29.12.16

Império dos sentidos



Recuperar rascunhos |2016 #2
Março 2016



Um destes dias, numa daquelas sessões de zapping irracionais quando se tem duzentos canais à escolha mas não se gosta de nada, lá acabei por assentar arraiais no óbvio, e nunca decepcionante, canal 2 (ou RTP 2 ou II, já nem sei...).
Ora bem, na informação da programação dizia-me que tinha começado há coisa de quinze minutos o filme "Império dos Sentidos", e eu pensei cá para comigo, entusiasmada, "que cena porreira, vou aqui ver um filmezinho para me entreter o resto da noite e ainda por cima um clássico daqueles imperdíveis mas que nunca vi! Que sorte!".
Bom, na realidade, isto foi depois de eu perceber que não era o "Império do Sol", coisa que demorou uns dois minutos (eu sei, eu sei...) mas que também não me estava a cair mal porque também era um clássico que precisava arrumar na minha prateleira. Enfim, não foi nesse dia, será noutro.

Mas dizia eu que, finalmente, vi esse grande, gigante, e incontornável clássico do cinema mundial que é o "Império dos Sentidos".
Pois que vi, não mais que vinte minutos.
E pergunto: senhores, mas o que é aquilo?
Que selvajaria fora de época é aquela?

Vamos a ver se me consigo fazer explicar.
O meu cérebro, que estava calmo e sereno naquela noite, ao ver na programação um filme que imediatamente reconheceu como um clássico que, inexplicavelmente, ainda não tinha visto, posicionou-se para ver qualquer coisa entre o "E tudo o vento levou" e o "Hiroshima meu amor", porém, não foi isso que aconteceu.
Em menos de nada, sem avisos prévios, estava o fulano montado na miúda franzina e quando esta se levantou ainda papou a velha que estava a lavar o chão como se andasse por ali a ver montras, numa do "disfarça que eu assobio", e foi tudo de empreitada. Era novas, velhas, cães e gatos e o que mais houvesse.
Entretanto a franzina, de seu nome Sada, que também não é boa das ideias senão não alinhava naquilo tudo e, se eu ainda tive alguma pena da rapariga nos dois primeiros minutos de jogo, a pena passou-me logo quando vi que ela batia o meio-dia às onze, ainda vende o corpinho a um velho rico que, valha-nos o Deus das gueixas, nem às múmias fazia inveja.

E no que mais é que este filme me atarantou?
É que aquilo às tantas mete pipis e pilinhas à descarada no meio de kimonos, mas com uma imagem antiga, típica de uma película dos anos 60 mas com pornografia barata dos anos 90. E isto é confuso, caramba!
Ou se bem que é um filme antigo, um clássico, ou se bem que é um filme porno. As duas coisas misturadas dá mais confusão que uma salada russa envolvida em leite condensado.
Alguma coisa, ou muitas coisas, não estavam a bater certo naquele filme. Cheguei, então, àquele ponto em que comecei a abrir a mente, a reposicionar-me e a tentar arrumar o filme numa categoria entre o erótico, o porno, a banda desenhada, o drama, e qualquer coisa do Hitchcock (há sempre um momento nos filmes do Hitchcock em que meto a mão à frente dos olhos) mas tive muitas dificuldades em organizar-me e desprender-me da ideia de que afinal já não ia ver um clássico nipo-naïf e que as mãos à frente dos olhos só se fosse para não ver as partes pudibundas do amante velho da Sada e da criada que gostava de festa da grossa.


(Isto era para continuar mas faltou-me o fôlego naquele dia e hoje falta-me o talento para o acabar...)



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