Allan Grant
Quanto mais agarro em jornais, vejo televisão, vou à internet, e ouço outras pessoas a conversar, mais me convenço que sou uma incapacitada para falar de uma série de assuntos. De muitos assuntos até. De algum modo isso deixa-me constrangida e com aquele pequeno sentimento de que não sou suficientemente inteligente, suficientemente interessada, suficientemente culta, suficientemente integrada. E não vivo tranquila com isso. Não estou tranquila porque queria chegar a um maior número de pessoas dominando assuntos que lhes fossem caros e, sobretudo, ter conhecimento de todos os temas para saber como todas as pessoas cultas se sentem.
Há muito tempo que tenho esta consciência, há demasiado tempo que não consigo inverter isto. Por exemplo, em relação à música, se me perguntarem: "então pá, o que é que gostas de ouvir?" eu fico atrapalhada. Ou ficava. Nesta senda de ser cada vez mais eu, e de deixar de agradar aos outros, decidi que nunca mais iria falsear uma reacção minha e, por isso, actualmente reajo com um "não sei, não percebo nada de música". Noutras matérias não tenho mesmo receio de denunciar a minha ignorância e dizer que não conheço ou não percebi. A vida é mesmo assim, é impossível conhecer-se e saber-se tudo por mais que nos gostem de exigir isso.
Mas hoje, senti pontadas de aflição mais acentuadas por esta minha falta de conhecimentos sobre determinados assuntos relevantes.
Abri o jornal e lá estavam os assuntos do costume, acompanhados de quadros e tabelas e gráficos, tudo muito bem explicado, suponho, e eu, mesmo assim, continuava sem perceber nada.
Abri o jornal e lá estavam os assuntos do costume, acompanhados de quadros e tabelas e gráficos, tudo muito bem explicado, suponho, e eu, mesmo assim, continuava sem perceber nada.
Eu não me sinto confortável a falar de política. Ou de spreads e taxas de juros (nem sei se faz sentido juntar os dois na mesma frase). Não posso falar sobre os formulários do IRS porque não faço a mais pálida ideia de como são.
Não percebo de gestão nem de economia e tenho sérias dificuldades em ler uma coluna de jornal que aborde o tema com gráficos e relatórios e opiniões de profissionais. Referências ao passado ou a outras situações análogas, são-me bastante difíceis de identificar e localizar.
Sinto-me, efetivamente, excluída do grupo de pessoas (que, suponho, seja enorme) que compreendem essas notícias.
Quando vejo a quantidade de temas que não domino e que, por força da minha curiosidade por querer conhecer todos os assuntos do mundo, sinto que não podia ser uma só pessoa. Estou tão longe de alcançar alguma perfeição intelectual que chego a pensar que seriam precisas muitas de mim para apreender tudo.
Onde é que esta conversa tinha começado mesmo?
Nisso... hoje sinto-me burra.