Não consigo descrever a
dor. Mas sinto-a.
Não há alegria em mim. Na
vida.
Os dias não têm fim. As
semanas não terminam.
Os sorrisos nunca
mais se esboçaram no meu rosto. A felicidade nunca mais visitou o teu.
Sinto impotência.
Impotência por não te
conseguir resgatar desse lugar fundo.
Desta tristeza cheia de dor
que sinto dentro de mim quando olho para dentro da tua alma e não me vejo dentro
de ti.
Que mais posso eu ser
para te fazer uma pessoa feliz?
Que mais tenho de
ser?
Quem terei eu de
ser?
Apenas tu sabes a
resposta. Talvez eu também a saiba e prefira esconder isso de mim.
Por medo. Ou por medo da perda. Ou pelo medo de poder nunca te ter tido.
De ter sido uma fraca
substituição de quem te fez, realmente, feliz.
De nunca ter estado à
altura. De eu nunca ter sabido contra quem lutava. De ter travado uma luta
injusta, às cegas. De ter lutado sozinha. De desconhecer que a batalha
esteve sempre perdida.
Não é frustração, é dor
por não estar à altura do que já conheceste como sendo amor.
Relembra-te do lugar onde
já foste feliz e leva-te novamente a esse sítio, onde já soubeste o que era o
amor.
Não temas essa viagem ao
teu interior.
Preciso que a faças.
Preciso que saibas, antes de eu saber, aquilo e quem, realmente, te elevou o
espírito.
Quem te fez ter o teu
pensamento entregue, apenas a si, durante todas as horas do dia.
Preciso que conheças, que
reconheças, que há forças que não se derrubam.
Que há amores que se
adormecem, que se fazem por esquecer, que se iludem com truques e distracções
mas que nunca, nunca, se conseguem fazer desaparecer.
São aqueles que em tempos
nos fizeram não querer dormir.
Que nos faziam acelerar os dias para chegarmos rápido ao próximo encontro.
Aqueles que nos faziam
sofrer com os minutos. Com a distância.
Há amores que nos fazem
isto.
Que não nos fazem
esquecer que fomos felizes.
Que nos relembram a toda
a hora que, depois desse grande amor, apenas nos passámos a satisfazer com
pouco.
Que nos condenámos a,
simplesmente, gostar.
Que nos abandonámos ao
amor que outra pessoa nos quis dar mesmo sem estarmos dispostos a
devolver o que seja.
Depois de se viver um
grande amor, um beijo não irá chegar e um abraço na despedida não terá
significado.
Para ti.
E para mim?
Sabes bem o que
significas para mim?
Sabes o que significa o
beijo vindo da boca de quem se ama?
Conheces a dor de o ver
desvanecer?
Agora, depois de não
encontrar alegria em nada, de me lembrar como sofro por estares longe, de não
estar em paz comigo por ser quem sou, de pensar que não sou suficientemente
importante na tua felicidade para te fazer estar junto a mim, sei que morri um pouco por
dentro.
O passado insiste em vir
ao teu encontro no presente. Mas no presente também aqui estou eu. A implorar
para ser vista. A implorar para amar. E é tão difícil viver com isso. Revelo fraqueza, bem sei, mas a sombra do passado impõe-se majestosamente sobre
mim.
Esse passado, o mesmo que
te entristeceu tantas noites ao deitar, vibra com fulgor.
Aparece sempre feliz ao
teu lado, a lembrar-te como foi bom o que entre vocês germinou.
A sussurrar-te nos
pensamentos que está ali. Que estará sempre ali.
Tu sabes, infelizmente eu
também, que, se em vez de um sussurro esse passado te gritasse bem alto que te
ama, que te queria fazer feliz novamente e que nunca mais te abandonaria, tu não
hesitarias.
A sombra que ela é neste
momento passaria a ser real e a minha existência teria o seu
fim."