Perdi-me algures entre um
empregozinho no Alentejo e um loft em
Manhattan, e nem sei bem como foi que isso aconteceu.
Na época dos sonhos eu queria ser
tão mais, e acabei a conquistar tão pouco. Eu sonhava tão alto, e deixei-me
satisfazer com praticamente nada. Queria viver em Manhattan num loft, com
asnas de madeira e paredes forradas a tijolo burro e com grandes vidraças
emolduradas por ferro forjado e acabei a conseguir um empréstimo para a vida por
um impessoal T1. Ainda assim, apesar de ambicionar chegar ao outro lado do
Atlântico, queria viver de forma menos pretensiosa do que a forma como vivo hoje, porque, de alguma maneira, projectava aquela realidade com uma felicidade que não
precisava de adereços, em vez desta vida sem ponta de graça mas
recheada de adornos para lhe darem o brilho que não tem.
No meu íntimo sei que havia
qualquer coisa de promissor em mim que não se chegou a cumprir.
Por inércia, por força das
circunstâncias, por interferências externas, por fraqueza ou por outras mil e uma
coisas, a verdade é que perco-me a tentar perceber e justificar que a minha vida, afinal, não se tornou naquilo
que eu queria, mas sim naquilo que eu deixei que se tornasse.
É curioso como a falta de atitude
talhou mais o meu destino do que todas as boas intenções juntas. As boas
intenções, de facto, não me colocaram em lugar nenhum. Os sonhos, não me
colocaram em lugar nenhum. O simples querer, não me colocou em lado nenhum e, muito menos, em Nova Iorque. Ficar à janela, de olhar perdido, a pestanejar e a pensar
como a vida irá ser boa comigo e me trará tudo o que desejei, trouxe apenas o
consolo desse exacto momento. O consolo de uma ilusão boa, daquelas que nos
traz conforto ao estômago. Mas não trouxe mais nada. Não vai trazer.
Não me trouxe Nova Iorque, nem o
loft em Manhattan, nem as telas e os pinceis, nem um cachorro quente comido na
rua, nem as corridas matinais no Central Park, nem as inaugurações de
exposições em galerias arte, nem as tardes a vasculhar livrarias.
Se pensar bem a fundo, quase
consigo perceber porquê, mas depois sinto que me vou magoar mais com a resposta
e deixo-me ficar pela superfície. Se a responsabilidade fosse de outro alguém, eu teria todo o gosto em aprofundar para depois arremessar culpas. Assim,
adivinhando que a resposta sou eu, não me confronto a mim mesma para não me
penitenciar. Na prática, é o mesmo motivo para não ter lutado pelo meu sonho.
Porque não vou fundo. Porque tenho medo. Porque incorro sempre nos mesmos
erros. Os nossos actos acabam por funcionar como círculos e as atitudes
manifestam-se sistematicamente da mesma maneira em todas as decisões da nossa
vida.
Uma coisa é certa, continuo a
acreditar que a imprevisibilidade da vida parece ser superior às nossas
vontades. Nunca equacionei a hipótese de ter este trabalhinho no Alentejo e
aqui estou eu. Desejava ardentemente ter sido pintora em Nova Iorque e, afinal,
nunca cheguei a sair daqui.
Não sei se perdi as forças ou fui
engolida pelas circunstâncias mas sinto que deixei de dar aos braços cedo
demais e me deixei afundar.
Agora, sinto saudades de Nova
Iorque sem nunca lá ter estado. Aquelas saudades que se sentem por um amor não
consumado. De quando sabemos que já só estamos apaixonados pela ideia da pessoa,
e não pela pessoa, mas mesmo assim continuamos deslumbrados.
Sinto saudades daquilo que queria
para mim e que, algures pelo caminho, perdi.
Perdi-me algures entre um
empregozinho no Alentejo e um loft em Manhattan, e nem sei bem como foi que
isso aconteceu mas sei que foi por minha culpa.
Se há coisa que este blog me tem trazido, é amor.
Amor, afecto, carinho, amizade... de desconhecidos, tal como eu também sou para quem me segue.
