Irving Penn
Há muito que me agarrei-me à farinha, ao fermento e ao sal e fiz um pão. Amassei lentamente uma massa que se colava aos dedos e que, queria eu, havia de tomar a liberdade de se soltar de mim. Continuei a enrolar os pulsos sobre ela até que ela me pedisse para parar. A massa sabe sempre quando está pronta. Por mais que se queira ou não queira, a massa sabe quando se deve soltar das mãos. Não serão as mãos nem os pulsos a mandar. Não será a vontade de quem amassa.
Tantas outras coisas na nossa vida que são assim. Que parecem ser controladas pela nossa vontade mas, afinal, resolvem-se quando decidem resolver-se. Uma mudança de trabalho, uma nova paixão, uma lotaria que tinha de acontecer, uma morte inesperada. Não mandamos em nada.
Percebi que existe uma janela de tempo, por vezes imperceptível, que decide o rumo da história. Existem uns instantes tão breves que, se não lhes prestarmos a devida atenção, podem fazer com que o pão fique cru ou demasiado cozido. Ou que nem se chegue a soltar das mãos. É como aquele olhar que se desvia por dois segundos e quando se volta com os olhos, o pão já foi todo comido e não resta nada.
Quantas vezes fiquei parada, a olhar para a porta do forno, com o pão na mão, com a sensação de que deveria ter entrado mais cedo? Quantas vezes percebi tarde de mais que de nada valia a pena meter o pão tão cedo no forno porque a massa já ia estragada?
E a vida é toda assim, um pão que leveda ou não leveda conforme a natureza demanda, e nós nada podemos fazer além de o ver cozer-se ou não, sem qualquer interferência.
E por isso há dias em que comemos um pão bom e outros em que comemos a massa crua, a colar-se aos dedos e a negar-se à boca. Mas assim tem de ser, porque assim a vida o decidiu.
Não mandamos em nada.
Comecei um ano assim, sem esperanças, sem decisões, sem mandar em absolutamente nada.
E a vida é toda assim, um pão que leveda ou não leveda conforme a natureza demanda, e nós nada podemos fazer além de o ver cozer-se ou não, sem qualquer interferência.
E por isso há dias em que comemos um pão bom e outros em que comemos a massa crua, a colar-se aos dedos e a negar-se à boca. Mas assim tem de ser, porque assim a vida o decidiu.
Não mandamos em nada.
Comecei um ano assim, sem esperanças, sem decisões, sem mandar em absolutamente nada.
As decisões só se tomam quando as dúvidas aparecem. Pôr ou não o pão. Comer ou não o pão. De nada vale sofrer por antecipação, mesmo que as decisões antecipadas sejam boas.
ResponderEliminarComo todas as vidas. A única diferença é que algumas pessoas tentam enganar a vida com promessas.
ResponderEliminarQue 2015 te seja benéfico, DC!
Beijinhos.