O que te fez voltar agora, sua ingrata?
Que forças foram essas que te empurraram do sítio onde estás para este sítio onde estamos todos?
Terás perguntado a ti própria se te queríamos de volta?
Se nos fazias falta?
Claro que não.
Julgas-te imprescindível na vida de todos nós, salvadora do mundo.
Não o és.
Terás, porventura, reparado que continuámos todos a viver sem ti?
Que o mundo continuou a girar mesmo sem estares aqui?
Um dia houve em que a respiração se suspendeu de desgosto mas, logo depois, as vidas seguiram.
Tínhamos todos de seguir.
Responde-me:
O que te fez voltar agora, sua ingrata?
A vaidade?
Tinhas saudades de ver alimentada a tua vaidade?
Que todos se vergassem em teu redor, te fizessem vénias à retórica arrogante?
Era isso?
Sentiste falta do nosso amor, mesmo que invisível, por ser o único que ainda te restava nesta vida?
E quando foi que isso aconteceu?
Num dia de chuva, acompanhada pela solidão de uma banheira cheia de água, enquanto ouvias os cães a ladrar na noite?
Quando caíste em ti e percebeste, finalmente, o quão sozinha estavas?
Não se regressa a casa de braços abertos à espera que os outros também o estejam.
Não se pode voltar cheia de alegria no peito quando os outros ainda limpam a devastação.
Não se pode abrir com um sorriso a mesma porta que se fechou com amargura, quando alguém ficou lá dentro.
Quem ficou trancado guardou a imagem da chuva que caía lá fora.
Como se pode depois chegar, abrir a porta, e anunciar que nunca o sol deixou de se iluminar?
Quem acreditará em tal coisa?
E se acreditar, como poderá não cobrar no minuto seguinte uma clausura que não merecia?
A tua alegria não é a nossa.
Não vês que há partidas que se dão por um tempo tão infinito, que já não se espera que alguém possa de lá voltar?
Um dia, um dia, vou poder dizer isso a uma certa pessoa. Hoje não é o dia. Mas ele vai chegar, ò se vai!
ResponderEliminarAo ler este texto, como se entende bem o nome do blogue. Como deve doer viver na pele de quem o escreve.
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