2.11.13

O mocho




Não te sentes observado?
Olhado por alguém, ou alguma coisa, algures entre o céu e a terra?
Como se uns olhos se tivessem cravado em ti.
Como se cada arfar teu fosse arfado em sincronia com o arfar de alguém.
Não sentes?
Não andas pela noite com passos atrás dos teus?
Como uma réplica.
Um eco.
Como se os teus pés se tivessem duplicado e caminhassem ao teu lado.
Como se alguém, em vez de andar apressado, se arrastasse atrás de ti.
Nunca olhas para trás, sobre um ombro amedrontado?
Com os olhos latejantes de medo.
Com a cabeça metida num labirinto de caminhos desconhecidos.
Perdida.
Quantas vezes te questionas se haverá alguém te conheça profundamente?
Que saiba tudo de ti.
As vezes que sorris.
O número de palavras de exibes pela voz.
Quantas folhas folheias antes de dormir.
Quantas horas corres na solidão.
Pensas mesmo que estás protegido?
E que as palavras te escondem o rosto e o carácter?
Então agora olha para trás.
Vê bem o que tens atrás de ti.
Rende-te aos pés que assentas agora sobre o chão.
De nada adianta quereres fugir.
Perceberás que há sempre qualquer coisa que nos vê.
Que nos procura e que nos encontra.
Que haverá sempre obscuridade na solidão.
E alguém, ou alguma coisa, que se move melhor que nós nessa obscuridade e nessa solidão.
E que nos vigia a cada segundo, mesmo nas longas noites que acreditamos estar sozinhos.
Mesmo quando acreditamos que a nossa vida, até para nós, terminou.
E agora?
Não te sentes observado?

Bem vês. 
Nem sempre um fim acaba bem.




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