“Meus queridos e muito-amados rapazes,
Não se iludam. Nunca planeei ter-vos. Nunca pensei em ter uma família convencional. Em ter um namoro longo, daqueles que perdem o sentido com o tempo. Em casar vestida de branco numa igreja cheia de falácias. Em ter-vos um ano ou dois depois de casar e ter cada um de vós com bonitos e regulares intervalos de dois ou três anos. Nunca me imaginei a perder noites de sono para vos amamentar ou, apenas, para vos contemplar a respiração. Nunca concebi deixar de gozar as manhãs de Domingo na cama com o vosso pai, perdidos em namoricos sem horários. As jantaradas com os amigos nunca me pareceram esgotáveis. A liberdade das férias e de viagens sem filhos nunca me pareceram em risco. Não achava engraçada a ideia de dividir um ordenado por outras vidas. Nunca sonhei quão bonito seria ver-vos crescer sob as minhas orientações e princípios e a tornarem-se em pessoas dignas. Nunca, sequer, tive a ambição de ouvir alguém chamar-me “mãe”.
Mas tinha outros planos para vocês, meus rapazes. Queria ter-vos para viver a experiência da maternidade, tal e qual pretendi viver outras grandes emoções na vida. Não era apenas pela maternidade propriamente dita mas porque não queria passar por esta vida sem saber o que é ser mãe. Não queria passar por aqui sem saber o que é conceber vida dentro de um útero. Sem conhecer a sensação de vos ter cá dentro, na relação mais intima e profunda que alguma vez existirá. Aquilo que nenhum homem, e nenhum de vocês, poderá saber o que é. Não queria viver sem sentir as dores de um parto. Sem conhecer a dor de vos ver sofrer e eu sofrer ainda mais por isso. Por não querer viver sem conhecer os ciúmes das namoradas dos meus filhos. Sem vos ralhar por começarem a fumar. Sem me entristecer por se esquecerem do meu dia de anos. Nem sem saber que o cordão umbilical se corta muitas vezes durante a vida e não apenas quando nascem. Quis sofrer esse corte também na vossa primeira queda de bicicleta, no primeiro dia que foram para a escola, na primeira vez que saíram de casa, ou quando me odiaram de todas as vezes que vos quis educar. Quis saber o que era viver com três corações fora do peito como uma fractura exposta ao mundo. Quis conhecer também as alegrias de um amor incondicional, e conhecer o prazer de vos erguer das quedas e dizer que no meu peito estarão sempre seguros. Quis saber como é chegar a casa e tê-la cheia. Quis conhecer, pelo menos uma vez na vida, o Natal com a alegria das crianças. Quis saber quão difícil é explicar a crianças que um adulto também chora porque tem medo.
Quis saber o que era ter vontade de dar a minha vida por alguém.
Meus queridos filhos, apesar de querer viver a maior aventura da vida de uma mulher, nunca vos tive porque me faltou o amor de um pai que insistiu em não aparecer. Fui incompetente no esforço que apliquei para vos, efectivamente, ter... Bem sei. Perdoem-me não vos ter chegado a conceber, mas faltaram-me os incentivos. Não vos pari porque não acreditei o suficiente numa aventura a quatro, quando as minhas convicções sempre me disseram que o quinto é indispensável.
Apenas vos garanto que fui uma boa mãe naquilo que pretendi. No que ambicionei fui a melhor! Não fui a mãe-amiga mas a mãe-educadora. Não fui a mãe-cúmplice mas a mãe-tolerante. Fui tudo aquilo que vocês me foram fazendo ser, conforme a história se ia escrevendo.
Mas fui a melhor! Vos garanto!
Ao Gaspar, ao Gustavo e ao Baltasar."
Mas tinha outros planos para vocês, meus rapazes. Queria ter-vos para viver a experiência da maternidade, tal e qual pretendi viver outras grandes emoções na vida. Não era apenas pela maternidade propriamente dita mas porque não queria passar por esta vida sem saber o que é ser mãe. Não queria passar por aqui sem saber o que é conceber vida dentro de um útero. Sem conhecer a sensação de vos ter cá dentro, na relação mais intima e profunda que alguma vez existirá. Aquilo que nenhum homem, e nenhum de vocês, poderá saber o que é. Não queria viver sem sentir as dores de um parto. Sem conhecer a dor de vos ver sofrer e eu sofrer ainda mais por isso. Por não querer viver sem conhecer os ciúmes das namoradas dos meus filhos. Sem vos ralhar por começarem a fumar. Sem me entristecer por se esquecerem do meu dia de anos. Nem sem saber que o cordão umbilical se corta muitas vezes durante a vida e não apenas quando nascem. Quis sofrer esse corte também na vossa primeira queda de bicicleta, no primeiro dia que foram para a escola, na primeira vez que saíram de casa, ou quando me odiaram de todas as vezes que vos quis educar. Quis saber o que era viver com três corações fora do peito como uma fractura exposta ao mundo. Quis conhecer também as alegrias de um amor incondicional, e conhecer o prazer de vos erguer das quedas e dizer que no meu peito estarão sempre seguros. Quis saber como é chegar a casa e tê-la cheia. Quis conhecer, pelo menos uma vez na vida, o Natal com a alegria das crianças. Quis saber quão difícil é explicar a crianças que um adulto também chora porque tem medo.
Quis saber o que era ter vontade de dar a minha vida por alguém.
