31.12.15

Carrossel




Finalmente, acabou o ano do carrossel.



30.12.15

Um ano. Mil choros.




Chorei demasiadas vezes este ano.
Gostava de dizer que sempre por culpa minha.
Que por amarguras minhas.
Que por falta de estrutura.
Que por excesso de temperamento.
Que por arrogância.
Por ira
Inflexibilidade...

Nem sempre.

Chorei demasiadas vezes este ano.
Muitas vezes, quase todas as vezes, pelos outros.
Por causa dos outros.
Porque sofri pelos outros.
Pela dor outros.
Pela dor que outros me infligiram.
Por ser fraca.
Por ser atingível.
Por amar.
Por necessitar de aprovação.
Por humilhação.
Por vergonha.
Por não ser capaz.
Por não estar à altura.

Mas nem sempre.

Chorei demasiadas vezes este ano.
Também por capricho ou falta dele.
Chorei porque sim e porque não.
Chorei por coisas que aconteceram.
Por coisas que não aconteceram.
E por coisas que deviam ter acontecido.
Por coisas que eu queria ter alcançado e não consegui.
E por coisas que consegui e preferia agora não as ter.
Chorei por coisas que, simplesmente, consegui e não sabia ser possível conseguir.
Chorei porque as estruturas se afundaram.

Sei, porque sei, porque a arrogância me deixa ter a certeza de o saber, que o ano que vem vai doer mais.
Que o ano que vem vou finalmente saber o que é chorar demais.



28.12.15

lado a lado

André Kertész - A Window on the Quai Voltaire, Paris, 1928



Um dia, talvez lá longe, muito longe, nas nossas vidas, venhamos a olhar no mesmo sentido, lado a lado.
Talvez venhamos a olhar em frente, para o mesmo, a querer o mesmo, a amar o mesmo, lado a lado.
Em vez de nos enfrentarmos.
Um dia, talvez, venhamos a querer as mesmas coisas, a dar valor às mesmas coisas, caminhando lado a lado, juntos, com o mesmo passo, até as alcançarmos.
Em vez de caminharmos de costas viradas.
Em vez de nos odiarmos e combatermos. Como inimigos.
Um dia, talvez, queria eu mais perto que longe, venhamos a olhar da mesma janela lado a lado, como tantas vezes o fizemos.
Talvez, apesar de não estarmos juntos, de ombros colados, as nossas mentes os nossos corações, se voltem a unir e não precisem das palavras para se amigar.
Um dia, quero acreditar que amanhã, estaremos por fim, lado a lado, a rir das costas que antes estiveram viradas. 
Estaremos a olhar da janela o que teimosamente, lado a lado, não quisemos ver.





21.12.15

Pesado o peso que se carrega




O tamanho do peso que te ponho,
Tem a proporção do peso que lhe sinto.

Tem o peso que lhe conheço,
Aquele que desconheces,
E a soma dos dois.

Pesa mais que a consciência de si mesmo.
Pesa mais que a importância que lhe dou.
Será possível carregar algo assim?
Será possível ter este peso nascido de mim?

Perdoa o que desconheces mas está por vir,
Ou já assentou.
Perdoa esta carga,
Este peso,
Que a minha imprudência,
Te deixou.



17.12.15

Chama-lhe azia



Perguntaram-me se sou séria.





13.12.15

Ferimentos na alma dos pés



Por vezes, os ferimentos maiores, não são os do corpo.

No ballet, os pés sofrem.
A alma dos pés sofre.
Fica torcida e retorcida para nos sustentar com beleza.
Sujeitamos os nossos pés ao nosso peso, sozinhos, a troco de uma glória que queremos só nossa.
Mas é dos nossos pés.

Eles elevam-nos.
Eles fazem-nos saltar.
Rodopiar.
Caiem no chão e voltam a erguer-nos.
A sua alma verga-se e espera-se que nunca parta.
Mesmo que a outra alma já esteja partida.

No ballet, a alma ergue-se.
Ambas as almas se erguem.
Uma empurra a outra mesmo quando as forças querem fazer o contrário.
A alma dos pés empurra a alma do peito.
Mesmo desfeita.
Numa bailarina, as almas dos pés salvam a alma do peito.
Salvam sempre.
Não a ressuscitam mas elevam-na a um lugar mais bonito.
Mais perfeito.

Por isso digo que, por vezes, os ferimentos maiores não são os do corpo, são os da alma.
Aquela alma que nos habita no peito.
Aquela que vemos menos mas nos derruba no mais profundo lamento.



9.12.15

Não me atirem pedras (atirem-me pétalas)






Olá a todos!

