"Em 1907, para tentar provar que a alma existe e tem
peso, o médico americano Duncan MacDougall, pesou seis pessoas antes e
depois de morrerem e constatou que o ponteiro da balança quase sempre descia.
O instrumento de trabalho de MacDougall era como uma enorme
balança de dois pratos. De um lado ficava o paciente em estado terminal,
deitado numa cama, do outro lado o médico colocava pesos equivalentes.
A primeira cobaia foi um homem com tuberculose, que ficou sob
observação durante 3 horas e 40 minutos. Nesse tempo, perdeu peso aos poucos,
em média 28 gramas por hora e, de repente, morreu. Segundo o médico, o prato da
balança subiu, registando a perda dos famosos 21 gramas. "No instante em
que a vida parou, o lado oposto caiu tão rápido que foi assustador", disse
o médico ao jornal The New York Times.
Mas o peso registado nos outros pacientes foi diferente. O
segundo teria perdido 46 gramas. O terceiro, 14 gramas e, alguns minutos
depois, mais 28. Com o outro, o ponteiro da balança desceu e depois subiu
novamente. Segundo o médico, a diferença tinha a ver com o temperamento de cada
um. "Um dos homens era apático, lento no pensamento e na acção. Nesse
caso, acredito que a alma ficou suspensa no corpo, depois da morte, até se dar
conta que estava livre."
Para comprovar a sua teoria, MacDougall fez o mesmo teste com quinze cães e nenhum deles teria perdido um grama sequer. Conclusão: homens têm alma,
cães não. Será que existe alguma verdade nos estudos de MacDougall?
"Não", afirma o autor do livro "Morte ao Pó: O
que Acontece com os Cadáveres?", Kenneth V. Iserson, da Universidade do
Arizona. Iserson chama a atenção para o fato de o ar ter peso, coisa que
MacDougall não levou em conta, e diz que não existe "o" momento da
morte. "O processo pode se esticar por dias ou semanas". Mesmo com
todas essas contradições, MacDougall é conhecido até hoje pela sua teoria dos
21 gramas."
In Wikipédia [tradução livre]
Encostei o meu ouvido ao seu peito, naquele preciso momento em que suspirou. Senti a alma desprender-se do corpo. A pairar sobre o quarto. Sobre o seu corpo velho e sobre mim. Ali paradas. Sem saber o que se seguia. Sem saber a qual das duas cabia o passo seguinte. Aguardei, com cerimónia, uns minutos. Nunca me tinha passado a morte pelas mãos. Nem sabia se era aquilo a morte: simplesmente morrer. Largar o último quinhão de ar. Ficar inerte. Abandonar um corpo usado. Seguir com a alma para outras vidas. Juraria, se preciso fosse, que lhe vi a alma despedir-se do corpo, como uma neblina levantada com um sopro. Juro que aquela alma viveu além da morte. Eu vi.
Olhei-lhe o rosto antes da partida. Olhei depois. Não era a mesma pessoa. Mas eu tive-lhe o mesmo amor. Era o corpo da mulher velha, que deu vida à vida que me fez viver. Amei-a na despedida como nunca terei amado na chegada. Em todo o caminho. Amei-a mais depois de um adeus que ela nunca chegou a saber que lhe fiz.
Morrerei eu, um dia, e o arrependimento de um amor tardio não me salvará. Talvez, quando a minha alma chegar até à sua, lhe possa dizer o quão agradecida estou por me deixar assistir à sua morte. Por ter esperado por mim para a ver morrer.
Ela amou-me mais ali. E não me doeu. Agradeci-lhe a partilha deste momento comigo. A sós.
Depois vieram as outras pessoas. Foi-se o nosso momento, o nosso silêncio. Vieram os rituais em que, sei, não acreditava. Choraram pessoas que, sei, não a amavam. Naquele dia que entregámos o seu corpo velho e magro, foi-se a crença de um céu e de um Pai que nos acolhe. Perdeu-se a magia. A história passou a ser outra. Levaram-nos a alma e deixaram-nos cá o corpo sem significado. Deixaram cá aquilo de que não se conseguiram livrar. Deixaram-nos um corpo para mandarmos para a terra. Para o lixo. Mas a nós também nos custa, sabiam?
[Soube que tinha morrido quando lhe olhei o rosto e vi que já não era ela quem ali estava. Restou apenas um corpo. Foi-se a alma. Não se sabe para onde.]
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