Violando os olhos de promessas, cresceram-lhe aflições nas mãos.
Desejando possuir o que não tinha, de dar tudo o que não podia, encharcaram-se-lhe as faces de dores por todos os pesares que não compreendia.
Eram punhados de palpitações em cada fechar de olhos, por não ter o que dar, a quem tanto o merecia.
Atrocidades contorcidas, nas profundezas da consciência que não era sua, gritava de medo e de vergonha por um bem que não podia partilhar. De tristeza atroz por não ter mais o que dar.
Naqueles dias de felicidade, que turvamente assistia existirem noutras vidas, lamentava que estas não fossem a sua e indagava, nos confins dos seus pensamentos, razões para tão grande sofrimento. Questionava-se porque razão o amor que sentia ali não lhe era retribuído no mesmo tom.
Por não encontrar a resposta, aos vinte e cinco dias do último mês debruçou-se sobre si e desejou que a morte a levasse. Não lhe restavam esperanças de abrir os braços e ter mais o que dar a quem tanto lhe deu. Abriu antes as pernas e deu a todos o que com tanto amor criou.
Largou aquele que tinha nascido de si à sorte dos que haviam de um dia muito bem lhe proporcionar. Na noite em que o menino lhe encontrou os braços, ela largou-o ao mundo. Aquele mundo que um dia tudo lhe havia de dar. Mal sabia ela que das maldades desse mundo também um dia a vida lhe haviam de roubar.
No dia em que o menino nasceu o céu pôs-se negro sem que a noite tivesse pousado e a estrela que se acreditou cadente não mais o rasgou.
Acabaram-se os dias, as noites e a vida da mulher que o pariu com amor mas não tinha mais o que lhe ofertar. Entregou-o a quem um dia o amou e logo depois o conseguiu matar.
Quantas pessoas haverão que, querendo dar tudo aos que amam, não mais têm para dar que esse amor que alguns desses abastados desconhecem?
Demasiado para mim... o que quer dizer que a tua escrita é potente. Saí daqui com um nó no estomago. Brutal.
ResponderEliminarEste está óptimo!
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