Ora bem, não sei bem por onde começar mas talvez começar pelo princípio seja uma boa ideia.
Há muito tempo que não dou as caras por aqui porque tenho andado ocupada com outras coisas e algumas delas, diria eu, nem me dão assim grande orgulho revelar mas enfim, esta terá mesmo de ser porque, e vou ter mesmo de ser interesseira, preciso de vocês, meus seis leitores que aqui vêm diariamente.



Há umas semanas o blog "A Pipoca mais Doce" lançou um concurso, eu concorri, fui selecionada e agora, basicamente, venho apelar ao vosso voto.




Agora os pormenores sórdidos da coisa:

- o concurso é para ganhar, nada mais nada menos, que um... casamento... yeph... com tudo a que se tem direito.


- Outro ligeiro pormenor, é que não, o Rui não me pediu em casamento, mas perante esta oportunidade, e imbuída do meu maior espírito de competição decidi, por minha única e exclusiva iniciativa e responsabilidade, concorrer.

- Lixei-me: fiquei entre os 12 selecionados.

- Descansem, entretanto o Rui já sabe e parece que está naquela de alinhar (mesmo que aconteça e ele não apareça no dia a festa faz-se na mesma, relaxem).

- O que vos peço, além de acederem a este site para votarem http://ocasamentomaisdoce.pt/votacao/ é que votem, naturalmente, naquele vídeo que tem o meu nome.

- Porque serão selecionados para a última fase apenas os três vídeos mais votados, e nestas coisas já se sabe que ganha, não necessariamente o melhor, mas aquele que tem mais amigos, vamos precisar de muitoooos votos (quero ver com o que conto!!!!).

- Atrás disto peço, também, que partilhem o link e o meu nome (é o nome associado ao vídeo), com a vossa rede de amigos, familiares, conhecidos, etc., para que votem também.

- Partilhem muito, muito, muito, por mail, por chat, mensagens privadas no Face, por onde quiserem mas partilhem.

- O Site está com muitos problemas mas vão tentando e façam muitos refresh que a coisa vai lá.

E é isto.
Deixo-vos o vídeo em anexo para se rirem do meu imensooooo jeito para a arte de fazer vídeos e, por favor, ignorem a manicure.


Beijos e Abraços e muito obrigada a todos!!!

Inês & Rui (aquele que não vai comparecer)


[E sim, expus-me mais do que é habitual mas um dia não são dias e para o mês que vem já ninguém se lembra, right? ;) ]



25.11.15

Não me quero aqui




Aquela dor,
Que há muito não conhecia,
Aconteceu.

Outra vez.

Na tranquilidade dos dias,
Na plenitude dos vazios,
Deu-se o terramoto.

Vindo de caminhos longínquos,
De povos desaparecidos,
De línguas que não se querem entender.
Deu-se o terramoto.
O tumulto.
A desavença.

Quantos nomes se pode dar a uma guerra sem nome?
A uma guerra sem golpes de armas,
Apenas com palavras lançadas sem piedade.
Que nome se dá a um conflito onde todos sofrem e ninguém quer sofrer?
Qual o sentido de guerrear numa guerra que não se quer?

Pudesse eu não sentir,
Ser feita de terra que cede,
E o terramoto não se dava.
A guerra não existiria.
Os povos não se desentenderiam.

Se sou eu a causa de tanta desgraça,
É nítido o quadro que finalmente se desvenda.
Torna-se, finalmente, claro quem está onde não devia estar:

Eu não me quero aqui.



17.11.15

Oops, caiu!



A propósito do que se tem passado na nossa vida política, neste inédito momento da nossa vida política, lembrei-me desta receita do Chef Massimo Bottura e que tem um nome curioso, como quase todos - se não todos - os que coloca nos seus pratos: "Oops! I Dropped the Lemon Tart"


Precisamos desta introdução...
The Italian topchef Massimo Bottura was about to come to The Netherlands to do a presentation at a food festival, as well as an interview with us. Unfortunately because of the earthquakes in Italy around that time he could not make it. But he was kind enough to send us this beautiful recipe for a slightly different lemon tart!
Massimo: “This playful dessert was inspired by my early days in the kitchen. I was totally obsessed with food as a child but very impatient as a young chef. I wanted to be able to create perfection from day one. When my mother was teaching me her technique for Emilian crostata crust, I was not giving her the attention I should have. The first couple of batches turned out crumbly or too hard. Every time I was dissatisfied I would throw the pie on the table and blame her:
“This is not the right recipe!!!!” After many broken pies, I learned how to kneed the dough properly. I never broke another pie until last year when one literally fell on the floor. Only then did I think about how important those first pie lessons were to me and appreciate how very patient my mother was with me. This dessert, by the way, is now my mother’s absolute favourite!
This dessert pokes fun at our daily strive for perfection and pristine beauty. I love the dynamics of a lemon tart but hate all the fuss- cream decorations and stubborn crusts. To get around all that nonsense, we purposefully crushed our tart. Of course, it isn’t just a one liner but full of flavoured experience from the most fragile crust to the peaks of tart, sour, sweet, cured and candied lemon on the plate.”

