2.7.12

Desejos obscuros



Os infinitos corredores de mármore ampliavam as sombras das enormes janelas de sacada do antigo convento. O brilho da luz da manhã lambia o chão polido e agudo, travado pelas imensas paredes brancas decoradas com lambris de azulejos em cobalto e estanho.
Os seus passos ecoavam em cada um dos generosos corredores e o rosto ora iluminava-se ora ensombrava-se, conforme se iam descontando as janelas. Caminhava firme pelo mármore mas de rosto sobre os pés. De pasta na mão direita e dois ou três livros debaixo do braço esquerdo. Por vezes erguia a cabeça e cumprimentava alguns professores seus colegas, mas apenas por cortesia. Tinha uma atitude reservada.
Uma vez por semana, precisamente antes das aulas de teoria de arte que leccionava, a sua pulsação estranhamente balava-se quando os, seus passos certos pelo mármore, eram interrompidos pela passada ritmada de uma intrigante aluna. Sua aluna. Cruzavam-se apenas ao último dia de cada semana. Olhavam-se de soslaio antes de cada aula e fugiam com os olhos logo depois. Os olhares cruzavam-se mil vezes durante a aula. Tantas quantas as vezes que se evitavam. 
Um punhado de semanas depois o jogo já se agoniava na sua garganta. Sabia que era errado desejar o corpo da sua aluna, mas era inegável a sede que tinha de a possuir. A aluna atiçava-lhe a vontade em cada lábio sugado e a cada toque propositado no decote. Em cada mamilo teso que denunciava sob as blusas finas e entreabertas. Os pensamentos assombravam-lhe os dias, as noites, e os seus passos por aqueles corredores. Temia cruzar-se com ela e não lhe resistir.
Um dia, ao fundo de um dos longos corredores, viu-a a espreitar e a recolher-se logo de seguida. Intrigou-se. Hesitou. Foi atrás. Acelerou os passos. Levantou a cabeça. O peito batia mais rápido. Dobrou a esquina do corredor e vislumbrou-a ao fundo, a escapulir-se novamente. Desta vez não se deteve e correu. Largou a pasta e os livros, correu de peito aberto e de susto no rosto. Ao fundo do corredor uma  das portas estava entre-aberta. A biblioteca estava, inexplicavelmente, aberta naquele momento. De pulso descontrolado, entrou sem hesitar.
A sua aluna esperava.
Semi-nua.
Pousada sobre uma poltrona velha. 
Com o desejo a saltar-lhe pelas mamas.
Com a vontade a latejar-lhe entre pernas.
Entreabriu os lábios sensuais para dizer "quero-te", mas sem dizer nada.
A professora correu para o corpo da sua aluna.
Beijou cada milímetro da sua pele e entregou a sua boca aos mamilos tesos da jovem mulher que naquele momento possuía. Chupou cada um até lhe sentir os gemidos de prazer.
As duas entregaram-se de modo ardente e compulsivo, aos dois corpos de mulheres, por entre livros e estantes de mogno velho. Por entre luxo e tesão. Por entre o proibido e o desejado. Apaixonavam-se a cada língua que sentiam. A cada dedo que faziam penetrar. A cada olhar que já não evitavam.

A luz rasante do fim do dia, que agora deslizava pelas janelas de sacada, tocava-lhes de modo quente os dois corpos desnudados sobre a tapeçaria em que dormiam. Abraçadas. De pernas entrelaçadas. Beijaram-se pela última vez na promessa de não voltar a acontecer.
Voltaram a amar-se todos os dias contra a sua vontade.
Contra a vontade de todos os que, entre velhos mármores e velhos mognos, as julgaram.


À nAnónima


2 comentários:

  1. Obscuros desejos, intensos prazeres, profundos amores, beijos sequiosos, promessas eternas...
    Bjs
    Raul

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  2. ... ouve, miuda, eu não posso ler estas coisas às 9h da matina... já nem consigo trabalhar! lindo...
    quanta honra... obrigada...

    (não me estragues com mimos ;)

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