Meus queridos filhos, apesar de querer viver a maior aventura da vida de uma mulher, nunca vos tive porque me faltou o amor de um pai que insistiu em não aparecer. Fui incompetente no esforço que apliquei para vos, efectivamente, ter... Bem sei. Perdoem-me não vos ter chegado a conceber, mas faltaram-me os incentivos. Não vos pari porque não acreditei o suficiente numa aventura a quatro, quando as minhas convicções sempre me disseram que o quinto é indispensável.
Apenas vos garanto que fui uma boa mãe naquilo que pretendi. No que ambicionei fui a melhor! Não fui a mãe-amiga mas a mãe-educadora. Não fui a mãe-cúmplice mas a mãe-tolerante. Fui tudo aquilo que vocês me foram fazendo ser, conforme a história se ia escrevendo.
Mas fui a melhor! Vos garanto!
Ao Gaspar, ao Gustavo e ao Baltasar."
De certeza que foste a melhor das mães: a mais terna, a mais aconchegante, a mais querida, a mais forte, a mais solidária, a mais perto, a mais sofredora, a mais atenta, a mais amorosa, a mais tudo...
ResponderEliminarMesmo sem o seres, mesmo sem o saberes, tens sido a melhor mãe do mundo
Beijos
Raul
Serei um dia, com certeza.
EliminarBjs
A Noites Caninas ainda é uma jovem e está muito a tempo da maternidade. Chegará o Pai, chegará a Hora...))
ResponderEliminarTexto muito bem parido. Parabéns e Beijo.
.
Salvador também era nome para alinhar num dos elementos da ninhada.
EliminarSabe bem como gosto do nome.
Beijo ;)
"Quis saber o que era viver com três corações fora do peito como uma fractura exposta ao mundo."
ResponderEliminarEstá lindo, lindo, lindo. Basta uma frase para ganhares o texto todo.
Fizeste a observação que entretanto muita gente tem feito.
EliminarE dizem sempre: "Concordo com o que um tal rapaz chamado Herético disse"... :)
E eu também concordo.
Bjs.
Há horas de sorte.....
ResponderEliminarGaspar, Gustavo e Baltazar saiu-vos o Euromilhões!!!!!!!
La Vie en Rose
Serei eu quem o vai ganhar se me saírem os três rapazes... O que eu gostava de ser mãe de três rapazes...
EliminarGostei muito... Obrigada!
ResponderEliminarPartilhamos uma visão da maternidade em tudo semelhante. ;) Beijos
Beta... Beta, que eu estou a pensar? :)
EliminarGosto de te ver por aqui.
E eu é que agradeço.
Beijinhos.
Como já é habitual neste blogue, aqui está mais texto fantástico. Parabéns!
ResponderEliminarMuito obrigada A.
EliminarBjs :)
Como sempre, acho o texto fantástico.
ResponderEliminarA riqueza do ser humano reside, também, na diferença, reconhecer e amar as diferenças, é preciso.
Eu, desde cedo, soube que queria casar e queria ser mãe.
E tive a felicidade de me cruzar com um pai que, apesar de diferente, queria o mesmo.
Beijo sexy,
Ana
É por causa de casos desses que eu sei que o meu dia também irá chegar... Como diziam ali em cima... Eu ainda sou tão jovem... :)
EliminarBeijinhos Ana.
Gostei muito, ao ponto de pontuar o meu gosto o que não me é muito recorrente enquanto consumidor bloguista.
ResponderEliminarApós leitura apenas me ocorreu a palavra saudade associada a palavras de Vinicius: Saudade de «poesia não vivida».
:)
Não me lembraria de melhor, mas é isso mesmo.
ResponderEliminarDeverei então dizer bem-vindo, ou já nos cruzámos por cá?
Bjs
Uma vez que aqui poisei (qual «cegonho» parisience), fico grato pelas boas vindas, apenas lamentando não vir provido dos rebentos almejados!
EliminarComo penitência,desejo-lhe, porém, três boas vindas! :D
Retribuo os simpáticos beijos
Eu como homem também gostaria de ser pai. Vou tentar com tudo lá chegar, nem que o faça adoptando alguém. Assim que, vês, o facto de tu própria não teres o "pai" certo ao teu lado não é conclusivo. O mais importante é teres amor para dar e uma vida organizada. Beijo.
ResponderEliminarOlha que equação fácil de resolver: tu queres ser pai + eu quero ser mãe = ....
EliminarAhahahaha... estou a mangar, logicamente!
Beijos ;)
E depois tudo adquire uma desconhecida, inquietante e entusiasmante dimensão.
ResponderEliminarBeijo
Ainda não te tinha desejado felicidades mas assim ainda tem um sabor mais especial.
EliminarGosto da visita!
É com toda a sinceridade que desejo as maiores felicidades e saúde para os três.
Porque os três passam a ser apenas um, e ninguém pode falhar.
Beijinhos <3
A sua escrita é notável, bem sei não serei original se lhe disser isso.
ResponderEliminar(apenas substituiria um dos rapazes, talvez o Gaspar, por uma Rita, que lhe daria uma outra dimensão de maternidade - as meninas são tão diferentes dos meninos...)
Não me importava nada de juntar uma Rita ao naipe, mas tenho um feeling que um dia, a acontecer, só me vão sair rapazes na rifa.
EliminarObrigada pela visita!