Penso que todos temos algo a aprender com esta tentativa/erro do Massimo Bottura, e com a sua impaciência em alcançar a excelência. Com esta lição sobre a displicência com que se olha para os que detêm o saber, apesar de nada sabermos, porque somos abalroados pelo nosso próprio ego. Muitas pelas vezes pela nossa imaturidade.

Não há nada de errado em querer ser-se perfeito. Não creio que haja. Mas há algo de pernicioso em querer-se ser perfeito sem primeiro aprender e sem se ter a humildade de se reconhecer que não se sabe tudo, não se conhece tudo. Muitas vezes temos de saber reconhecer que não dominamos o assunto que queremos dominar. Aquele que nos é caro ao coração. E, como tal, para bem dessa aprendizagem e dessa evolução que nos levará à luz de um conhecimento que nos conduzirá à excelência, por vezes, muitas vezes, talvez quase sempre, é preciso parar.
Parar para observar, ouvir, olhar, aprender, conhecer, errar, voltar a tentar, cair e voltar a erguer. Lá pelo meio, ou talvez no fim, teremos aprendido algo.

Massimo, apenas ao fim de muitos anos conseguiu dominar a técnica da massa da tarte de limão da sua mãe.
No dia em que deixou cair uma dessas tartes perfeitas ao chão foi quando deu realmente valor ao que a mãe lhe tinha ensinado.
Foi quando compreendeu, realmente, a matéria-prima de que era feita a tarte e a arte que foi preciso adquirir para a saber trabalhar.

Por estes dias caíram coisas no nosso país.
Ergueram-se outras que não sabemos por quanto tempo estarão erguidas. Porque não sabemos se tiveram tempo para ser aprendidas. Se tiveram tempo para ser erradas e, com isso, ter a possibilidade de se voltar a tentar, a corrigir, e a refazer.
Todos temos a aprender, com esta queda acidental da tarte de Massimo Bottura. A aprender que, por vezes, uma queda acidental nos faz pensar nos atos do nosso passado, nos faz dar valor às coisas que anteriormente não demos e nas coisas que desprezámos.
Gosto particularmente da ideia de, durante anos, insistir numa tarefa até que esta se torne perfeita e oleada e depois, muitos anos depois, quando estamos plenamente confiantes, a vida nos venha relembrar que não sabemos nada e que a aprendizagem é constante.

Gosto da ideia de que, mesmo de um acidente, pode nascer uma obra de arte.

Todos temos a aprender alguma coisa com esta história, ou não?
A nossa tarte caiu, mas e nós? Aprendemos alguma coisa com isto? Vimos-lhe alguma arte? Ou vamos apenas limpar o chão a pensar que foi tudo um acidente?



16.11.15

Repetições # 8




Porque hoje José Saramago faria 93 anos, resgatei um texto dos primórdios do Dias Cães, escrito no dia em que Saramago faria 89 anos.
E, com certeza, digo eu à distância dos anos e daqueles tempos em que tudo me atacava a alma, com uma grande dose de paixão que talvez hoje não me assaltaria.
Partilho-o porque foi bom reler-me neste registo.
Espero que gostem também.



