25.11.14

A queda de Sócrates... outra vez






Não é dia da etiqueta Repetições mas pareceu-me apropriado voltar a ler "A queda de Sócrates".
No dia 23 de Março de 2011, tinha caído pela primeira vez.

http://diascaes.blogspot.pt/2011/03/queda-de-socrates.html


"O filho do escultor Sofronisco e de sua mulher, Fenareta, foi um pomo de discórdia em todo o estado ateniense. O incómodo da sua presença avolumou-se, não se sabe desde quando, até aos últimos dias de vida - quando já atingira setenta e um anos. A cidade tolerou-o enquanto lhe foi possível. A figura mental de Sócrates, o espectro de perplexidade que ele fazia tombar sobre uma sociedade em crise moral e política, tornavam-no configurado à imagem de algo de sagrado, de que as sociedades carecem, para si mesmas se purificarem - o "bode expiatório", o cordeiro inocente. Os dias de catárse demoravam, envolvida Atenas nos pesadelos da guerra peloponésica, nos sobressaltos dos jogos da tirania e da democracia. Chegando o tempo da colheita, a cidade pediria um exorcismo mortal. E Sócrates foi o signo vital do exorcismo."

in "Platão - Apologia de Sócrates"


Como chegámos nós a isto, povo de Atenas? Como pudemos nós assistir rezingando, em vez de erguer os braços e lutar? Que caminho trilharemos nós até aos calabouços do inferno? Que luz encontraremos para nos guiarmos à razão?
Hoje choro de vergonha. Hoje envergonho-me de mim por não ter lutado quando devia. Como Ateniense sou a lástima reflectida de todo o povo. Como Ateniense, hoje baixo a cabeça de rendida, mas sobretudo de embaraço, por não me ter colocado ao lado de quem se ergueu. Não condeno os carismáticos por o serem. Não violentarei os reis surdos que governaram um reino de incapacitados. Não atirarei pedras a quem perdeu o sono para fazer o que ninguém queria. Baixo-me antes a seus pés, agradecendo as suas vidas entregues ao diabo, em troca de lutas vãs com Deus. Não me posso considerar alguém no meio de uma ceara seca que não reclamou por água e não posso cobrar ao Sol o dourado que não lhe dei, mas como Ateniense me questiono: "como é que nos entregámos a isto?".


1 comentário:

  1. Foi e possilvente continuará a ser uma entrega cega,surda e muda.
    Sinceramente, não acredito que vá terminar.

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