29.12.16

Baby Blues e Diet Blues

 


Recuperar rascunhos | 2016 #3

2 de Janeiro de 2016

Estou de dieta... mais uma vez.
E hoje, dei por mim tão deprimida que pensei: "porra, parece que acabei de parir e só me apetece fugir de casa e dar a cria para adoção".

E lembrei-me de como isto é parecido com os baby blues das minhas amigas que foram mães.
Eu já estou velha, por isso as minhas amigas já foram quase todas mães (enquanto elas passaram estes anos a ser mães eu passei-os a fazer dietas) e eu bem sei que todas, quase todas, tiveram os seus baby blues (isto para ser simpática) e depressões. Depressões pós-parto, durante-o-parto e antes-do-parto.
Não vale a pena esconder. Ou melhor, vale a pena esconder porque são dores que, por estranho que pareça, sabem bem ser sofridas sozinhas. Há muita gente que não compreende, sobretudo, a geração daquelas que são agora nossas mães. Acham que é tudo frescura (mas na verdade é amargura porque na altura também sofreram mas tiveram de se fazer mulheres à força e agora querem fazer o mesmo com as filhas. Adiante).

Estive aqui a analisar os pontos de contacto entre os Baby Blues (BB) e os Diet Blues (DB) e corrijam-me se eu estiver enganada porque, bem vistas as coisas, ainda só estive de um lado da barricada, mas parece-me que isto anda ela por ela em termos emocionais:

1º - Entras nisto porque queres (só que não)

BB - Não estarei longe da verdade se disser que para uma boa percentagem das mulheres ter um bebé ainda pertence à lista de coisas para fazer durante esta vida, porque pensamos que nos vão fazer felizes e completar como mulheres e seres humanos. Associamos um bebé ao amor por um homem, queremos saber o que é gerar vida e (quanto a mim aqui é que bate a questão) há toda uma expectativa da sociedade em que contribuamos para a continuidade da espécie e, se não o fizermos, seremos as filhas da puta que estragaram o jogo. Assim-como-assim, mais vale ter um filho, que até deve ser bonito, e garante-se a continuidade da vida e alguém que nos acompanhe na velhice (façam conta com isso façam).

DB - Todas as mulheres querem ser magras. As que já são querem continuar a ser, as que não são querem sê-lo. É mentira, MENTIRA, quando uma mulher gorda diz que gosta de ser assim, e que se aceita e ama o seu corpo como é. É tão mentira que é vê-las passado uns tempos, magras que nem alhos franceses, a meterem as culpas no acaso. E as que nunca chegam a ficar magras foi porque nunca conseguiram pelas mais variadíssimas razões. E podem mesmo ser milhões de razões. Por isso, Quando entramos num dieta de cabeça, é uma decisão tomada de forma consciente e firme. Não podemos culpar os outros ou dizer que fomos obrigadas. Iniciamos esta viagem, direitinhas ao fosso do Diet Blues, porque queremos muito alcançar algo mas nunca nos sai da cabeça que se estivéssemos sozinhas no mundo não precisávamos ser magras e que, na verdade, e mais uma vez, só o fazemos porque há uma sociedade (essa entidade anónima) que nos pressiona a ser perfeitas.

2º - Tens a primeira consulta pré-objetivo

BB - Se a coisa for programada o ideal é ir antes a uma consulta. Se não for, já percebi que vai dar ao mesmo porque os médicos não ligam ponta a um teste positivo de uma gravidez de meia-dúzia de dias. Por isso ainda estou para perceber a cena de preparar a gravidez. Anyway... A primeira consulta é aquele excitex. A pessoa pensa que vem aí o melhor do mundo. Foda-se! Espetacular. Um bebé! Um bebé para sempre!!!! (sim, a pessoa não se lembra que depois eles crescem) Um amor para sempre!!! Tudo para sempre... sempre... sempre... sempre... que bom que é o para sempre.

DB - A pessoa primeiro tenta sempre sem ajuda. Afinal de contas toda a boa gente sabe que a receita para o sucesso está em fechar a boca e dar ao rabo. Mas depois há aquelas que são conscientes e que já andam nisto há muitos carnavais e sabem que não vão lá sozinhas e precisam de um polícia para as meter na linha e, por isso, decidem ir a uma consulta com um nutricionista. A primeira consulta é aquele excitex. A pessoa pensa que vem aí o melhor do mundo. Foda-se! Espetacular. Diz-me que eu daqui a um mês já devo ter menos 4kg! Nem acredito. E daqui por dois meses já tenho menos 10 kg. Txiiiiii! Estou que nem posso, porque é que não vim antes. E é desta que eu vou ficar magra para sempre. Sempre... sempre... sempre... que bom que é o para sempre.

3º - A avaliação da primeira semana

BB - A criancinha já nasceu. Vamos fazer esse suponhamos uma vez que em princípio só há BB's quando a criancinha nasce. Ora a criança está cá fora. Que bom que alegria. Era mesmo isto que eu queria. É meu, só meu e do paizinho. É a minha cara, é a cara dele. É a alegria desta casa. Só que não. Eu não conheço este puto. Eu tinha uma barriga há uma semana que cresceu durante nove meses e agora querem vender-me que era isto que estava lá dentro? Nah, nah, nah... vamos lá com calma. Eu tinha uma barriga, não tinha um bebé. Podem dar-me tempo para eu me habituar? Para eu pensar no assunto? Para eu conhecer esta pessoa que me puseram nos braços e esperam que eu conheça há imenso tempo? Sabem, eu também nunca o tinha visto, tá??? Instinto maternal o quê? Ah, tá, sei... 
(Vou ali trancar-me na casa-de-banho a fingir que estou a fazer um cocó que demora cinco horas só para me deixarem em paz um bocado, ok?). Acabou-se o para sempre... sozinha... não foi? Já não quero brincar mais a isto, posso desistir?

DB - O para sempre acaba quando? Só me apetece comer uma lasanha do LIDL e acabar com uma taça de Cérelac. A sério que só passou uma semana? Um mês? Perdi quanto??? 100 gr? Mas não me tinha dito que perdia 4 kg no primeiro mês? Não fiz nada de errado, juro! Só comi saladas e sopas, evitei os hidratos depois da 5 da tarde, e bebi 3 litros de água todos os dias. Quê? Coca-Cola? Nunca! (a zero não conta pois não?).
O melhor é ir comprar um comprimidos de CLA à Parafarmácia que isto assim não vai lá. É preciso ajudar com exercício físico? Subo imensas escadas no trabalho, juro que me mexo imenso.
Já não quero brincar mais a isto [fui ao LIDL].


4º - Passou a segunda semana, mas já queres estar no sexto mês

5º - O médico dá-te na corneta e não fazes birra

6º - Voltas a entrar na linha

7º - Finalmente o dia D

8º - Foda-se... e agora?

9º - Posso desistir?


(E isto tornou-se tão extenso e chato que até eu me fartei. Era aquele post impossível de acabar. 
Deixo ainda a nota, que julgo necessária,  sobre a data em que foi escrito.  À data,  eu ainda não estava grávida (mas não havia de tardar) e por essa razão escrevi na ótica de uma mulher que nunca o tinha estado.  Dêem por isso,  se assim o entenderem,  o devido desconto). 



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