A distância entre não gostar de um pessoa e desejar-lhe mal é infinita. A diferença que existe entre reconhecer o gorgulho no arroz e deitá-lo todo fora sem o escolher, é tão tremenda como condenar à morte um povo pelos erros de apenas um indivíduo.
Saber detectar no outro que está ali qualquer coisa
que não é nosso e que não combina com os nossos princípios, não está sequer
perto de querer que essa pessoa tropece todos os dias em caminhos ásperos e
muito menos que nunca se levante deles.
Isso divide as más pessoas das outras. Essa
diferença de atitude entre ficar a ver as coisas desmoronarem-se e não
interferir e ver as coisas desmoronarem-se e ir lá dar mais um empurrão.
Também existem aquelas pessoas que tentam a todo o
custo que nada resvale. Essas são as boas pessoas e, realisticamente sabemos
bem que, existe apenas um punhado delas espalhado por aí.
Não retiro prazer algum em ver gente a cair nem em
ver gente a sofrer. Justiças ou injustiças à parte, cair e esfolar os joelhos
dói sempre, independentemente da pessoa a quem isso acontece. Sangra sempre e
deixa marcas até ao dia em que a cicatriz lá decide desaparecer. Numas pessoas
demora mais, noutras demora menos, numas até achamos que foi merecido e noutras
achamos que ainda foi pouco, mas continuo a achar que isso nada tem a ver com
carregar mais no sofrimento dos outros. Em contribuir ou até ficar feliz com a
desgraça dos outros.
Quem sofre colhe sempre a minha solidariedade. Como
não pertenço ao grupo dos bons não tenho capacidade para aparecer com os dois
braços abertos e os ombros prontos para receber uma cabeça pesada e perdida,
mas mantenho a distância digna de quem respeita a dor do inimigo.
Os nossos adversários são o espelho dos nossos
defeitos. É neles que podemos ver todas as maldades de que somos capazes e
todos os maus sentimentos que alimentamos e, por essa razão, acredito, que
merecem respeito sobretudo nos maus momentos. Porque por vezes os
maus momentos das pessoas de quem não gostamos fazem-nos descer lá ao fundo dos
nossos sentimentos e acabamos a descobrir coisas sobre nós mesmos. Podemos
descobrir que, afinal, a indiferença nem nos faz ter compaixão, nem ódio,
sentimentos de revolta nem de salvação. Podemos perceber que, afinal, não vês
um inimigo num dos seus momentos da sua fraqueza mas apenas um ser humano, como
qualquer outro. E se é apenas uma pessoa como qualquer outra não existem razões
válidas para que gostes da humilhação da sua derrota. Isso seria colocar-nos
naquele lugar das más pessoas. Aquele que achamos sempre que está reservado
apenas àqueles de quem não gostamos.
Podia dizer que por vezes o caminho é escuro e de
nada nos vale deixar escorregar o inimigo, porque ele faz falta ao nosso lado
para que a competição continue a valer a pena, mas estaria a dizer apenas uma
coisa sem sentido mas que soava bem só para parecer que até me preocupo muito
com quem não colhe a minha simpatia. Não quero que me vençam mas também não me
regozijo com a sua desgraça.
É uma questão de lealdade.
É uma questão de princípios.
Queria apenas que soubesses que o sofrimento que
sentes agora, me trespassa o coração e me dói nas carnes e na alma como se
tivesse sido eu a atingida. Não te vou estender os braços porque bem sabes que
não faria sentido, mas os meus bons pensamentos estarão com certeza contigo.
Excelente.
ResponderEliminarAcho que percebi perfeitamente para quem este post é dirigido! Ou não...
ResponderEliminarBeijinhos
Sentido texto. Gostei muito desta 'verdade'.
ResponderEliminar"Nunca sabemos quando somos sinceros. Talvez nunca o sejamos. E mesmo que sejamos sinceros hoje, amanhã podemos sê-lo por coisa contrária". Fernando Pessoa
ResponderEliminarMuito bom este teu texto. Parabéns.
PERFEITO! Apaixonei-me por este post, por estas palavras, na verdade pelo tipo de escrita.
ResponderEliminarVem de encontro ao que sinto. Ao que se passa na minha vida!
Obrigada! Porque inconscientemente, fizeste-me crescer agora um pouco mais.
;)