Hoje, a Susana Silva decidiu partilhar comigo, connosco, esta foto que diz ter marcado a sua passagem por Nova Iorque.
E eu agradeço muito, agradeço mesmo muito, e por isso decidi que ela também deveria fazer parte deste texto.
Obrigada Susana.
Amor, afecto, carinho, amizade... de desconhecidos, tal como eu também sou para quem me segue.
Hoje, a Susana Silva decidiu partilhar comigo, connosco, esta foto que diz ter marcado a sua passagem por Nova Iorque.
E eu agradeço muito, agradeço mesmo muito, e por isso decidi que ela também deveria fazer parte deste texto.
Obrigada Susana.
Olá, DiasCães!
ResponderEliminarJá a leio há muito, porque lhe admiro o estilo que nada tem a ver com a presunção expressa em frases soltas e pseudo-eróticas de muitos blogs que mais não são que uma forma camuflada de engate no mundo virtual.
Só hoje resolvi comentar... talvez porque me reveja em muitas das vivências que relata.
Escrevo-lhe principalmente para lhe dizer: Não desista dos sonhos! Sinto que é uma mulher de garra, que pode ir longe, tanto no Além Tejo como Além Atlântico.
(Não querendo ofender... Há, por distração, um "trás" no texto,que devia ser "traz")
Boa sorte... e continuação de bons textos!
Um abraço
de
Unter den Linden
Bem-vindo!
ResponderEliminarAgradeço as palavras que, a estas altas horas, me sensibilizaram particularmente.
Na verdade, reconheço que barreiras estão todas dentro de mim.
Essa garra que me reconhece existe na mesma proporção em medo e, bem sabemos, é a audácia que nos coloca nos lugares e não o medo.
Mas se um dia tiver coragem e atravessar o Atlântico, com certeza que o irei partilhar.
Obrigada por me acompanhar e espero que continue por aqui.
Um abraço.
(E obrigada pela correcção. Agradeço sempre que me indiquem estas "distracções". Chega-se a um ponto que, mil vezes leia os textos, mil vezes não irei ver os erros. Um sincero obrigado!)
EliminarNova Iorque é já ali.
ResponderEliminarUm grande amigo acabou de consumar esse sonho, em muito semelhante ao teu. Barreiras também as tinha. E não lhe vejo (não te conhecendo) mais garra do que a que demonstras.
Não vejo porque não o consigas também fazer
R.
Nova Iorque parece-me longeeeeee...
EliminarMas com estes comentários simpáticos começo a ter força para acreditar.
Pode ser que um dia destes dê o salto para o outro lado do Atlântico.
Olha o Chrysler Building....
ResponderEliminarFaz em Outubro 1 ano que estive pela 4 vez em NY.
Apesar de terem estado uns dias fantasticos mas já com um cheirinho de vento frio do Norte, do sitio onde foi tirada essa foto pelas 19,00 já estava um frio de rachar.
Nunca vá em pleno verão ou Inverno a NY, a melhor ocasião é setembro/Outubro ou então incio da primavera Abril/Maio.
NY está ao virar da esquina e fica mais perto do que o Alentejo profundo.
Pinoquio
4ª vez???
EliminarAi que injusto!!!
Ou: Ai que inveja!!!
E eu aqui...
Essa história do Alentejo profundo ficar mais longe que NY, deu-me muito que pensar...
Querida DC, partilhamos o Loft? :) Embora nunca tenha tido o sonho de NY, sempre fui mais de sonhos europeus (Paris mata-me), vejo-me, nos próximos tempos, a correr mundo. vejo mesmo.
ResponderEliminarNão desistas, traça um plano (não acredito em planos rápidos) e muita força. Mereces o melhor.
um beijo
Sabes que te prometi lá para Novembro pôr mãos à obra.
EliminarPode ser que isso me leve daqui para um lugar melhor.
Mesmo que não te mudes comigo, virás, com certeza, no meu coração e no meu pensamento. Mas para já, encontramo-nos por aí ;)
Beijo
Olá, Dias. Quanto tempo...
ResponderEliminarEu vou para NY. Enriquecer a vender pastéis de nata e arroz de pato. Mas primeiro vou fazer a experiência para Dublin. Um dia destes.
