18.2.13

Onde nos perdemos?





Nunca se pode dizer que nascemos iguais a nós. Nem que morremos iguais a nós mesmos. Questiono-me, aliás, sobre o que é morrer igual a nós mesmos. Como será? O que é uma pessoa morrer exactamente igual à pessoa que nasce quando, nesse intervalo de tempo a que se chama de vida, damos lugar a tantas pessoas dentro de nós. Quando dentro desta vida existem tantas vidas.
Nascemos sem planos, crescemos com os planos que os outros traçam para nós, vivemos a construir os nossos próprios caminhos. A traçar linhas que não sabemos onde vão dar. A descobrir-lhes o destino. A perceber que o que imaginámos nem sempre é aquilo que acabamos por ter.
Acabamos a desejar que os planos que traçaram para nós se realizem mais do que aqueles que pensámos ser os melhores porque, afinal, quem nos concebe sonha sempre mais alto. Quer sempre melhor. Sabe sempre o que realmente é o certo e devido. Aquilo de que se faz uma vida.
Lá pelo caminho deste longo processo que é viver, vamos definhando. Perdemos as forças. A coragem. Achamos, em algum momento, que nada vale a pena. Que está tudo bem assim. Queixamo-nos para dentro. Reclamamos, em silêncio, que a vida não nos deu o que queríamos. Que lutámos por ter mais.
Mas fica tudo cá dentro. Porque sabemos que não é verdade.
Um dia, em mais um no meio da confusão de dias que leva uma vida, paramos para olhar para trás para vermos quem éramos. Relembramos os sonhos, os projectos, os desejos, as vontades e vimos como não se cumpriram, como desistimos deles, como deixaram de fazer sentido. Arrependemo-nos de algumas coisas. Orgulhamo-nos de poucas. Vemos que queríamos ter sido mais. Olhamos para trás e não nos reconhecemos.
Procuramos as pessoas que somos hoje em imagens antigas com crianças que já não conhecemos. Tentamos ver-nos nessas imagens, olhar fundo nos olhos, reconhecer um gesto, uma expressão e vimos, apenas, uma sombra daquilo que somos hoje.
A criança que havia dentro de nós, findou-se.
Não sabemos bem o que nos poderia passar pela cabeça naquela época, se os sonhos iam além de ter bonecas e chocolates. Se mais tarde apenas queríamos casar e ter filhos. Se em algum momento apenas nos quisemos divertir e conhecer o mundo.
Esquecemos se isso tudo nos passou pela cabeça ou se são desejos que agora se formam para querer compensar o vazio em que se vive.
Não conseguimos, realmente, saber o que se passava nas nossas cabeças na época das fotografias coloridas e dos cortes de cabelo bizarros. Sabemos apenas que nascemos assim mas não vamos morrer aquelas pessoas. Perdemo-nos ou renascemos algures entre uma coisa e outra, em tempo incerto. Não saberemos nunca onde foi.

Não morrerei igual ao que nasci mas gostava de um dia voltar a encontrar-me com a criança que fui  e dizer-lhe que o caminho se faz apenas de escolhas. Das nossas e não das escolhas dos outros. Ou estaríamos vivendo a vida dos outros e não a nossa.

Não é o que acontece tantas vezes?







2 comentários:

  1. Corte de cabelo bizarro? Eh, que linda era a minha trunfa em miúdo:-)

    Fizeste-me querer voltar atrás no tempo.

    R.

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