"Caro José Saramago,

Lamentavelmente, sei-o morto. Não se inquiete, não lhe venho pedir que volte ou, tampouco, dar-lhe más notícias do lado de cá. Creio que todos os que lhe são queridos estão bem, caso contrário tal agoiro saber-se-ia à velocidade dos impropérios saídos da boca do povo, que sempre fala do que não sabe. Também não o venho evocar, que esta coisa de acreditar no além nunca lhe foi assunto caro, bem o sei.
O que me traz até si, tantos anos depois de desavinda com a sua pessoa, é a vontade de lhe pedir perdão. Pedir perdão e reconhecer-lhe o valor como homem que, durante tempos sem fim, desconfiava ficar-se-lhe ao nível da sola dos sapatos. Na verdade achava-o um pobre miserável, pouco mais que ignorante, com a arrogância de manipular a língua-mãe como bem lhe aprouvia. Sem credo e sem temor a Deus. Um real néscio numa figura prepotente. Um ressabiado. Julgava-o descrente apenas da boca para fora, para esconder a fé desmesurada contra a qual lutava. Apenas via em si o ódio de quem, apesar da idade, ainda não tinha aprendido a viver, nem aprendido nada com a vida. Uma revolta apenas comparável à de uma de colegial a quem não foi satisfeito mais um inútil capricho e por isso amua de beiço estendido.
Caríssimo José, como eu estava enganada.
Como me penitencio por estar enganada. Como me satisfaço por ainda assim o reconhecer.
Lidos os seus livros, conhecida a sua vida, rendida à sua história de amor, não me resta senão estreitar a garganta de engano e embaraço.
Que notável homem foi, José! Que grande ser humano se encontrou nesse corpo! Nesse velho corpo onde ser escritor apenas coroou a excepcionalidade do génio em que se tornou.
Afinal, a sensibilidade que carregava no seu peito, era maior que aquela que carregava nas letras. Enganou-me bem. O seu amor pelos Homens não tinha fim e o amor pela vida doía-lhe por saber de um final inevitável. Amou a todos de modo mais ou menos severo mas entregou-se a tudo com as ganas de quem cresceu sem esse amor. Finalmente rendeu-se quando encontrou o mais literal dos pilares. Amaciou-se, e fez-me vê-lo doce, quando a velhice lhe chegou à pele. Os velhos são o meu conforto confesso. Passei a encontrar em si uma ternura que acreditava perdida para sempre entre as palavras agudas dirigidas a Deus. O mesmo Deus que o baptizou, ironicamente, com o nome de seu pai. Talvez soubesse que um dia o iria vergar. Sabia, com certeza, que um dia o iria receber. 
É por este reconhecimento de homem bom mesclado de escritor genial, que não podia continuar sem lhe pedir perdão. Sem lhe dizer que gostava de o ter conhecido. Sem lhe contar quantas vezes me imaginei em Lanzarote à conversa consigo, pela paisagem despida e insaturada. Sem confessar que, se as nossas vidas se tivessem cruzado, eu me teria apaixonado por si.
Assim, na solidão das palavras que deixou, choro cada dia que o julguei em vez de o ter tentado compreender. Perdoe-me.

Espero que guarde junto a si estas sinceras palavras, para que um dia, juntos, as possamos reler.

Com toda a estima,
Um até breve!"





24.10.15

O [verdadeiro] problema das mulheres

NORMAN PARKINSON



- Gosto tanto desse vestido, que gira!

- Que giro esse vestido, ficas tão magra!

- Quando olhei nem te conhecia, por causa desse vestido e por estares tão magra...

- Estás tão magra, tens a certeza que está tudo bem?

- Estás tão magra, estás doente?

- Estás magra demais, esse vestido não te fica bem.

- Tão magra, de vestido justo e preto... fica esquisito não achas?

- Vestido preto??? Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa (morreu-te alguém?)?

- Credo. Não gosto de te ver de vestido preto. 



E é isto: uma pessoa começa o dia em altas e acaba em merdas.

Contudo, não obstante, porém, vejo um lado positivo nisto: desperto o lado fashionista no mais insuspeito dos trolhas. 

Em resposta ao título do post - Não, o verdadeiro problema das mulheres não é SÓ sermos invejosas e gostarmos de nos mandar abaixo. O verdadeiro problema das mulheres é sermos tão escrutinadas pela sociedade (cliché real e comprovado).

Pasmem-se mas a maioria destes cometários foram proferidos por... homens.
Tão exigentes connosco  e tão pouco exigentes com eles mesmos... se não fosse irónico, chegava a ser engraçado.


[E isto de ter ficado magra está-me a deixar um amargo de boca porque todos os dias, a toda a hora, as pessoas sentem-se no direito de me dar a sua opinião, quando eu nunca a peço. Nunca pedi. 
E se eu voltar ao que era? Vão ter o quê para me dizer?
Pois...]



23.10.15

Afinal...



Já não vai haver Boom, nem Avante, nem Coliseu...

Vamos assistir ao maior espetáculo do mundo, sem pagar bilhete, e com direito a homem-bala e cãezinhos amestrados mas, convenhamos, já sem grande suspense: O Circo!



22.10.15

"Vamos lá cambada, todos à molhada..."



Eu não percebo muito de política mas...

Juntar o Boom Festival, com a Festa do Avante e um concerto no Coliseu dos Recreios, vai dar uma grande salada russa, não vai?

#oquedizerquandolhesjuntaremasóperasnoSãoCarlos
#lásefoiaFestadoPontal
#chamemoAvôCantigas
#voltaJudasestásperdoado



