7.9.11

Giz



Durante anos gravava em mim o nome das pessoas de quem gostava, como quem esculpe na pedra. Talhava de forma quase irreversível as pessoas em mim com a certeza de quem se tatua sem medo de arrependimentos. Com a certeza de quem acha que as pessoas quando chegam ao terminal das nossas vidas só trazem bilhete de vinda e não quererão comprar de volta.
O tempo passou e percebi que há pessoas que vêm mas que voltam para o lugar de onde vieram, fora das nossas vidas, noutro Mundo longe do nosso. E que depois custava horrores lixar os nomes das pessoas do nosso coração para as apagar. Doíam-me os braços e, no fim, o coração ficava gasto. Limpo mas gasto.
Desde então decidi que não há nomes definitivos gravados em mim. Pinto-os a cal e todos os Verões sento-me à soleira da minha vida, contemplando cada pessoa com a preocupação de quem quer renovar as pinturas que valem a pena.
No terminal onde me encontro chegam e partem viajantes. Alguns chegam, contam-me histórias dos sítios de onde vêm. Outros partem e levam histórias de mim. Outros ficam e fazem a história cá dentro, comigo. E vão permanecendo em mim, sem ser preciso cravar o escopro na pedra.  
Comprei, enfim, paus de giz.



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