"Mentiria com quantos dentes tenho se não te dissesse que o mundo é quadrado.
Se te dissesse que a minha felicidade se faz da tua e deste nada que nasceu entre nós, era apenas uma pequena mentira, daquelas que se dizem para os corpos descansarem como merecem.
Não penses mais em mim como aquele que um dia foi o teu lugar. Como aquele que te dizia todas as mentiras que te faziam dormir a acreditar... Pen sa antes no seguinte: por mim, existimos com o único propósito de deixar de ser. Experiências penosas, mas necessárias, ou libertadoras, se conseguires pensar no mundo, em vez de só pensares em ti. Se pensares que a dor que te atravessa é um mísero tremor perante um mundo que, no final, apenas tem por destino acabar, o que para mim sempre fez todo o sentido. No fundo, quero dizer que, como um bebé indesejado, fonte de elo eterno, ligação ininterrupta, não nos podemos ter.
O mundo não nos quer. Eu não te quero. E dentro de ti espero que encontres essa razão embrulhada em fantasias, de que juntos, seremos como um animal morto que se debate para voltar a uma vida que já não existe.
Acabo estas linhas, afiadas como facas. Embora não com o propósito de te magoar, sinto que é a única maneira de te fazer entender isto. Morreste no último dia de Maio."
Escrito a quatro mãos, com alguém cujas palavras e sentimentos admiro, numa noite em que falámos de tulipas, de vida e de morte.
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