19.10.15

Palavras matadas




Não escrever

Dá-me vontade de chorar

Mas chorar

Não me devolveu

A vontade de escrever



A prisão que ergui cá dentro

Não deixa as palavras entrarem

Nem deixa as palavras saírem

A prisão que ergui cá dentro

Aprisionou-me a mim

E quem não consegue evadir-se

Daqui

sou eu



Eu culpo as palavras

Que não voltam

Eu culpo as palavras

Que não saem

Mas na verdade

E eu bem o sei

Sou eu que as temo

Sou eu que às palavras

Não tenho voltado



Matei as palavras

Matei

Está matado





13.10.15

Modalidade Olímpica Nacional




Desde as eleições que ando a ouvir, aqui pelos gabinetes do trabalho, colegas meus a ter debates apaixonados sobre o tema.
Na verdade são mais conversas de surdos porque, se eles próprios se ouvissem haviam de perceber que está cada um a falar para seu lado, não ouvem as opiniões uns dos outros, continuam a conversar sem que as frases e raciocínios se articulem num diálogo, não chegam a conclusão nenhuma e, se bem me parece, ninguém quer denunciar o partido que defende mas, pelo sim pelo não, todos falam mal da situação em que estas eleições meteram o país.
Conversa de surdos com muito lume à mistura.
Cheguei rapidamente a esta conclusão do lado de cá da, infelizmente, mui fina divisória do gabinete:

O desporto preferido dos portugueses é: meter lenha.

Podia até passar a modalidade olímpica.
Os portugueses são mesmo, mesmo, bons é a meter lenha e nisto ninguém nos tira a medalha.

E eu aqui a pensar que, se calhar, eu é que estou mal e devia ter mais opinião sobre o assunto - que até tenho - e que devia chegar ali àquele lado e levantar o punho esquerdo e dizer meia-dúzia de alarvidades em tom irado, meter ao barulho as palavras "ladrões",  "aldrabões", "vigarices", "dinheiro", "iguais", "tacho", e a coisa estava composta e eu passava a fazer parte da matilha mesmo que não tivesse dito porra nenhuma. Tal como eles que, espremendo a conversa, também não disseram.
Foi só mesmo falar mal por falar.
Fez-me lembrar aquelas noites de Natal em que está um calor que não se pode na sala mas, como faz parte da tradição, tem de se enfiar lenha a noite inteira na lareira mesmo que aquilo já pareça uma fornalha. Às tantas já nem faz sentido mas continuamos a fazer porque "faz parte".
Aqui é a mesma coisa. Neste meu estimado Portugal - que o é, e não o digo com ironia - temos este espírito tradicionalista de nos agarrarmos a costumes sem sentido e teimarmos em dar-lhes continuidade. Em deixá-los como herança. E isto de meter lenha nos assuntos, qualquer que seja, a par do outro desporto nacional que é ir aos supermercados e centros comerciais aos fins-de-semana, é só mais uma dessas heranças.


[Fátima Campos, muda mas é o nome do programa para "O Recuperador de Calor" ou "A Salamandra" ou "O Lenhador" ou "Portugal a Arder" ou "Vamos deixar de ser parvos e tentar ser produtivos".]



29.9.15

As florestas

Merve Ozaslan



As arverens serem pequenas,
E as florestas serem grandes,
Nós gostaramens de vacas,
Nam curtirames elefantes.


Ora aqui fica este pequeno apontamento, um interlúdio, a esta temática tão fraturante da sociedade atual, de ontem, de hoje e de amanhã: As florestas.

Pois que, meus caros, hoje vos trago este assunto que me tem perseguido nestes dias e que, não podendo ignorar o mesmo, ainda que o mesmo teime em se apresentar a mim de modo ignorante, terei de vos relatar de forma dolorosamente real, ainda que, para menor sofrimento da humanidade em geral, queria eu, acreditem, fosse uma generosa fabulação da minha mente. Não o é.

Comecemos, pois, com o primeiro episódio.
Dou-vos, ainda antes, umas dicas para que o relato não vos caia de chofre no colo, sem qualquer aviso prévio.
Este momento desconcertante mete palavras como: floresta (óbvio), vacas e queijo. Todas juntas, bem entendido seja.

Pois que por estes dias me desloquei a uma dessas grandes superfícies a que os humanos de raça inferior se têm de deslocar frequentemente para sobrevivência da própria espécie: um hipermercado.
Dirigi-me à charcutaria, meti o dedo naquele equipamento que emite uma senha com um número, e, como qualquer mortal (e a beleza de nada nos serve nestes momentos, que pensar, então, da excepcional inteligência) tive de aguardar a minha vez.
E eis que tudo sucede.
Um ser do sexo masculino, acima dos quarenta anos, abaixo dos cinquenta, de compleição física bastante aceitável, e vestuário aceitável para a região do país em que se encontra ainda que não satisfazendo os meus gostos pessoais, assoma-se ao balcão e inicia este diálogo com a funcionária da charcutaria, uma mulher, talvez mais jovem que ele mas aparentando ser mais velha, seguramente ali colocada após sair do complexo turístico de Tires:
- Boa noite, dê-me 200gr desse queijo aí, por favor.
- Deste??? Têm a certeza??? Ai filho, pamórdedeus... Já provou isto?
- Hmmmm... Não, de facto não.
- Até lhe dou um bocado. Tome lá (atirando-lhe uma fatia do dito queijo para as mãos).
- De facto...
- Ainda por cima é mais caro. E essa cor? Amarelinho, hein? Bem bom!!! Credo!!! Já viu este aqui do lado? Ó homem, não leve isso pela sua saúde.
- Bom, já que insiste...
- ´Tá a ver? ´Tá a ver que eu sempre tinha razão? E já viu bem o nome deste queijo? Já viu bem? 'QUEIJOooo DAaaa FLORESTAaaa'. Nunca mais se esqueça deste nome: queijo da floresta.
Diga-me lá: Já alguma vez viu vacas na floresta?
Não, 'né?
Então como é que o queijo há-de ser bom?
Pense nisto amigo, pense nisto.


