Publico este texto a pedido da pessoa que o escreveu no dia em que a noite ficou mais escura e o mar não mais brilhou.
Força!
Era Dezembro e amavam-se quando deram o último beijo.
Ainda com os lábios e os olhos húmidos ele sentiu que seria o último que dariam. Despediram-se com um “até logo”.
Era Janeiro e ainda se amavam e partilhavam a vida.
Ainda com o verbo nos lábios e no coração ele renovava as suas juras de amor diariamente. Despediam-se com um “beijo grande meu amor. Dorme bem”.
Chegou Fevereiro e a aproximação.
Chegou Fevereiro e o distanciamento. Chegou Fevereiro.
Ela veio com uma onda espraiar-se nas costas que eram d’ele.
Ela foi com o mesmo mar que a trouxe. Ela era o mar.
Em duas luas as marés puxaram-na. Em quatro luas ele deixara de a ver.
Bastaram quatro luas de marés em novas costas para desaparecer.
A lua surgiu nova ao primeiro beijo.
O mar não pertence à praia. Ela não era d’ele.
Ela deixava-se entranhar e desaparecer nas areias d’ele.
Ele deixava-se poroso para permitir que ela o lavasse com o seu bálsamo.
Ele deixava-se sólido para que ela chegasse um pouco mais além.
Ela enrolava a areia na rebentação para levar um pouco d’ele mais além consigo.
Mas chegou Março, e o vazio…
O mar já só responde à lua.
A lua surgiu cheia quando o mar, por fim, se rendeu e se lhe entregou. E ele sentiu tudo...
No dia seguinte o mar deixou de naufragar naquela praia e foi-se cobardemente, sem explicações.
E ele tinha sentido tudo...
O mar cansara-se de se absorver nas areias d’ele.
O mar cansara-se de levar a areia d’ele um pouco mais além.
O mar agora queira seguir a lua e ser um mar oceano.
O mar quis acreditar na lua e seguiu-a.
A praia d’ele tornou-se um deserto árido do sal vertido.
Bastaram duas luas numa costa nova.
Bastaram duas para que a lua que lhe estava mais próxima a arrastasse para longe da costa que era a sua.
Bastaram quatro para se perder de vista.
Inevitavelmente outra corrente trará um outro mar a vir naufragar às costas da praia d’ele.
Inevitavelmente o mar oceano acabará por ser levado pela lua a embater em escarpas e falésias.
Assim são as leis da natureza. Sempre assim foram e sempre assim hão-de ser.
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