17.10.13

O que eu não te disse sobre a solidão




Quando te falei da solidão, não encontrei as palavras certas.
Estava tomada pela emoção de umas lágrimas que se escondiam dentro de mim. Dentro da dor que se tornou admitir tanta solidão. Falei-te, por isso, com ideias vagas. Com palavras perturbadas e sem história, incapazes de construir as imagens que me correm nos pensamentos. Não te consegui dizer que a minha solidão se faz de muita gente. Dos espaços vazios entre tanta gente. Que me vejo rodeada de todas as pessoas que conheço mas profundamente vazia e só.

Quando te falei da solidão não te expliquei que a minha solidão não se faz exactamente das pessoas. Faz-se dos vazios entre as pessoas. Que a distância entre nós não está num corpo que vive longe do outro. A distância entre nós, aquela que me faz sentir só, está entre aquilo que sei que não me dás e que aquilo que eu queria que me desses. Está entre a minha vontade de participar dos teus dias, das tuas decisões, da tua felicidade, e aquilo em que não me queres fazer participar. A minha solidão nasce dos momentos em que tu, eu e todas as pessoas que conheço, não se preocupam em preencher os espaços vazios. Não se preocupam em estar presentes mesmo sem estar.

Quando te falei da solidão não te disse que sinto que se demitiram de mim. Que, mais que não me encontrarem, não me procuram. Que mesmo que tu e todos estivessem ao meu lado, todos os dias, estariam ausentes de mim. Sinto que todos estão ausentes. Sinto que não sou correspondida na necessidade da partilha e da convivência dos outros seres. Sinto que, talvez, caminhe sozinha neste gosto pela companhia e pela preocupação com os outros. Não vivo apenas dentro de mim mas de todos aqueles de quem gosto. Sinto, contudo, que ninguém me quer dentro de si. Mais que isso, ninguém quer entrar em mim e fazer parte desta casa fria.

Quanto te falei da solidão não te disse que sei que apenas eu luto para que os outros não se sintam sós. Mas por mais que queira não exigir um retorno dessa preocupação acabo, inevitavelmente, a fazê-lo pela esperança de, um dia, alguém ouvir os ecos dos meus apelos.

Quando te falei da solidão, não te disse que sei que me abandonaste, porque já não me sentes parte de ti.




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