Bom, eu tinha mais uma pessoa de idade à minha frente e poderia fazer todo um relato sobre o seu pedido de fiambre da pá, mas o diálogo não mete a palavra floresta e eu não quero perder o foco pelo que prosseguirei o caminho que encetei, na certeza de que, a vossa atenção sobre este assunto já estará por esta altura, totalmente, absorvida.
Pois segui-me no próximo episódio.

Hoje, hoje mesmo, numa reunião com um homem que, enfim, sem desprimor para a raça, se apresentou com calças já descidas ao nível do rabo, talvez, diria, sem querer ter medido muito com os olhos, uns seis dedos abaixo do que seria humanamente aceitável. Pois isto descompensa logo uma pessoa de superior sensibilidade como eu. Não obstante, o homem ser uma pessoa tão devota à sua mãe e a um qualquer clube futebolístico cujo animal que o representa tem umas asas, que fez o favor de os tatuar no corpo e oferecer aos olhos dos outros como se de uma dádiva se se tratasse, uma pessoa lá tem de trazer a si o melhor que tem ao nível profissional e, de quando em vez, ir lá abaixo, às grutas húmidas onde estes seres habitam, e tentar estabelecer comunicação com eles:
- Diga-me, então o que o traz por cá?
- Pois, atão, quero mudar o telhado.
- Hmmm... Quer mudar, ou já mudou?
- Não, atão? Quero mudar. Aquele 'tá podre, 'né? Os barrotes, aquilo tudo, ´tá tudo podre.
- Então, está-me a dizer que precisa substituir toda a cobertura, inclusivamente toda a estrutura em madeira?
- Sim, pois.
- E consegue executar todo o sistema de suporte em madeira conforme o existente? Que madeira é que vai usar?
- Madeira? Atão, madeira, vou usar daquela madeira normal.
(baixa em mim aquela mulher das cavernas que todos trazemos no ADN mas que teimamos em arrumar debaixo de uns sapatos Prada)
- Ó homem! Madeira normal? O que é que é madeira normal? JÁ VIU ALGUMA FLORESTA DE MADEIRA NORMAL???
- Pinho. Ou casquinha.
- Ah bom, chiça. Agora madeira normal!!! Ainda me há-de dizer que gaita de árvore é que dá madeira normal. Vai ao carpinteiro e diz o quê? "Olha pá, dá-me aí um barrote de madeira normal"??? 
Já se está mesmo a ver que só vai sair daí asneira. Se ainda nem começou já vai assim, quando acabar... deve lá ter asnas em amianto!

E pronto, depois desencarnou o espírito mau que, uma vez por hora, baixa em mim.
Por esta altura já estou recomposta, já estou branda e serena, pronta para limpar estes pensamentos.
Sonharei, seguramente, com uma qualquer floresta deste país, do mundo quiçá, mas não queira Deus que eu sonhe com aquele vale renegado que encerrava o fundo das costas do homem das asnas em madeira normal, porque, a bem dizer, já tive a minha quota de obscuridade por hoje.



24.9.15

Égoïste




Gostava de me voltar a cruzar com todos os homens com quem já estive e dizer-lhes:

Agora 

estou 

assim.



16.9.15

Reverso





Este gelo que te adormece os pés

Não é o mesmo que te entorpece o coração




15.9.15

Se me disseres o que sentes




Se me disseres como te sentes hoje,
Talvez te ajude.

Talvez te permita pousares a cabeça em mim.
Entrares-me nos caminhos dos meus pensamentos.
Descobrires-me as negações.


Se me disseres o que sentes por mim.
Talvez eu retribua.

Talvez te permita tocares-me o olhar além dos olhos.
Colheres-me a alma e arrebatares-me o pulso.
Desfazeres-me os temores.


Se me disseres que não viverei sem ti,
Talvez morra.

Talvez decida não decidir.
Talvez desista de ti mesmo sabendo que isso me salvaria.
Talvez prefira morrer a arrepender-me.


