Aos 16 anos dizia, com sentimentos entre o orgulho e a vergonha, que nunca tinha tido uma ressaca. Achava bonito declarar isto quando todos os outros andavam à descoberta dos limites do corpo. Como sempre soube que os meus limites eram logo ali, optei sempre pela postura do "sim, sou saudável, e depois?". Mentirinha foleira, está-se mesmo a ver. A questão é que me faltava a coragem para os excessos com medo de ser apanhada pelos papás ou alguém conhecido deles. Como se não fosse normal aos 16 comportamo-nos como uma pessoa de 16. Mas não. Eu insisti, e às vezes ainda insisto, em viver num corpo de 16 com uma cabeça de 60 e, portanto, aos 16 achava que devia ter uma conduta de uma pessoa idosa... Santa parvoíce! Afinal, agora, percebo que não há condutas de gaita nenhuma indicadas para idade nenhuma. Mas adiante. A descoberta do corpo e dos limites do nosso organismo foi coisa que deixei entrar na minha vida já ia nos vintes e qualquer coisa e, por essa altura, já não achava cool manter uma postura à parte daqueles que se deixavam desgraçar numa noite de copos. Apesar de não ter sido uma coisa agendada, à semelhança de tantas outras coisas na vida, percebi que tinha de me dar espaço e liberdade para quando uma oportunidade surgisse. O mal foi começar. Claro que houve a primeira noite de copos para além da conta, claro que me enrolei forte e feio com o sexo oposto só porque o calor era tanto que tinha de o acalmar, e claro que a partir daí nunca mais dormi uma noite tranquila. Este suporte de alma, que é o corpo, tem um temperamento lixado e não deixa para lembrar amanhã os erros cometidos hoje. Enquanto o respeitei ele respeitou-me. Quando o pus à prova ele mostrou que a sua dimensão me controla e que eu não sou mais que um monte de células facilmente destabilizáveis. O corpo é um pai educador. Permite que erremos, por mais que lhe custe, para no dia seguinte termos de ser nós a lidar com a situação. Chama-se aprender. Chama-se educar.
No dia seguinte, àquele em que os copos deviam ter tido um limite, o nosso "pai corpo" só vem dizer: "eu avisei-te". É bonito mas não consola. Sabemos que é verdade mas só até passar a indisposição. E já não nos iremos lembrar quando, um tempo depois, o contexto nos empurrar para o mesmo cenário.
A ressaca é lixada, mais para uns que para outros, mas não deixa de ser a madrasta que anda a comer o nosso pai.
Mesmo assim, o meu corpo castiga-me pouco, para os limites a que o sujeito. Hoje estou para morrer. Hoje sinto-me morrer. Estou de ressaca. Já deve ter dado para topar. Estou de ressaca de 40 dias de excessos sem parar. Demorei 40 dias a bater no fundo. 20 pontos para a senhora do cabelo preto! Bela performance!
Depois de 40 dias, sem as 40 noites que lhe respeitam, acordada sem deixar o corpo ter o merecido descanso, estou a ser punida por testar o meu limite.
Pois é verdade. Não falo de coisas ilícitas como podia parecer. Essas nunca foram a minha praia e mantenho-me fiel à minha caretice. O meu excesso foi sempre com o trabalho. O meu excesso foi sempre querer roubar ao sono para dar ao trabalho. Se pensava que um deles me iria agradecer, agora sei que para ser feliz com um tenho de ser amante do outro e esta é, provavelmente, a relação a três mais tolerada do planeta. Eu, o trabalho e o sono.
Hoje estou ressaca do trabalho. Do excesso a que me sujeitei sem ninguém me obrigar a isso. Estou a ressacar pelo motivo mais sem graça que podia existir, porque, afinal de contas, não há aspirinas para isto e nem cheguei a ter a parte boa de hoje acordar e não me lembrar de nada.
Eu tive a primeira e única ressaca depois dos trinta. E foi por azar. Por inexperiência (ter jantado as 18:30 e nunca mais ter comido nada, beber duas bebidas as 23:30, não ia dar coisa boa).
ResponderEliminarNão gosto de bebidas alcoolicas (questões de palato). Somente entra a custo Bacardi Lemon com sumo de limão. E, tal como tu, nunca cedi a pressões aos 16, 17, ..., nem nas queimas ou passagens de ano.
E sabes uma coisa? Tenho pena de saber o que é uma ligeira ressaca.
Parece que falo desse tipo de ressaca mas neste caso era mesmo ressaca do trabalho.
ResponderEliminarE como odeio ressacas de trabalho... antes fosse de Bacardi :)