Do meu Coração
O meu coração andava moribundo. Sem pinga de sangue nem fulgor. Corria-me pelas veias, solitário, para lá e para cá, sem emoção. Sem destino. Perdido. Corria-me pelo corpo, acabado, pálido, como rios e ribeiros que se tornam lentos até se sumirem. Que se esgotam num fiozinho, até secarem.
Ao meu coração faltava rumo e corrente. Faltava força e vontade de querer. Andava fraco, quase morto, porque não queria bater.
Os meus rios e ribeiros procuravam um local para desaguar onde sentissem que, no encontro com outras águas, não existiria o doce ou o salgado. Que as suas águas doces se iriam juntar a um imenso mar salgado e, de repente, seriam um só. Este coração, morto e sem sangue, apenas o era porque não encontrava um mar forte e corajoso que o fizesse viver. Era apenas um coração sozinho sem caminhos para alguém lá chegar. Era um coração desligado das artérias que o fazem bombear.
Das tuas Artérias
No teu corpo, o mais tumultuoso dos mares sobrevive. Vive em ti esse sangue salgado e inóspito. Revoltoso e indignado. Vives forte e aceitando sempre o avanço das marés, sem medo que a maré te vire o barco. Enfrentas, de peito feito, o ardiloso destino que o teu sangue te reservou. Os caminhos por ele percorridos, cheios de abismos e obstáculos, parecem fáceis às muitas lutas travadas. Lutas silenciosas e solitárias que gritavam por companhia. Lutavam por chegar a um lugar que desconhecias mas sabias querer alcançar. Subias a pulso todas as margens das tuas artérias para desaguar num desconhecido lugar. Subias a pulso por saberes que o melhor estava por concretizar. Desconhecias-me o coração mas soubeste sempre que não havia outro para conquistar.
Na chegada do teu sangue ao meu coração, a máquina começou a funcionar.
Faremos o Nosso Sangue
Um dia a bravura da tua corrente lutou para chegar até mim. Remaste contra esse mar que vive dentro das tuas artérias para me chegares ao coração. As tuas artérias ligaram-se a mim. Abraçaram-me o coração e uniram esse mar salgado, aos meus rios e ribeiros de águas doces.
Ao galgar as margens das tuas artérias, esse sangue audaz soube invadir o meu coração. Arrebatou-me e casou-se comigo num dia inesperado. O teu sangue ultrapassou todas as margens e entrou por esta casa abandonada, desenfreado, arrombando-lhe a porta sem medo. Percorreu-lhe todos os caminhos e instalou-se para sempre na mais nobre das divisões. Chegaste ao meu coração e sentaste-te no trono que há muito era teu. Aguardava por ti sozinha, na certeza de que um dia ias chegar.
O meu coração bate agora com vida, porque as tuas artérias lhe trouxeram um futuro inteiro.
Bem vinda de volta.
ResponderEliminarAfinal ainda aqui restava alguém.
EliminarObrigada T.
Belíssimo..
ResponderEliminar(este post não comento, cara Dc...)
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