Se me disseres que algum dia não viverei sem ti,
Então estas palavras que agora escrevo, já as escrevo sem vida.


13.9.15

#quemnãopedenãoouvedeus # quemnãochoranãomama #ofereceram-meunssapatossóporquesim(porquesouumaquerida)



Quem não chora não mama e eu lá ganhei uns sapatos, merecidíssimos, entenda-se!, após as férias epopeicas deste ano.
Foi apenas o reconhecimento de um esforço, de um sacrifício. Chamemos-lhe, um bombom.


[Começo a trabalhar segunda-feira, com a graça do Senhor. O ballet está quase a recomeçar e continuo a perder peso. Portanto, está tudo encaminhado para um regresso à normalidade. Nada temeis. Lá para terça-feira já escrevo poemas sobre cortar os pulsos e fica tudo com dantes.]




9.9.15

#fériasdeverão #queroroupaaaaa #pinterest #SOCORRO

Qiu Yang



Quando tenho pouco dinheiro que são cerca de 360 dias por ano é quando me apetece mais consumir. E por consumir refiro-me a comprar bens supérfluos, que é como quem diz, e não vou andar com rodeios, roupa e acessórios.
Há precisamente três anos entrei nessa grande missão de eliminar o excesso, de limpar o guarda roupa, de dar tudo o que tinha a mais e não usava e, a partir daí, comecei a comprar de maneira mais consciente: menos e melhor. Ou seja, menos mas de facto aquilo que queria ter dentro das minhas possibilidades. Esta medida reduziu muito o número de peças de roupa e de sapatos do closet mas continuo a fazer as limpezas de roupa a cada início de estação e a deixar partir aquilo com que já não me identifico.
Estas duas semanas de férias foram destinadas a isso mesmo estava farta das Maldivas. Renovar o quarto e o closet (queria uma cena à Pinterest... não perguntem) e, necessariamente, libertar-me de bens materiais.
Consegui o quarto e o closet à Pinterest (tenho os cabides toooodos iguais, branquinhos, e até a minha roupa parece saída de um blog de moda, qual Rachel Zoe) mas, e a agora vem a parte perniciosa da coisa... sinto um instinto consumista tão maior, tão grande, tão avassalador a crescer dentro de mim! SOCORRO! Quero roupa nova!

Mas o dinheiro acabou-se em tinta, cabides brancos, cómodas MALM e prateleiras, pelo que o dilema transformou-se num assombro à minha pessoa.
Com uns quilos a menos, a roupa a sobrar-me dos lados (mas que não dei porque o que vai também pode voltar) com um refresh na imagem e diria até na alma (é bonito e profundo mas tinha de contar mais do que agora se mostra apropriado) apetecia-me mesmo era mudar o guarda fatos todo. Queria renascer noutras roupas.
Ai que merda.
Não gosto de ser assim.
Quer dizer, gosto tanto, mas sei que é socialmente condenável.
E isto levou-me a outros pensamentos.
Levou-me à ideia - estúpida e oportunista - de que há muito, muito tempo, que ninguém me oferece nada. Não sei muito bem se será difícil agradar-me ou se, simplesmente, nem se lembram de me oferecer alguma coisa mas senti um certo adormecimento, seguido de um certo lamento, por não ter um presente deixado debaixo da almofada, só porque sim. De não ter um bonito par de sapatos à minha espera, embrulhado numa fita de seda vermelha, só para me fazer sorrir. De não receber um vestido, mesmo que num saco de papel só porque "vi e achei que era a tua cara e decidi comprar-to".
Mas gostamos todos disto, não gostamos?
Estava aqui a questionar-me se estou a ter apenas o retorno daquilo que sou com os outros mas neste campo não me parece que esteja a ser feita justiça porque eu sou o tipo de pessoa que compra para oferecer aos outros só porque sim, só porque me lembrei e achei que iam gostar, mesmo fora das datas comemorativas.
Sim, é um choradinho.
Eu merecia um presente. Um qualquer. Daqueles que são comprados só porque a pessoa se lembrou de nos agradar.
Porra, isto é falta de férias...

Bem, mas voltando ao assunto inicial, que era a falta de dinheiro, a vontade de comprar roupa maior que mandar chocolate negro directamente para as veias, e a renovação do quarto e do closet pelas minhas próprias mãos durante as férias, tenho a dizer-vos uma coisa e a aconselhar-vos outra:

1º - Não nasci para criada, nasci para princesa. Que se fodam os DIY do Pinterest. NUN-CA-MA-IS.

2º - Se não nasceram ricas, casem com um gajo rico. É que só há duas maneiras na vida de lá chegar, e uma não está nas nossas mãos mas a outra...



A inspiração. Olho para isto e ainda sinto a dor nos braços. Os meus pulmões ainda andam a expelir pó. A minha pele ainda anda a recuperar dos hematomas. E, sinceramente, agora olho para isto e só me apetece é mudar de casa.



