Jumius Wong and Jack Wang
Dentro de ti está um monstro.
Mas não o vês.
Nasceu contigo mas dormiu este tempo todo.
No quente, dentro dessa moral intocável, dentro desse carácter vertical.
Dessa inquestionável atitude democrática.
Mas o monstro, que nasceu pequenino, sempre esteve aí.
Um dia, não se sabe quando, começou a crescer.
Talvez o tenhas soltado num dia de guerrilha genética.
Num daqueles dias em que chovia muito fora de ti e não sabias como te resguardar.
Esse monstro que guardavas dentro de ti terá sentido vontade de vir cá fora para te agasalhar.
E agasalhou.
Soube-te tão bem sentir esse escudo que nunca mais escondeste o monstro dentro de ti.
Ficou acordado, em sentinela, a ver quando te voltavam a atacar.
Mas o monstro, que não tinha sido amestrado, não sabia distinguir os alarmes.
Ora reagia a um soluço de palavras como a uma tempestade de poderes.
Ora empunhava a retórica a um elogio como a um desaforo.
O monstro não sabia que existiam coisas que se diziam por bem e outras que se faziam por mal. E tu nunca o ensinaste.
Ocupado a olhar para o teu reflexo no espelho, sempre cheio de ti mesmo, nunca percebeste que o monstro que alimentavas se estava a virar contra ti. Nunca reparaste nas sombras que arrastavas.
As guerras travadas pelo monstro em teu nome começaram a crescer, a ser cada vez mais duras, mas tu, tu nunca paraste para o ensinar que há adversários com quem não se luta.
Nunca lhe disseste que quem nos dá a razão à vida nunca pode ser dilacerado.
Ele lutava com o teu rosto, no teu corpo, ao comando da tua voz e tu, tão perdido a olhar para ti mesmo, nunca viste a dimensão das garras desse monstro a ferirem quem não devia.
A reagir a um sinal de alerta que não existia.
Um dia, num insuspeito dia, quando te dirigiste ao espelho para veres o que havia mudado em ti, não encontraste o que querias.
Tu já não eras tu, e o monstro que, até então, apenas tinha vivido dentro de ti, sugou-te o reflexo. Sugou-te as memórias, as lembranças boas, as pessoas que eram tuas.
Tu já não existias nesse reflexo, mas apenas aquele monstro que começou pequenino dentro de ti e agora, afinal, eras tu.
Dentro de ti está um monstro.
E cá fora também.
E apesar de tudo estamos sempre a tempo de mudar.
ResponderEliminarQuem é que não tem um monstro por dentro?... ;)
monstro que se resguardou, cresceu até ter força para dilacerar! de dentro para fora!
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