Tal como tu, nunca lá estive mas fui imensamente feliz lá.
Quem sabe se não nos encontramos por lá...
Bj.
Bem-aparecido seja, Sr. Noya!
EliminarÉ uma questão de acertarmos agendas. Dá-me jeito lá para Julho, pode ser?
Em NY ou Dublin, vamos com certeza ser muito felizes, mas peço-te: não me dês arroz de pato todos os dias.
Bj gd.
Podia ser eu a escrever... se soubesse fazê-lo desta forma. Também, em adolescente, sonhava com um apartamento simples mas bonito em Londres e, afinal, acabei em Trás-os-Montes. Ainda que tenha estado oito dias em Londres, regressei e aqui estou eu a lamentar não ter tido a tal atitude.
ResponderEliminarObrigada pelas suas palavras, sempre tão oportunas e em conformidade, muitas vezes, com aquilo que sinto.
Acho sempre incrível quando se identificam com o que escrevo. Sinto que existem muitas pessoas que sentem e pensam as mesmas coisas que eu. É recompensador. Mesmo que, neste caso, não seja por um motivo menos feliz.
EliminarPode ser que um destes dias consigamos dar o salto (vamos acreditar que sim).
Obrigada por me ler!
Até breve.
Estimado Dias,
ResponderEliminarNotável como habitualmente!
Acompanho o seu blogue já há muito tempo. Chegou a altura de me aventurar no mundo dos blogues em parceria com 3 amigos. O nosso blogue tem o nome de Troika À Portuguesa - versa com humor sobre a atualidade -; convidamo-lo a visitar-nos e se achar que somos merecedores disso que nos adicione ao seu blogroll. Naturalmente o convite é extensivo a todos.
Obrigado pela atenção.
http://troikaaportuguesa.blogspot.pt/
O mundo dos blogues é fascinante. É a mais funcional das democracias e mesmo quando alguém nos tentar boicotar, está tudo nas nossas mãos: publicar ou não publicar os comentários, heis a questão!
EliminarÉ um poder fantástico e não à Troika que entre sem permissão.
Boa sorte para o vosso blog. Vou ser uma visitante atente e regular.
Obrigada pela visita!
Mais um brilhantíssimo texto.
ResponderEliminarNYC é um mundo novo. Já tive o prazer de lá ir duas vezes e, precisamente, em Julho e em Dezembro. Calor e frio. Muito calor e muito frio.
Em Dezembro aquilo é mágico, como deves calcular. Mas em Julho também o é. Aquilo é sempre mágico, pronto.
O texto "apanha" muita gente. Não estás sozinha nessa luta entre a vontade e o medo. Seja para ir para o outro lado do mundo, seja para confrontar uma paixão antiga, seja para romper com o passado. Toda a gente sente isso e, a maioria esmagadora, rende-se ao mesmo que tu.
Acho que esse tipo de vontades, ou sonhos, precisam sempre de uma resposta. Porque é que queres voar até NYC? Ou melhor, porque é que queres voar do Alentejo para fora? Melhor ainda, porque é que queres voar? Quando tiveres a resposta, terás a força.
Ui, ui, ui... tantas questões difíceis de uma vez só...
EliminarMas creio que tens razão. O dia em que descer até ao fundo de mim e tiver bem claras as respostas, possivelmente, terei a força. Talvez até acabe por perceber que afinal nem queria assim tanto NYC ou que afinal o que queria mesmo, mesmo, mesmo, era viver uma vida modesta em Arrabaldes de Baixo...
Está tudo em aberto. Ainda está.
Obrigada pelo comentários esperançoso e honesto.
Adorei este post, e identifico-me tanto com ele. Identifico-me no fascínio por NY, e não na perda de NY (ainda), mas a possibilidade de que a vida também nunca me leve lá. Tenho tantos sonhos.
ResponderEliminarEspero que não se fique pelo Alentejo, que a vida ainda lhe proporcione aquilo que já não espera. Mas não fique à espera :)
Bonitas palavras, que dizem tanto! Obrigada por esta partilha.
http://alguemquemecale.blogspot.pt/