7.9.15

Catarina



Separa-nos a distância,
Uma vida,
Tantas vontades.
Queira Deus,
Ó Catarina,
Que nos reencontremos,
Num destes dias,
Entre sorrisos,
E abraços,
Contigo mulher,
De carácter forte,
Plena de coisas,
Para me contares.



[À minha afilhada maior, mais velha, mulher feita, e que me faz sentir também velha, ausente, e com vontade de ser melhor para os outros. 
Sem saberes, Catarina, deste-me a maior das lições nisto de, perante Deus, assumir a responsabilidade de guiar alguém na vida cristã: a lição de assumir apenas um compromisso que se esteja à altura de comportar. 
Contigo não me tenho portado à altura, mas tens-me ensinado a não falhar como os outros que se te seguiram. Aqueles a quem não consegui dizer não, porque também os amo, aqueles onde vi uma oportunidade de me redimir como madrinha, como orientadora para uma vida cristã.
Obrigada Catarina, apesar de não saberes porquê.]




25.8.15

Facto





O dia em que descobres que não és tu que estás cansada do ser humano em geral, são as pessoas que estão fartas de ti em particular.



24.8.15

Ironias de uma gaja com o karma mais fodido do universo

Matthieu Bourel


Eu era gorda.
Eu agora estou magra.
Perdi 8 kg. Ou 9.
Talvez 10... não sei bem.
A merda da balança eletrónica que comprei, porque era em vidro e ficava esteticamente impecável na casa-de-banho, é uma grande banhada e não tem sido, propriamente, fiel, por isso já não sei a quantas vou.
Certo é que afinei.
E, apesar de andar há demasiados anos nisto do engorda/emagrece, a verdade é que já não tinha este peso há uns quinze anos... com a vantagem de ser trintona com este peso o que torna a coisa sobejamente mais interessante e, por essa razão, mal ou bem, a autoestima também lá se endireitou um bocadinho.
Antes do Verão chegar, quando decidi que tinha de perder peso de maneira mais definitiva e permanente (compromisso de fim/início de ano, está num dos posts) a minha grande visão era aquela de ir arrasar para a praia.
De me enfiar num biquíni XXS e não tufar nem um milímetro de pele. Tufar apenas aquela bolinha de carne das nádegas rijas que até se agradece que tufem.
Visualizava - como a cenourinha sempre à frente do nariz - a pele dourada, o cabelo comprido e o corpo esguio a desfilar pela praia metida numa tanga caliente - não badalhoca - e espetar na cara das miúdas de vinte anos "tomem lá que eu sou melhor que vocês".

Ora bem, tenho novidades (parte 1 do Karma, vá, lixado):
Comprei um fato-de-banho.

Finalmente comprei um fato-de-banho com um modelo estonteante, vermelho, que me deixa partes de fora que podem estar de fora, e partes tapadas que devem estar tapadas.
Isto em teoria.
Comprei o fato-de-banho quando estava com os tais não-sei-quantos-quilos a mais e por isso estava justo e perfeito.
Agora, não-sei-quantos-quilos depois... ele é mama para cá, ele é mama para lá, e quando saio do mar sou um misto de Lili Caneças com Amália, que ora tenta erguer a cabeça "olhem para mim que sou tão bela" com um "Que fado o meu, porra, valha-nos Deus, queira Nossa Senhora de Fátima que estas maminhas, que agora parecem sacos de chá, não se tenham esgueirado e já estejam a chegar aos joelhos".
Resumindo, agora que comprei um fato-de-banho, sem ser de avó, não tenho corpo para o usar.

Parte 2 do Karma Fucked Up:
Não vou à praia este ano.
Sim, correto, é isso mesmo.
Consegui o corpo, não consegui a ida à praia.
Há quinze, QUINZE, anos que não tinha este peso, que não me sentia bem comigo, e não só arranjei uma burka largueirona que não me serve de nada como nem sequer vou à praia.
Há dez anos que não estava sem fazer praia.
Enquanto fui gorda e só encontrava biquínis houve sempre praia.
Agora é que não há praia.
Giro né?

Parte 3:
Neste quinze dias de férias que se seguem vou fazer obras em casa, pintar, limpar, e arrumar uma coisa a que chamo closet mas que, em bom rigor é um bunker para onde mandamos roupa.
Estou que nem posso de felicidade.

O bom disto, é que pelo menos o trolha que lá irá a casa, e o escadote onde me vou montar a maior parte dos dias, vão poder ver a Pamela que há mim.
Pelo menos isso...
Com sorte, com o cheiro do diluente, três dias depois já olho para o trolha e vejo o Mitch Buchannon e sempre ganho as férias.