5.3.13

As cartas que não receberás




"Ali estava ela, graciosamente intrigante, passo ante passo. 

A luz incidia sobre ela conferindo-lhe um esplendor superior.

O mundo silenciou-se e afastou-se. O momento tornou-se intemporal. 
Observou-me enquanto a contemplava. Os nossos olhares entrecruzaram-se numa electrificante cumplicidade. 

"Faz-me voar, leva-me ao céu", transmitiu-me. Fui incapaz de lhe negar tal desejo e avancei na sua direcção. 

Lá foi ela...Livres, como sempre, partimos, cada um para seu lado."


Meu amor,

Tu não sabes, mas digo-te agora, que todos os dias te dirijo palavras de amor. Como estas que acima escreveste. Todos os dias penso em palavras. Digo-as. Escrevo-as. E são sempre essas palavras difíceis de dizer que me correm para o pensamento. Para a boca. Para as pontas dos dedos.
Escrevo-te cartas desde os primeiros dias em que me enamorei por ti. Escrevo cartas que nunca te envio por saber que ainda tenho de esconder sentimentos. Não me é permitido, ainda, amar-te assim. Não queres, ainda, que seja assim. E eu respeito isso. E por isso vou-te amando com as palavras e escondendo-as ao mesmo tempo.
As cartas que todos os dias te escrevo, são verdades que fogem de nós. São as verdades que sabemos que um dia terão de ser sangradas mas que, por agora, talvez por medo, preferimos ignorar.
Não sendo eu capaz de me conter e de chorar sozinha tantos desabafos, largo sobre o papel tudo o que te gostaria de dizer. Faz-me bem. Choro melhor assim. E depois passa e fica qualquer coisa de bom dentro de mim.
Por vezes penso em envolver todas as cartas numa folha de papel pardo, atá-las com um fio de sisal e enviar-tas por correio. Logo depois arrependo-me por saber que esse gesto dramático te afastaria de mim e me roubaria os longos anos que ainda espero ter contigo.
Mais uma vez engulo. Seguro as cartas. Encosto-as todas ao peito. E fecho os olhos e penso em ti. Nessa altura sei, que ainda não chegou o momento.

Sei que estas palavras que escreveste não foram para mim.
Não importa.
O que me deixa de peito abatido, é saber que nunca sentiste o mesmo impulso para me dirigires palavras idênticas. Nunca, diante dos teus olhos, se revelaram os sentimentos que exprimiste naquelas palavras. Ainda não.
Derruba-me saber que não te sentes arrebatado daquela maneira novamente.
Sopra uma brisa que diz, que nunca me escreveste palavras assim, porque não sentes o abalo do coração. Porque não me amas assim.
E permanecerá para sempre a dúvida se algum um dia me amarás.
Terei sempre por cima do meu ombro a sombra da pessoa a quem amaste desta maneira e que te fez flutuar, sair dali, e nunca mais esquecer que quando o coração ama, as palavras saem escritas, pelas mãos.

Gostava de acreditar que um dia, também eu, merecerei palavras escritas assim.




12 comentários:

  1. As tuas palavras fazem sorrir, de forma por vezes triste. Bonito, muito.

    R.

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    1. Nem eu o saberia descrever tão bem como acabaste de fazer.
      É isso mesmo: sorrio de forma triste.

      Bj

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  2. E porque o mar é azul, hein?

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  3. olha lá essa autoestima!!!!! ;)

    beijo

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  4. Fica vazio (e sem fundo) esse lugar onde se ama platonicamente,
    e fazem-se cordas, os Abraços que não podemos dar.

    Sufoca..., saber a dois passos, e só em Sonhos tocar_

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  5. Dias Cães6.3.13

    está maluca, ou faz-se?

    Eu completei e disse que não era maluca e sim mais uma das muitas adoráveis admiradoras do "Narciso" a levantarem-lhe o EGO, uma cordoreisinha.
    Obviamente que como palerma vaidoso que é, não publicou.

    Rosa cem Cueca

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    1. Os comentários parecem ser um mundo paralelo no universo dos blogs.
      Já me recusaram muitos comentários e eu também já tive de recusar alguns. Isto é mesmo assim, cada um manda no seu espaço.
      E já me aconteceu ter comentado e, logo depois, enviar email ao blogger em questão a pedir para não publicar. A este mesmo blogger onde deixei essa resposta do "está maluca, ou faz-se". E ele fez o que eu pedi e foi bastante educado.
      Em causa estava uma resposta que deixaram a um comentário meu, situação semelhante a esta, mas que achei por bem não dar continuidade.
      Para ser mesmo, mesmo, sincera, hoje decidi que vou deixar de comentar onde quer que seja. Já o tinha feito em relação a alguns blogs mas hoje a decisão alargou-se.
      Não gosto que me gozem e não acho que os blogs sejam apenas blogs. Somos pessoas.

      Beijo para ti

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  6. Há sempre aquela dúvida se o amor é mesmo amor... Sufoca-nos de tanto nos encher o coração e só queremos que o outro sinta esse sufoco também!!

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    1. Há pouco tempo no Shiuuuu... alguém segredava que a namorada gostava mais dele do que ele da namorada.
      Alguém respondeu que havia de ser difícil descobrir de quem era aquele segredo porque isso era o que se passava em quase todos os casais.
      E creio que é assim que é suposto ser mas, a verdade, é que nunca queremos que aconteça dessa maneira connosco.

      Bjs

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