Lembro-me, estranhamente, do teu cheiro.
Uma mistura de madeiras quente e doce, com tabaco e Whisky.
Parecias trazer sempre o Verão.
Cheiravas bem.
Lembro-me da tua camisa rosa, de mangas arregaçadas.
Sempre engomada.
Denunciava o brio das mãos de uma empregada devota.
Lembro-me do teu cabelo. Claro que sim.
Todas as pessoas te conheciam o cabelo.
Ruivo, como as tuas sardas.
Temperamental, como o teu feitio.
Lembro-me do teu riso engraçado.
Cheio de humor inteligente.
Cheio de alegria.
Assim julgava eu.
Lembro-me de seres um homem maior que tu mesmo.
Megalómano. Inesquecível. Gigante.
Lembro-me do teu à vontade.
Dos teus cumprimentos honestos.
De como me juntavas dois beijos à face como se eu fosse uma filha.
Lembro-me do teu nome. Completo.
Da tua assinatura.
E de como ela deixou de se reproduzir.
De como o quiseste apagar.
Dessa maneira tão triste e fatal.
Tão definitiva e dramática.
Lembro-me das últimas palavras que me disseste.
Sem que soubesse que seriam as últimas.
Lembro-me da manhã seguinte.
Das palavras atropeladas.
Lembro-me de me perguntarem se eu já sabia.
Se eu já sabia que tinhas ditado o teu fim.
E não, eu não sabia.
Nem sequer esperava.
O que me lembro, muito bem,
Muito tempo antes dessa decisão,
É que os teus olhos tristes,
Há muito,
gritavam:
Solidão.
A solidão, sempre a solidão. Será que não havia ainda uma saída, uma frecha, um dia de sol, uma paixão, um filho, uma porcaria qualquer? Não sei... talvez não. Não sei... nunca soube.
ResponderEliminarÉ das coisas que mais me intriga e, ao mesmo tempo, das que melhor compreendo.
EliminarAcho mesmo que quem o faz é por não ver mais saída nenhuma.
É a decisão que mais respeito porque só pode estar envolta no sofrimento mais limite do ser humano.
É uma grande puta, a solidão!
ResponderEliminarMas não tem de ser carrasco.
EliminarE para algumas pessoas, infelizmente, acabou por ser.