[Nota prévia: Conheci o André da Loba vai para cima de 12 anos, na época, precisamente, em que mantinha a relação de que falarei no texto em baixo. Por ter recuado até essa altura, lembrei-me do André e do seu incrível trabalho. O André já não faz puto de ideia de quem eu sou mas eu achei piada reencontrá-lo através do seu trabalho.
André, pá, se por acaso fores um dos vinte que vem aqui ler isto, deixa-me dizer-te que, na altura em que namorava com o outro, ainda te pisquei o olho. Mas, já se sabe... a farda dos escuteiros nunca deu pica a ninguém ;)
Agora, metam lá um semblante sério porque o que se segue também o é, mais ou menos.]
Deixamos sempre coisas para trás quando mudamos de casa. E por vezes, inexplicavelmente, arrastamos connosco coisas que não nos fazem falta para seguir em frente.
Há muitos anos, quando saí de casa dos meus pais, tinha todos os meus bens, os meus objectos, enfiados no meu quarto com a certeza que nunca os tiraria de lá mas que eu, isso sim, seria devolvida ao lugar dos meus objectos.
Isso nunca veio a acontecer. Não voltei definitivamente àquele quarto. Segui a vida por outros quartos até chegar àquela que é hoje a minha casa. Só minha. Quando regresso ao meu quarto de adolescente encontro os mesmos velhos objetos no mesmo lugar, sem sentido, inertes, por vezes sem história. Os que tinham importância foram sendo levados por mim. Mereceram um lugar no sítio que habito. Os outros, os que ficaram no quarto da pessoa que já não sou, não sei que lhes faça ou se, sequer, é obrigatório que lhes faça alguma coisa.
De quando em vez, lá espreito para dentro do armário grande para perceber o que poderei resgatar. Qual das coisas merece ser levada comigo. Evito ao limite esse exercício por o saber penoso. Não por desencadear más memórias mas por, de algum modo, sentir que as estou a arrancar do sítio onde elas pertencem, onde as quero, onde sei que as irei encontrar. De certo modo tenho medo de as perder. Mas, num dia de tédio puro, lá me lancei ao armário grande.
Bonecas de porcelana, dossiers da faculdade, trabalhos do liceu, uma flauta, uma caixa dourada. Uma caixa verde.
Fiquei parada a pensar.
Conhecia a caixa dourada. Guarda as memórias dos tempos de escutismo. Fotografias, emblemas, umas meias velhas, a boina...
Também conhecia a caixa verde. Senti um pulo no peito.
A caixa verde esperava, há quase uma década, para ser redescoberta.
Sabia bem o que ela continha. Talvez por isso ela tenha ficado ali, tanto tempo, sem que a vontade de a abrir me assaltasse.
Dentro daquela caixa estão sete anos de duas vidas. A minha e a de um amor de adolescência. Estão bilhetes de amor; cartas trocadas durante as férias num tempo (tão recente) onde não existiam telemóveis nem internet; de objectos sem valor mas cheios de significado; de flores, agora secas, que foram colhidas a caminho de um encontro comigo; de cadernos recheados de poemas e também de letras de músicas, desenhos e aspirações ingénuas; estão fotografias; estão cheiros; estão memórias. Estão muitas coisas que eu já tinha esquecido.
Felizmente, depois de abrir a caixa verde, o que me invadiu foi a nostalgia e a tranquilidade de quem tem o fim de uma relação bem resolvido. Sem esqueletos no armário. Ressentimentos. Também não senti saudade. Senti ternura, graça, felicidade por ter vivido momentos que devem ser vividos na idade certa. Senti-me bem comigo por a vida me ter dado a oportunidade de, ainda adolescente, poder viver um amor sem compromissos, obrigações ou rotinas. De viver um amor na simplicidade com que ele se deve viver.
Bonecas de porcelana, dossiers da faculdade, trabalhos do liceu, uma flauta, uma caixa dourada. Uma caixa verde.
Fiquei parada a pensar.
Conhecia a caixa dourada. Guarda as memórias dos tempos de escutismo. Fotografias, emblemas, umas meias velhas, a boina...
Também conhecia a caixa verde. Senti um pulo no peito.
A caixa verde esperava, há quase uma década, para ser redescoberta.
Sabia bem o que ela continha. Talvez por isso ela tenha ficado ali, tanto tempo, sem que a vontade de a abrir me assaltasse.
Dentro daquela caixa estão sete anos de duas vidas. A minha e a de um amor de adolescência. Estão bilhetes de amor; cartas trocadas durante as férias num tempo (tão recente) onde não existiam telemóveis nem internet; de objectos sem valor mas cheios de significado; de flores, agora secas, que foram colhidas a caminho de um encontro comigo; de cadernos recheados de poemas e também de letras de músicas, desenhos e aspirações ingénuas; estão fotografias; estão cheiros; estão memórias. Estão muitas coisas que eu já tinha esquecido.
Felizmente, depois de abrir a caixa verde, o que me invadiu foi a nostalgia e a tranquilidade de quem tem o fim de uma relação bem resolvido. Sem esqueletos no armário. Ressentimentos. Também não senti saudade. Senti ternura, graça, felicidade por ter vivido momentos que devem ser vividos na idade certa. Senti-me bem comigo por a vida me ter dado a oportunidade de, ainda adolescente, poder viver um amor sem compromissos, obrigações ou rotinas. De viver um amor na simplicidade com que ele se deve viver.
Não sei se algum dia conseguirei desprender-me daquela caixa verde, daquelas recordações que me invadem quando lhe levanto a tampa mas, disso sei, não preciso de a tirar do seu sítio e de a trazer para minha casa. Em vez de uma memória transformá-la-ia numa imagem viva, presente, e não é assim que quero cristalizar aqueles anos.
Quero que se mantenham, precisamente, lá atrás, para me lembrar como foi tão melhor o caminho que percorri depois, para poder chegar até aqui.
Quero que se mantenham, precisamente, lá atrás, para me lembrar como foi tão melhor o caminho que percorri depois, para poder chegar até aqui.
Poesia em verde... o verde moço de Garrett... o verde de uma juventude!
ResponderEliminarJá há muito tempo que não o via por aqui.
EliminarTinha-me questionado que palavras o teriam afastado.
É bom saber-lhe o regresso.