"O processo de construção de uma mandala é uma forma de meditação constante. É um processo bastante lento, com movimentos meticulosos. O grande benefício para os que meditam a partir da mandala reside no fato de que a imaginaram mentalmente construída numa detalhada estrutura tridimensional."
Olhando para dentro de mim, creio que sou uma pessoa mais espiritual que religiosa. Sem mal. Não nego absolutamente nada a minha natureza e educação católica mas sei que a minha espiritualidade é o que me torna mais intima de Deus. De mim. E este é ponto fundamental: sermos íntimos de nós próprios.
No entanto, neste momento, sinto-me desconcertada por dentro, longe dessa intimidade, com repercussões no que se vê por fora. Sinto-me destruída na moral, nos princípios, na auto-estima, no amor, nos sonhos. E por fora percebe-se, no rosto, no cabelo, no corpo, na mobilidade, na alegria, na destreza e, sobretudo, nos olhos que, eventualmente, serão um reflexo do que vai na alma.
Apesar de gostar pouco de me lembrar de Santa Bárbara apenas quando fazem trovões, é inevitável fazer renascer a minha espiritualidade apenas quando estou à beira da catástrofe. E nestes tempos sinto-me prestes a deixar-me levar por essa catástrofe. É uma destruição interior, entenda-se, mas que sinto como se fosse um tornado que levou todas as construções - mesmo as mais resistentes - dentro de mim. E quando existe este nível de destruição haverá sempre alguma coisa que se perde para sempre mas haverão muitas outras que se podem resgatar. Há que adquirir essa consciência em algum momento da tormenta ou tudo estará perdido.
Quando alcanço a consciência deste estado de alma, passo primeiro por uma fase de desnorte, depois de ansiedade, depois de depressão e, finalmente, passo para uma fase de decisão. De actuação. É aquele momento em que sei que os prumos têm de ser alinhados. E, conhecendo-me, sei o que tenho de fazer. Tenho de voltar a olhar para dentro de mim e reconstruir-me. Colocar as peças no lugar. E posso consegui-lo de diversas maneiras, todos podemos, mas comigo essa reconstrução passa por exercícios de introspecção. Meditação, se assim lhe preferirem chamar. Apesar de muito se falar de detox, de alimentos novos, de exercício físico, de terapêuticas de relaxamento, sei que comigo o problema se resolve de dentro para fora e não o inverso. Não critico quem o faça mas na minha maneira de ver o mundo, o certo é começar uma casa pelas fundações e não pela decoração.
Por isso, e valendo o que vale - que será pouco -, recomeço hoje a minha viagem interior para repor os estragos. Reencontrei-me com a música que me faz sentir bem, com as horas de sono que preciso, com a meditação que vai demorar a ser feita mas que passou a prioridade e com os exercícios mentais, de lógica, raciocínio e relaxamento. Reencontrei-me com as mandalas, que em tempos julguei tontas. Hoje não passo um dia sem fazer uma. E faço-as porque são uma boa metáfora para os problemas interiores, os problemas da vida: começa-se obrigado, o desenho começa quase sempre mal e com pouca paciência, depois vai ganhando forma e entusiasmando, depois volta-se a ceder à pressão, pensa-se em desistir, mas com a persistência ganha-se novo vigor. Há o momento de êxtase. Depois passa-se a batalhar pelo objectivo: terminar a tarefa e alcançar a perfeição.
Tal como a vida, uma mandala demora tempo a concretizar-se. Exige rigor, concentração, avaliar os riscos, evitar os erros, fazer planos, projectar no futuro. É uma pequeno exercício com escala monumental.
Aprendi ainda pequena, com a minha catequista, que intimamente é muito importante sentirmos que temos a casa arrumada para recebermos as visitas. E se a visita formos nós próprios, então, não devemos poupar nos esforços e limpar tudo o que ficou estragado e abrir uma janela nova para deixar entrar uma corrente de ar que há muito estava parada.
Ela tinha razão. E ainda bem que eu nunca me esqueci.
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