Vês sombras e coisas que se mexem num ápice mesmo em frente às retinas dos teus olhos. Correm, fogem, do teu campo de visão e ficas a pensar que viste mas não viste. Pensas que estás louco e que viste mas não viste coisas que realmente existem. Mas se existem então viste mesmo o que pensavas que não viste que viste. Todos te tentam convencer de que não viste essas coisas. Que estás louco e sempre o foste. Acreditam e convencem-te a acreditar que viste e ouviste coisas que não existem e que não viste nem ouviste. E tu já nem sabes em quem acreditar. Acreditas primeiro em ti depois nos outros e de novo em ti até que vence a opinião dos outros. Entre acreditar e não acreditar que viste o que viste, que ouviste o que ouviste e que sentiste o que sentiste, já te baralhaste todo e já não sabes de novo em quem acreditar. Sentes conspirações e burburinhos nos ouvidos que te chegam à cabeça mas tentas acreditar que tudo são fantasias e que o que ouviste afinal não ouviste e que podes estar mesmo a enlouquecer no meio desses murmúrios. Já não te querem fazer acreditar que estás a inventar histórias e dizem-te que afinal está tudo na tua cabeça e enganam-te o tempo fazendo-te acreditares em coisas que eles agora efectivamente dizem ser verdade mas tu já não queres acreditar. Baralham-te mais uma vez e dizem-te que afinal as mentiras são verdade e que as verdades são sempre mentiras. Misturam tudo e juntam palavras desordenadas e imagens abstractas para te dificultarem o raciocínio. Quando te sentem a escapar do labirinto espetam mais argumentados desorganizados e mais ideias descabidas e voltam a falar-te das coisas que não vês mas pensas que sim e dos sons que não existem mas dizes que ouves. Baralham tudo outra vez, sapateiam em cima da tua confusão, espremem-te a razão e voltam a sacudir tudo aquilo em que acreditavas. Conseguem que te ponhas em causa em vez de colocares em causa os outros e eles e todas as coisas em que realmente acreditavas e passas mais uma vez por louco por não conseguires tomar decisões e errares sempre que as tomas. Fazem um gajo sentir-se perdido e estúpido e confuso quando é na cabeça deles que tudo está perdido e partido e desarranjado. Fazem sentir que o mundo dos outros anda todo bem menos o teu e que apenas tu estás cuspido de todo a lógica universal. Convencem um gajo que ver bem, ouvir bem, pensar bem e andar bem é que está errado e que o certo é gozar com a razão dos outros.
Os meus sinceros Parabéns pelo blog, à algum tempo que o sigo e gosto muito! :)
ResponderEliminarObrigada Patrícia!
EliminarÉ muito bom quando, mesmo que aos poucos, os leitores se vão revelando.
Eu também gosto de saber que me lê desse lado.
Escreves extraordinariamente. E acompanhas com fotos sensacionais.
ResponderEliminarR.
Oh R., se há pessoa que gosto de ter por cá és tu.
ResponderEliminarSempre, mas sempre, simpático de uma maneira que me parece honesta. Genuína.
E eu gosto tanto disso.
Obrigada, a sério!
Tem sido um prazer ler o que escreves. Ficção ou realidade.
ResponderEliminarCuriosa a forma como por vezes se encontram sitios onde nos sentimos bem. Este é, para mim, um deles.
R.