2.4.15

Não-Poesia

Étienne-Jules Marey


Muitas vezes debato-me internamente por perceber o que é a poesia.
Não o poema.
O poema é a forma escrita.
Todos podemos fazê-lo: escrever em poema.
O que me apoquenta é a poesia: o sentimento atribuído ao poema.
E porque é que esse dom parece estar destinado a tão poucos.
Onde se adquire, quando, como, o dom de atribuir sentimentos às palavras?

Muitas vezes debato-me internamente por perceber o que é a poesia.
E até mesmo o poema.
O poema que devia ser mais do que a forma como é escrito.
Pelos vistos todos podemos fazê-lo: escrever qualquer coisa.
O que me apoquenta é a falta de poesia: a falta de sentimento num poema.
E porque é que alguns insistem em pensar que esse dom lhes foi atribuído?
Onde se perdeu, quando, como, o dom de atribuir sentimentos às palavras?

Muitas vezes debato-me internamente por perceber o que é a poesia?
E o que é um poeta.
Um poeta é a pessoa que atribui sentimento ao poema escrito.
Seremos por isso todos poetas: os que escrevem?
O que me apoquenta são os poetas: sozinhos acreditarem que o são.
E porque é que mesmo sem esse dom insistem em escrever?
Como, quando e porque escrevem para o mundo mesmo sem ter esse dom?


Estou num dilema.
Não compreendo a poesia contemporânea.
Debato-me internamente para perceber o que é.
Talvez me falte o sentimento.



4 comentários:

  1. surpreende-me sempre cada vez que escreves :)

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    1. Oh Cristiana, e a mim surpreende-me que me continues a ler, já lá vai tanto tempo.
      Fico muito contente, de verdade.
      Obrigada.

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  2. Não te falta o sentimento. Tens é sentimento a mais.

    Beijos. :)

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    1. O que também pode ser uma patologia gravíssima.
      Pode não, é!

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