo possuísse o da sua bela patroa. No dia em que a comesse toda a noite e esta gritasse cada vez mais, e mais por ser possuída. Depois de tanto tempo a invejar o lugar daqueles sete maridos, Carlota lá o alcançou.
Foram precisos sete chás, setes noites e matar sete homens para que isso um dia, finalmente, pudesse acontecer.