10.5.12

A trança de um homem



"O cabelo (do latim capĭllus) é cada um dos pelos que crescem no couro cabeludo (parte superior da cabeça do corpo humano). Há em média 3 milhões e meio de fios capilares em uma pessoa adulta e crescem em média 1 cm por mês. Diferenciam-se dos pelos comuns pela sua elevadíssima concentração por área de pele e pelo desenvolvimento em comprimento. Podem ser lisos, crespos, ondulados e de muitas cores. Os cabelos não servem só como um aliado estético (dando forma e valorizando o rosto) mas também funcionam como um isolante térmico, protegendo a cabeça das radiações solares e da abrasão mecânica. Também podem ser um indicativo de diversas doenças que se manifestam alterando sua estrutura."

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n Wipikédia



Cada laçada da sua trança, conta a história de cada um dos muitos países que palmilhou. Cada cabelo que lhe brota do escalpe, lembra-lhe cada uma das pessoas que conheceu. Cada fio solto, relembra-lhe as desventuras que deixou por resolver. Relembra-lhe o rosto de cada uma das pessoas com quem não concluiu um ciclo. De cada vida que divergiu da sua. Dos percursos que se cruzaram fugazmente e se afastaram ao mesmo ritmo. Das presenças que se tornaram em solidão. Das alegrias que se perderam na irrealidade das memórias. Soltaram-se muitos cabelos da sua trança com o passar dos anos, alguns puxados pelas suas próprias mãos. Queria sentir que a sua trança tinha história: a sua. 
Como as rugas num rosto, que mapeam os socalcos da vida, e denunciam o percurso de cada um, os seus cabelos lisos mas fortes como arames indicavam a forma como tinha vivido. Lembravam-lhe que tinha, absolutamente, vivido. Vivido de modo vivo. Vivido a vida vivendo-a. Vivido sem medo de viver. 
Por isso a sua trança começa robusta na nuca e estreita-se no seu desfecho. Começa agarrada e segura e vai crescendo solta, de ponta caída e entregue ao destino. Como a vida de um ser humano. Ele sabe que o fim da sua trança espelha o fim da sua odisseia pessoal mas orgulha-se mais do seu começo auspicioso. O fim será apenas a consequência inevitável de um percurso épico. 

Que parte de nós escancara a nossa vida? Que parte de nós reservamos para escrever a nossa história? Que parte da nossa vida mereceu ser escrita e ficar gravada, para sempre, na memória dos outros?

Qual de nós consegue ter uma trança de que se orgulha?





2 comentários:

  1. Percursos épicos merecem sempre fins-tragédia. Só os épicos sabem morrer em grande.

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  2. ... Só os grandes sabem morrer de pé...

    bj

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